29 outubro 2020

O secretismo é a sua imagem de marca.

Do colaborador próximo de Salazar, aos atuais líderes políticos, foram muitos os que passaram por este clube secreto. Alguns estrelas em ascensão. Outros já estrelas cadentes.




Oficialmente, o Grupo de Bilderberg é um fórum para que os cerca de 130 participantes discutam livremente e ajudem a melhorar as relações entre a Europa e a América do Norte e já existe desde 1954. Mas o secretismo é a sua imagem de marca. Os jornalistas não são convidados para cobrir o evento, os convidados podem usar a informação — desde que não identifiquem quem o disse, ou a afiliação dessa pessoa — e todos participam como cidadãos privados (o acesso é feito exclusivamente por convite), mas o desfile de personalidades inclui várias das pessoas mais influentes do mundo. Este ano, em Portugal, é a vez de Fernando Medina e Estela Barbot acompanharem o já veterano Durão Barroso à conferência na Suíça, mas há muitos políticos no ativo que já passaram por estas reuniões: como o Presidente a República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro António Costa e o líder do PSD Rui Rio. Também há outros em cargos de maior destaque, como António Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas, e António Vitorino, alto-comissário da ONU para os Refugiados, e alguns caídos em desgraçada, como José Sócrates e Ricardo Salgado.

O primeiro português de que há registo que participou numa reunião do Grupo de Bilderberg foi Manoel Maria Sarmento Rodrigues, que foi ministro das Colónias e do Ultramar (1950 e 1951) e, entre 1961 e 1964, foi governador-geral de Moçambique. Este não foi o único ministro do regime de Salazar que participou na reunião. Alberto Franco, ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de Salazar também participou em 1967, 1968 e 1972.

Normalmente, Portugal tem tido entre um e três representantes nestas reuniões de três dias, que se realizam todos os anos num local diferente. A grande exceção foi em 1999, quando a reunião aconteceu em Sintra. Nesse ano foram convidados 10 portugueses, entre eles Jorge Sampaio, Presidente da República, Francisco Pinto Balsemão, antigo primeiro-ministro, Ricardo Salgado, presidente do BES, Artur Santos Silva, presidente do BPI, Murteira Nabo, presidente da PT, e até Nicolau Santos, na altura jornalista e diretor do semanário Expresso (e atual presidente da Agência Lusa).

O mais experiente nestas reuniões é, de longe, Francisco Pinto Balsemão, que foi convidado para fazer parte da reunião em 33 anos dos 67 em que esta se realizou. Francisco Pinto Balsemão foi membro do conselho de diretor do grupo de Bilderberg até 2015, altura em que passou a pasta a Durão Barroso, que já participou sete vezes na reunião anual. A primeira em 1994 quando era ministro dos Negócios Estrangeiros, a segunda em 2003 quando era primeiro-ministro, e as restantes já depois de sair da Comissão Europeia e passar a chairman do Goldman Sachs International.

Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal e ex-vice-presidente do Banco Central Europeu também foi convidado por três ocasiões: em 1977 e 1978 enquanto ministro das Finanças e em 1988 quando era líder do PS.

Mas a lista é longa e inclui muitos políticos no ativo e outros já no setor privado (ou na reforma). Do lado do PS, estão por exemplo António Costa. O atual primeiro-ministro foi convidado em 2008, quando era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, juntamente com Rui Rio, o atual líder do PSD, que era à data presidente da Câmara Municipal do Porto. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Inês de Medeiros, presidente da Câmara de Almada, Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, são alguns dos nomes dos lados socialistas que já foram ao evento no passado e ainda estão no ativo.

Mas há muitos outros nomes de socialistas que já não estão na vida política ativa, que passaram pelas reuniões desse grupo envolto em secretismo:
José Sócrates foi convidado em 2004 quando era deputado do PS. Pouco depois seria eleito primeiro-ministro de Portugal duas vezes. Saiu em 2011, depois de Portugal pedir resgate e é atualmente investigado pela justiça portuguesa.
António Guterres foi em 1990 quando era líder parlamentar do PS e novamente em 2005 já depois de ser primeiro-ministro. É o atual secretário-geral das Nações Unidas.
António José Seguro foi em 2013 quando era secretário-geral do PS. Hoje está afastado da vida política.
Fernando Teixeira dos Santos foi em 2010, quando era ministro das Finanças e menos de um ano antes de Portugal pedir o resgate ao FMI e à União Europeia. É o atual presidente do BIC Portugal.
Elisa Ferreira foi convidada em 2002 quando era deputada do PS no Parlamento português. É atualmente vice-governadora do Banco de Portugal.
Manuel Pinho foi convidado em 2009 quando era ministro da Economia do Governo de José Sócrates. Atualmente é professor de economia adjunto na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. E está a braços com a Justiça no caso dos CMEC.

Do lado PSD, há menos políticos no ativo, mas há mais sociais-democratas na lista que socialistas. Desde logo, Francisco Pinto Balsemão, que foi convidado pela primeira vez em 1981 e é o português que mais vezes participou neste fórum. No ativo, estão ainda Maria Luís Albuquerque, atualmente deputada do PSD, Paulo Rangel, eurodeputado pelo PSD, e Rui Rio, o líder do partido, podendo ainda contar com Marcelo Rebelo de Sousa. O atual Presidente da República foi à reunião de 1998, na Escócia, quando era líder do PSD. Entre os políticos do PSD que já não estão politicamente ativos, além de Francisco Pinto Balsemão e Durão Barroso, estiveram ainda nestas reuniões, entre outros:
Manuela Ferreira Leite foi convidada em 2009, quando era líder do PSD, já depois de ser ministra das Finanças. Está afastada da vida política ativa.
Paulo Macedo foi à reunião em 2014 quando era ministro da saúde. Atualmente é presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Nuno Morais Sarmento foi em 2005, quando era deputado do PSD e já depois de ter desempenhado funções de ministro de Estado e da Presidência. Continua a sua atividade como advogado e é vice-presidente do PSD de Rui Rio.
Jorge Moreira da Silva foi convidado em 2012, quando era primeiro vice-presidente do PSD. Mais tarde foi ministro do Ambiente e atualmente é diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE.
Pedro Santana Lopes participou na reunião em 2004, ainda como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas pouco antes de ser nomeado primeiro-ministro em substituição de Durão Barroso, que assumiu a presidência da Comissão Europeia. Atualmente desvinculado do PSD, criou o partido Aliança.
Fernando Faria de Oliveira foi convidado pela primeira vez em 1987, quando era vice-presidente da IPE, uma holding que geria as participações do Estado (entretanto extinta), e novamente em 1993, quando já era ministro do Comércio e do Turismo de Aníbal Cavaco Silva. É o atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos, e também foi presidente da Caixa Geral de Depósitos entre 2008 e 2011.

A lista é longa e inclui outras personalidades da vida portuguesa nas últimas décadas, como Ricardo Salgado, ex-presidente do BES e agora a braços com a justiça, e o seu tio, Manuel Espírito Santo Silva, um dos primeiros portugueses a integrar estas reuniões. Também Artur Santos Silva, ex-presidente do BPI e atual presidente da Fundação La Caixa. Mas também Paulo Portas, vice-primeiro-ministro de Pedro Passos Coelho.

Na história deste evento, foram ainda convidados quatro jornalistas. Nicolau Santos, na altura diretor do Expresso e atual presidente da Agência Lusa, Margarida Marante, uma das fundadoras da SIC, Clara Ferreira Alves e José Eduardo Moniz, à data presidente da RTP. Veja aqui a lista de todos os portugueses que participaram na reunião de que há registo:

2019:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
Estela Barbot, membro da administração da REN
Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa

2018:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
Paula Amorim, chairman do Grupo Amorim
Isabel Mota, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian

2017:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
José Luís Arnaut, managing partner da CMS Rui Pena & Arnaut

2016:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças de Portugal entre 2013 e 2015, deputada do PSD
Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp Energia

2015:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
António Vitorino, partner da Cuetracasas Gonçalves Pereira

2014:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Paulo Macedo, ministro da Saúde (atual presidente da Caixa Geral de Depósitos)
Inês de Medeiros, deputada do Partido Socialista (atual presidente da Câmara de Almada)

2013:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
António José Seguro, secretário-geral do Partido Socialista

2012:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD (mais tarde ministro do Ambiente do Governo de Pedro Passos Coelho e atual diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE)
Luís Amado, chairman do Banif (antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates e atual membro do conselho de administração do BCP)

2011:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Clara Ferreira Alves, jornalista e escritora
António Nogueira Leite, membro da administração da José de Mello Investimentos

2010:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Paulo Rangel, eurodeputado do PSD
Fernando Teixeira dos Santos, ministro das Finanças de Portugal (atualmente presidente do BIC Portugal)

2009:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Manuela Ferreira Leite, líder do PSD
Manuel Pinho, ministro da Economia e da Inovação

2008:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (atual primeiro.ministro de Portugal)
Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto (atual líder do PSD)

2007:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Leonor Beleza, Presidente da Fundação Champalimaud

2006:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
José Pedro Aguiar Branco, antigo ministro da Justiça e deputado do PSD
Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares (atual ministro dos Negócios Estrangeiros)


2005:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
António Guterres, presidente da Internacional Socialista e antigo primeiro-ministro de Portugal (atual secretário-geral das Nações Unidas)
Nuno Morais Sarmento, antigo ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, deputado do PSD

2004:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa
José Sócrates, deputado do PS

2003:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Manuel Durão Barroso, primeiro-ministro de Portugal
Eduardo Ferro Rodrigues, líder do Partido Socialista e deputado do PS (atualmente presidente da Assembleia da República)

2002:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
António Borges, vice-chairman e managing director da Goldman Sachs.
Elisa Ferreira, deputada do PS e antiga ministra do Planeamento (atualmente vice-governadora do Banco de Portugal)

2001:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Guilherme d’Oliveira Martins, ministro da Presidência
Vasco Graça Moura, eurodeputado PSD.

2000:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Teresa Patrício Gouveia, deputada do PSD

1999, Sintra, Portugal:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Joaquim Freitas do Amaral, deputado
João Gomes Cravinho, ministro das Infraestruturas e do Planeamento
Eduardo Marçal Grilo, ministro da Educação
Vasco de Mello, CEO do Grupo José de Mello
Francisco Murteira Nabo, CEO da Portugal Telecom
Ricardo Salgado, CEO do Grupo Espírito Santo
Jorge Sampaio, Presidente da República
Nicolau Santos, jornalista e diretor do semanário Expresso (atual presidente da Agência Lusa)
Artur Santos Silva, presidente e CEO do grupo BPI

1998:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Vasco Pereira Coutinho, Chairman da IPC Holding
Miguel Horta e Costa, vice-presidente da Portugal Telecom
Marcelo Rebelo de Sousa, líder do PSD

1997:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
António Borges, reitor do INSEAD
José Manuel Galvão Teles, fundador da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS) e membro do Conselho de Estado de Jorge Sampaio
Ricardo Salgado, CEO do Banco Espírito Santo

1996:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Margarida Marante, jornalista e membro da equipa fundadora da SIC
António Vitorino, ministro da Presidência e ministro da Defesa

1995:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Luís Mira Amaral, ministro da Indústria e da Energia
Maria Carrilho, professora de sociologia

1994:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Manuel Durão Barroso, ministro dos Negócios Estrangeiros
Miguel Veiga, advogado e fundador do PSD.

1993:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
Nuno Brederode Santos, membro do Partido Socialista e colunista do semanário Expresso
Fernando Faria de Oliveira, ministro do Comércio e do Turismo (atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos)

1992:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
António Barreto, sociólogo e antigo ministro da Agricultura
Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação e consultor do Banco Mundial

1991:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente
Carlos Pimenta, eurodeputado e antigo secretário de Estado do Ambiente

1990:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
João de Deus Pinheiro, ministro dos Negócios Estrangeiros
António Guterres, líder parlamentar do Partido Socialista

1989:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
Rui Machete, presidente da Função Luso-Americana, antigo ministro da Justiça.
Jorge Sampaio, secretário-geral do Partido Socialista

1988:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
Vítor Constâncio, líder do Partido Socialista e antigo governador do Banco de Portugal e secretário de Estado do Orçamento e do planeamento (viria a assumir novamente o cargo de governador do Banco de Portugal e posteriormente de vice-presidente do Banco Central Europeu).
Francisco Lucas Pires, eurodeputado e antigo líder do CDS-PP

1987:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Eduardo Moniz, diretor de informação da RTP
Fernando Faria de Oliveira, vice-presidente do IPE

1986:
Artur Santos Silva, presidente do BPI
Leonardo Mathias, embaixador de Portugal em Washington

1985:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Manuel Torres Couto, secretário-geral da UGT
Ernâni Lopes, ministro das Finanças de Portugal

1984:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
André Gonçalves Pereira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros (durante os governos de Francisco Balsemão)
Emílio Rui Vilar, vice-governador do Banco de Portugal

1983:
Francisco Pinto Balsemão, primeiro-ministro de Portugal
Rogério Martins, Chairman da Simopre e antigo secretário de Estado da Indústria

1982:
Rogério Martins, Chairman da Simopre e antigo secretário de Estado da Indústria
Alexandre de Azeredo Vaz Pinto, antigo ministro do Comércio

1981:
Francisco Pinto Balsemão, primeiro-ministro de Portugal

1980:
José Medeiros Ferreira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo constitucional liderado por Mário Soares até 1978. Co-fundador do Movimento Reformador.

1979:
Vítor Constâncio, ministro das Finanças de Portugal

1978:
Vítor Constâncio, ministro das Finanças de Portugal

1977:
José Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros do primeiro governo constitucional

1972:
Manuel Espírito Santo Silva, presidente do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) entre 1955 e 1973.
Alberto Franco Nogueira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de António de Oliveira Salazar

1968:
Alberto Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de António de Oliveira Salazar

1967:
Alberto Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de António de Oliveira Salazar

1966:
Manuel Espírito Santo Silva, presidente do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) entre 1955 e 1973.

1963:
Marcello Mathias, embaixador de Portugal em Paris (cargo que ocupou durante 24 anos) e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros

1962:
Marcello Mathias, embaixador de Portugal em Paris (cargo que ocupou durante 24 anos) e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros

1960:
Manoel Maria Sarmento Rodrigues, nomeado governador da Guiné em 1945, foi ministro das Colónias e do Ultramar (1950 e 1951). Entre 1961 e 1964 foi governador-geral de Moçambique.

1959:
Manoel Maria Sarmento Rodrigues, nomeado governador da Guiné em 1945, foi ministro das Colónias e do Ultramar (1950 e 1951). Entre 1961 e 1964 foi governador-geral de Moçambique.





Nuno André Martins
Jornalista

https://eco.sapo.pt/especiais/o-que-e-feito-da-elite-de-bilderberg-76-portugueses-foram-a-este-clube-secreto-em-51-anos/
 







05 outubro 2020

DIA NEGRO NA HITÓRIA DE PORTUGAL


Na madrugada do 5 de Outubro de 1910, o Palácio das Necessidades começa a ser bombardeado e o Rei em perigo e sem protecção de artilharia que havia sido desviada para fazer frente aos revolucionários da Rotunda, é aconselhado via telefone pelo presidente do Governo a ir para Mafra; o Rei recusa:

‘Vão se quiserem, eu fico. Uma vez que a constituição não me nomeia nenhum papel para além de me deixar ser morto, eu obedecer-lhe-ei.’

Mas os áulicos insistem e persistem e o jovem Rei anui. O Rei quase perde a vida quando uma granada é atirada contra o automóvel em que seguia a caminho de Mafra, ainda que não soubessem que nele seguia Dom Manuel II vestido à civil, contrariamente ao que pretendia, pois quis substituir o anterior uniforme de gala e vestir o uniforme de marechal-general do Exército, mas não o deixaram. Ao Rei já não deixavam reinar… sequer!

Às 22 horas a corveta D. Carlos cai nas mãos dos marinheiros revoltosos e a Monarquia caía com as ameaças de bombardeamento sobre as forças monárquicas.

A vontade de resistir do heroico Henrique de Paiva Couceiro, quase só, já não era suficiente para evitar o fim da Monarquia.

Apenas 60 homens perderam a vida nesse dia, o que mostra a insipiência dos combates. A Monarquia é derrubada! Ou melhor a Monarquia não caiu, deixaram-na cair.

No dia 5 de Outubro de 1910, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, José Relvas, acompanhado de por exemplo Inocêncio Camacho, proclama a república diante dos 300 ou 400 maltrapilhos das milícias carbonárias, mas perante a indiferença dos populares que passavam, muitos dos quais nem sabiam o que se tinha passado. Um dos que compunham a varanda vira-se para outro e exclama: ‘eles já comeram muito, agora é a nossa vez!’

Horas após o golpe revolucionário El-Rei Dom Manuel II e último de Portugal, juntamente com Sua augusta Mãe, Avó e restante comitiva de fiéis monárquicos, embarca numa barqueta de pescadores rumo ao Yacht Amélia onde os aguardava o Infante D. Afonso de Bragança.

‘Forçado pelas circunstâncias, vejo-me obrigado a embarcar no iate Real “Amélia”. Sou Português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que Ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer. Viva Portugal!’, declarou El-Rei O Senhor Dom Manuel II de Portugal.

O Rei deposto, mas que ainda não se dera por vencido olha o mar de frente, sem se despedir da Terra Portugal, que não imaginava, ainda, não voltaria a ver. Julgava ir para o Porto onde organizaria a resposta monárquica ao coup – daí ter pretendido abandonar o Paço de pequeno uniforme de generalíssimo, mas pouco depois o comandante do navio, ‘para segurança de Sua Majestade’, recusa essa responsabilidade até porque disse recebera ordens do presidente do Governo para rumar a Gibraltar; o presidente do Conselho era mais um repentinamente convertido em republicano, iniciando a que seria uma enorme onda de adesivismo, maculando-se todos esses traidores ‘monárquicos’ com um Crime de Lesa-majestade.
Os italianos recolheram a Rainha Dona Maria Pia e depois, já em Gibraltar, El-Rei Dom Manuel II e a Rainha Dona Amélia embarcariam no iate particular do seu primo o Rei George V do Reino Unido, encaminhando-se o último Rei de Portugal para o exílio em Inglaterra.

Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica

A República foi um desastre



O 5 de Outubro de 1910 não foi, como muito se ouve, nem a abertura de um ciclo de realização nacional, nem o início de uma era de concórdia, pelo que devemos começar por evocar um dos seus episódios mais sangrentos.

Em Outubro de 1918, vivia o mundo aterrado pela irrupção das duas pestes - a peste comunista e a peste da "gripe espanhola", metástases da Grande Guerra- e Portugal transido de fome e frio pela austeridade da guerra, mais o banditismo dos sicários de Afonso Costa pedindo desforra contra Sidónio e a sua polícia Preventiva. O "dezembrismo" sidonista descambara na anarquia repressiva, com polícias boçais agindo de moto proprio, sem rei nem roque, matando, espancando e intimidando quem se atravessasse no caminho (v. Artur Villares, a Leva da Morte).

A república estava tinta de sangue, fazendo jus à pedatura terrorista que se exibira com magnífica moldura de morticínios no 14 de Maio de 1915 - motim democrárico contra o chefe do governo Pimenta de Castro e contra o moderado Presidente Arriaga - e se aprimorara, entretanto, com a crescente pauperização e descalabro económico. A ordem nas ruas era tarefa das autoridades, mas estas foram delegando paulatinamente responsabilidades a grupos armados de apaniguados das facções no poder, ao ponto de não se saber mais quem agia por conta de quem. Ditadura, estado de emergência, filas de racionamento, desemprego e grande insegurança para pessoas e bens, era este o retrato do Portugal republicano oito anos após a implantação do regime. Foi neste quadro crepuscular, com acenos de messianismo no presidente-rei e sinais de angústia celestial (aparições de Fátima) que se deu a Leva da Morte. Ali para a Victor Cordon, um grupo de 153 presos políticos foi atacado por uma turba de adeptos de Sidónio. A chacina provocou sete mortos, entre os quais um dos famigerados mandantes do regicídio de 1908, o Visconde de Ribeira Brava. A república deglutia, um a um, os seus mentores.

Sidónio foi, entretanto, assassinado - num daqueles magnicídios portugueses, cujas causas jamais são apuradas - e o país assistiu à guerra civil entre monárquicos e republicanos. No rescaldo da Monarquia do Norte, regressou, de novo, a República Velha. Os ódios fratricidas entre os próceres republicanos - cada um com as suas inconfessáveis memórias, segredos e culpas na desgraça nacional - atingiram o zénite. A Formiga Branca - outro nome da Carbonária - fazia a lei dos caciques de Costa. O Estado deixara de existir. Em sua substituição, rufias de café, pistoleiros e bandidos fardados da Guarda Nacional Republicana impunham a lei da submissão a um regime que há muito perdera qualquer vestígio de legitimidade. Num inextrincável nó de intrigas politiqueiras, surgiu o boato que o governo de António Granjo (moderado) pretendia repor a ordem na casa, a começar pela GNR, guarda pretoriana que entretanto se dotara de artilharia pesada e tinha a servi-la oficiais da maior confiança das organizações secretas que sempre domiram a República. Afonso Costa queria voltar à ribalta, mas não tinha o aval de António José de Almeida, seu arqui-rival. Uma confusão própria de uma república de opereta. Perante a boataria e um pronunciamento militar iniciado em 21 de Outubro de 1921, Granjo pede a demissão. Almeida aceita-a. Nessa noite, Lisboa conheceu uma das noites mais violentas da sua história.

A célebre Camioneta Fantasma, conduzida pelo marujo Abel Olímpio - mais conhecido por Dente de Ouro, um daqueles valentes rapazes partidários de Afonso Costa - percorreu as mansões abastadas dos donos do país, levando um a um os lídimos heróis dos Banhos de S. Paulo* (Granjo, Carlos da Maia, Machado Santos, Botelho de Vasconcelos), abatendo-os a tiro ou perfurando-os com bainetas. O sórdido de tudo isto reside no facto dos assassinos serem acompanhados por jornalistas do Imprensa da Manhã, que orientavam e corrigiam o percurso da famigerada carripana. A república regorgitava no atoleiro de violência que havia abubado ao longo de décadas de práticas mafiosas desde os tempos da verrina anti-monárquica. Se lermos as Minhas Entrevistas con Abel Olimpio, o "Dente de Ouro", da autoria de Berta Maia, viúva de Carlos da Maia, ressuma a atmosfera de banditismo que foi a história desse enorme ludíbrio saído do 5 de Outubro de 1910. Até às fezes - o título que Givesuis deu a uma das mais cruas obras de denúncia política publicadas no século XX - aplica-se à república portuguesa que tantos teimam dourar.

MCB

Imagem: a morte de António Granjo.


04 outubro 2020

soldados da missão da ONU Peacekeeping Minusca,

Um novo escândalo sexual 


«É dilacerante pensar que operadores humanitários abusaram sexualmente de mulheres enquanto lutavam contra a epidemia de Ébola na República Democrática do Congo». Com estas palavras, o Director da OMS para a África, Matshidiso Moeti, comentou a notícia dos abusos sexuais descobertos e denunciados na conclusão de uma investigação realizada ao longo de quase um ano pela agência de notícias The New Humanitarian e pela Thomson Reuters Foundation.

Certamente, não é a primeira vez que as Nações Unidas e as organizações não-governamentais têm de lidar com escândalos sexuais. Entre os mais graves, está o que eclodiu na República Centro-Africana, onde dezenas de meninas e de mulheres, incluindo bebés, foram abusadas sexualmente por soldados da missão da ONU Peacekeeping Minusca, instituída, em 2014, para proteger a população e garantir o cumprimento dos direitos humanos ameaçados durante a guerra civil que eclodiu em 2012.

Desta vez, já são mais de 50 as mulheres que afirmam ter sofrido assédio e violência sexual, entre Agosto de 2018 e Março último, no Leste do Congo, atingido por uma epidemia de Ébola que matou 2.299 pessoas e acabou no final de Junho de 2020. Muitas vítimas trabalhavam nas estruturas sanitárias, criadas para combater a epidemia, como cozinheiras, empregadas de limpeza, contactos, frequentemente problemáticos na África, entre equipas médicas e as comunidades locais. Em alguns casos, a ameaça de perder o emprego foi usada para forçá-las a ter relações sexuais; noutros casos, foi a oferta de contratação que as induziu a ter relações sexuais indesejadas. Algumas mulheres disseram que foram embriagadas, outras que foram atacadas em escritórios e hospitais, outras ainda que foram trancadas numa sala e abusadas. Uma jovem empregada de limpeza contou, por exemplo, que um médico lhe pediu que fosse até sua casa para falar de uma promoção. Mas, assim que ela entrou, o homem disse-lhe que ela receberia um aumento salarial desde que mantivesse relações sexuais com ele. Quando se recusou, o homem agrediu-a e começou a despi-la, apesar dos seus protestos. Felizmente, conseguiu chegar à porta da casa e fugir.

Entre os suspeitos, figuram, actualmente, homens de diferentes nacionalidades: Bélgica, Burkina Faso, Canadá, França, Guiné-Conacri, Costa do Marfim. A maioria dos casos diz respeito ao pessoal nomeado pela OMS para auxiliar os médicos locais. Mas o escândalo também envolve outros organismos, incluindo a Agência da ONU para a Infância, UNICEF, a Organização Internacional para as Migrações, OIM, e três organizações não-governamentais: Médicos sem Fronteiras, a Associação dos Médicos Alima e World Vision, que trata de adopções à distância. Um detalhe suscita ainda mais indignação. As mulheres relatam que os homens evitavam usar preservativo enquanto, como sublinha o The New Humanitarian, recomendavam à população que evitasse, o máximo possível, o contacto físico para impedir a propagação de Ébola.

Muitas mulheres hesitaram em falar abertamente, temendo retaliações ou perder o emprego. A maioria delas tinha vergonha de contar o que lhes acontecera. Aquelas que consentiram em falar, fizeram-no sob a garantia de anonimato. Agora que tantas tiveram a coragem de denunciar, não se exclui que surjam outras e que o fenómeno se revele ainda mais abrangente, tanto mais que as investigações realizadas dizem respeito apenas à cidade de Beni, no Kivu do Norte, enquanto a epidemia afectou toda a província e a vizinha província de Ituri.

A OMS declarou que serão promovidas investigações cuidadosas para determinar a responsabilidade. «Trair as pessoas que devemos ajudar é deplorável. Qualquer pessoa envolvida em tais actos – asseguram os líderes da agência da ONU – será responsabilizada pelas suas acções e sofrerá sérias consequências, incluindo a imediata demissão». «Não estamos dispostos a tolerar comportamentos semelhantes por parte dos nossos funcionários, dos nossos fornecedores e dos nossos parceiros», disse o porta-voz da OMS, Fadéla Chaib, reiterando a política de «tolerância zero» da agência. Mas as Nações Unidas, assim como as organizações não-governamentais, dizem-no sempre que surge um escândalo. No entanto, os escândalos continuam e muitos escapam sem sofrer nada ou pouco, talvez com a transferência para uma outra missão após um período de suspensão.

Já várias ONG’s contactadas e o próprio governo congolês afirmam não ter conhecimento de quaisquer casos de abusos, que nunca receberam queixas nos dois anos da epidemia. Mas as mulheres fornecem detalhes que tornam confiáveis as suas histórias. Muitos dos encontros sexuais ocorreram em hotéis que abrigam escritórios da ONU e de ONG’s, em particular o Okapi Palace e o Hotel Beni, onde as agências humanitárias reservam frequentemente inteiros blocos de quartos.

Os motoristas ao serviço da OMS e de ONG’s confirmam-no. Médicos, profissionais de saúde e administradores usavam-nos para levar as mulheres a hotéis, às suas casas ou aos escritórios para encontros sexuais. «A maioria de nós fazia-o – confessou um motorista –, era tão normal quanto comprar comida no supermercado»; e uma mulher recorda que um homem que abusou dela conduzia um veículo com a indicação “Organização Mundial da Saúde”.


 Rui Ramos – Observador, 02 out 2020

Não usem Trump para esconder as vossas ideias /premium


Porque não podem preferir Trump, sem se desonrarem, aqueles que querem uma América diferente da que Biden propõe? A histeria anti-Trump é uma maneira de a esquerda tentar limitar a escolha política.

Não é possível, claro que não é possível. Quatro anos de um presidente que, em debate, desrespeita os adversários e os manda calarem-se? Um presidente que não é capaz de condenar claramente a violência extremista? Um presidente acusado de assédio sexual e de colaboração política com racistas? Um presidente cuja família é suspeita de corrupção? Não, aos EUA não convêm um presidente desses — um indivíduo que, no fundo, não passa de um velho milionário de outras eras…

Ah, esperem. Talvez, antes de continuar, me convenha esclarecer uma coisa. Não estou a falar de Donald Trump, o presidente americano desde 2017. Estou a falar de Joe Biden, o candidato que o Partido Democrata propôs para substituir Trump em 2021, e que está à frente nas sondagens. Sim, durante o debate, Biden chamou “palhaço” ao seu adversário e mandou-o calar-se. Sim, Biden não foi capaz de repudiar sem ambiguidade a violência dos chamados Antifa, a quem deu a dignidade de serem apenas “uma ideia”. Sim, Biden é acusado de assédio sexual e durante anos, no congresso, colaborou com os representantes do Partido Democrático que, no sul dos EUA, era o partido da segregação racial. Sim, os negócios da família de Biden, que enriqueceu na política, são motivo de desconfiança.

Estarão já a pensar: mas para que serve lembrar estas coisas? Para nos dizer que Trump e Biden são a mesma coisa? Não, muito ao contrário. Vou dizer que são politicamente muito diferentes, e que faz todo o sentido, por isso mesmo, apoiar uma ou outra candidatura, independentemente da personalidade dos candidatos. Esse é o grande equívoco que o anti-trumpismo tem cultivado. A esquerda americana e mundial faz de conta que, neste momento, o problema dos EUA – e até do mundo — é a pessoa de Trump, supostamente mais malcriado, mais caótico, e mais escandaloso do que qualquer outro presidente. Como se a divisão e polarização política nos EUA ou a instabilidade e a mudança da relação de forças no mundo tivessem sido uma criação de Trump, e pudessem desaparecer com o fim da sua presidência. E sobretudo, como se os americanos que não subscrevem os pontos de vista da esquerda estivessem obrigados a sacrificar as suas preferências políticas para libertar a república do actual presidente. Nestas eleições, estaria apenas em causa retomar a “normalidade” interrompida por quatro anos de perturbação trumpista. Ora, isto é um embuste.

O problema não é, obviamente, apenas Trump, a sua agressividade, a sua relação com Putin, ou as acusações de assédio. Porque quando a agressividade, a relação com Putin (pela qual, inicialmente, Obama foi muito aplaudido) e as acusações de assédio dizem respeito a um Democrata, já não são problema. O entusiasmo com o MeToo à esquerda, por exemplo, acabou no dia em que as acusações tocaram Biden. Porquê? Naturalmente, porque para a esquerda é mais importante disputar a presidência, e Biden é aquele que está em melhores condições de o fazer. Por isso, perdoar-lhe-ão tudo. Até a extrema-esquerda, depois de muito ranger de dentes, já se conformou com a ideia de votar em Biden, mesmo sem concordar com ele.

A questão é então esta: porque não pode a direita fazer o mesmo, com as mesmas reservas? Porque não poderão votar em Trump, sem se desonrarem, aqueles que querem uma América diferente daquela que Biden propõe? Quem, por acaso, assistiu ao debate de terça-feira sem a única intenção de se indignar com Trump pôde constatar que, para além do folclore das interrupções e dos dichotes mútuos, havia opções políticas fundamentais a separar os dois candidatos. Por exemplo, quanto ao futuro do Supremo Tribunal ou à socialização dos cuidados de saúde. Neste momento, em relação a esses temas, Trump representa a tradição constitucional e uma América assente na iniciativa e responsabilidade individual. Faz sentido para alguém que preza essa continuidade e essa América votar em Trump – lamentando embora que essa opção seja, nas eleições de Novembro, representada por Trump. Tal como faz sentido, para quem detesta essa continuidade e essa América, escolher Biden – lamentando que tenha de ser Biden.

Sim, o ideal era todos os candidatos presidenciais terem a educação e a probidade de Mitt Romney, o candidato republicano de 2012, provavelmente o mais decente e digno candidato presidencial nos EUA nos últimos 40 anos. Mas sabem uma coisa? Trump até pode corresponder a tudo o que a esquerda diz dele. Mas Mitt Romney, que não correspondia, mereceu a mesma barragem de acusações e mentiras. Aliás, todos os presidentes republicanos, independentemente das suas qualidades pessoais, foram nas últimas décadas caricaturados pela esquerda americana de maneira igual. Ronald Reagan, nos anos 1980? George W. Bush, já neste século? Todos loucos, estúpidos, fascistas, racistas, imperialistas… Todos iam começar a III Guerra Mundial. Todos iam fazer dos EUA um novo Terceiro Reich. Nunca precisaram de se portar como Trump: bastou não serem de esquerda para serem tratados como Trump.

E não, também não estou, com isto, a insinuar que Trump é como George W. Bush ou como Ronald Reagan. Reagan era um internacionalista à maneira da Guerra Fria. Bush já talvez tivesse desejado ser outra coisa, mas Bin Laden não o deixou. Trump é um nacionalista, um presidente do pós-Guerra Fria, que nitidamente prefere uma América menos comprometida com o Mundo Livre — e a esse respeito, significativamente mais próximo de Barack Obama do que à esquerda e à direita convém reconhecer. Mas para quem vive na América é ele, e não Mitt Romney, que agora pode manter o poder executivo e judicial do lado daqueles que desejam um Estado mais pequeno e uma economia mais livre. As esquerdas americanas, como a esquerda brasileira fez perante Bolsonaro, fingem que a única coisa que importa é afastar um “monstro”. Depois, logo se verá como governar o país. Mas essa é apenas uma maneira de esconderem as suas ideias e os seus planos e, ao mesmo tempo, negarem aos seus adversários o direito a terem outra visão e outras políticas.

Não, a questão não é simplesmente de personalidades ou de estilos. A questão é política. Há duas visões da América. Em 2020, uma dessas visões é representada por Trump e outra por Biden. Dir-me-ão: Trump é um “filho da mãe”. Até pode ser, mas é o “filho da mãe” dos que preferem um Estado pequeno e uma economia livre, tal como Biden – acusado e suspeito dos mesmos pecados que Trump – é o “filho da mãe” dos que preferem um Estado maior e uma economia dirigida. Não devia ser assim? É assim.

02 outubro 2020

TRUMP ASSUSTA? E UMAVITÓRIA DE BIDEN, O QUE NOS TRARÁ?


Paulo Tunhas, Observador, 1.10.2020
Uma razão para preferir Trump 
a Biden /premium

O verdadeiro problema é que Biden arrasta consigo um Partido Democrata que, desde o segundo mandato de Obama, evoluiu numa direcção catastrófica e nociva até mais não.

Também eu vi o debate entre Trump e Biden. Afinal de contas, quem não se interessa, mesmo na pequena Lusitânia, pelo que se passa no centro do Império? Vi-o na SIC, acompanhado regularmente pelos breves comentários da jornalista da casa, Teresa Dimas: risinhos e piadinhas quando Trump falava, palavras de admiração (“propostas concretas”, etc.) quando era a vez de Biden. Enfim, uma jornalista da SIC a fazer o papel de jornalista da SIC, quer dizer: a fazer o papel de qualquer membro das várias delegações regionais da CNN ou do New York Times.

Confesso que não achei o debate tão vertiginosamente mau como, na aparência, muita gente julgou. Trump foi igual a si mesmo, nas suas qualidades e defeitos, e Biden, provando que a ciência hoje em dia faz milagres, esteve alerta a maior parte do tempo, conseguindo mesmo imitar Trump por uma vez ou outra. Esta minha opinião não foi partilhada por grande parte dos órgãos de comunicação, que, mesmo defendendo a “vitória” de Biden, julgaram o debate declaradamente horrível. O que, se alguma coisa, me leva a concluir que ele terá corrido melhor a Trump do que me pareceu.

Dito isto, o debate não foi uma felicidade. O que, atendendo às coisas, não é difícil de explicar. Os nossos juízos políticos dão-se, pelo menos, em três planos diferentes. O primeiro é, por assim dizer, quase inteiramente negativo. Avaliam-se os riscos inerentes às posições em confronto e decide-se por aqueles que nos parecem menores. O segundo contém elementos negativos e positivos. Há a tal avaliação dos riscos, e o juízo que dela decorre, mas essa avaliação é acompanhada de uma ligação, mais directa ou mais indirecta, à questão do que é bem viver em sociedade. O terceiro e último plano é aquele que incide primeira e quase exclusivamente nesta última questão. É o plano de que tradicionalmente a filosofia se ocupa, desde Platão e Aristóteles, mas que tem um equivalente na consciência comum, por menos educada que seja. E, acrescento, a tal consciência comum tem toda a legitimidade para se pronunciar no capítulo. Em matéria política, não há “especialistas”, como em física ou em biologia. Todos temos, de forma mais distinta ou de forma mais confusa, a ideia do que é uma sociedade boa, por mais “deplorável” (para utilizar uma palavra célebre) que a posição dos outros nos pareça.

Por razões sociais e históricas, largamente comuns à sociedade americana e às sociedades europeias, este último plano tende a eclipsar-se do debate político, e esse eclipse afecta parcialmente também o segundo plano. Dito de outra maneira, a interrogação sobre a natureza da sociedade e sobre a forma que deve adoptar o bem-viver colectivo sobrevive apenas no discurso político de uma forma fruste e esfarrapada, por mais artifícios retóricos com que se tente disfarçar este simples e maciço facto. Guardadas as devidas distâncias, e atendendo às particularidades locais, o que se passa em Portugal não é grandemente distinto do que se passa nos Estados Unidos.

O debate entre Trump e Biden, por razões que transcendem largamente as idiossincrasias particulares de qualquer um dos dois indivíduos, só é praticamente susceptível de ser analisado no primeiro plano que indiquei, com uma eventual e muito superficial comunicação com o segundo. Ou, se se quiser: a sua avaliação só pode contar com critérios que incidem sobre a dimensão dos riscos que se correm. Claro que essa avaliação repousa ainda, em larga medida, sobre aquilo que cada um de nós julga ser o bom modo de viver em sociedade: a questão permanece, de direito, a questão primeira. Mas, de facto, o seu modo de existência no debate político presente é mais fantasmático do que real.

Isto tudo – e não peço desculpa pelo tempo que gastei a dizê-lo, porque me parece, com razão ou sem ela, importante – para chegar a uma conclusão relativamente simples. Ela é, como seria de esperar, essencialmente negativa. Biden não é, obviamente, um perigoso esquerdista apostado na destruição da civilização ocidental e arredores. É um velhíssimo político, nem sequer especialmente antipático (Trump é mais “antipático” do que ele), notoriamente debilitado tanto física como mentalmente. Este último aspecto não apresenta uma gravidade plena: há soluções previstas para os problemas que isso possa criar. O verdadeiro problema é que Biden arrasta consigo um Partido Democrata que, desde o segundo mandato de Obama, um homem obviamente inteligente, mas cuja acção política se revelou nefasta a vários títulos, evoluiu numa direcção catastrófica e nociva até mais não, prolongando tendências na sociedade americana desde que a chamada “esquerda académica” ganhou uma grande importância, desde finais dos anos 80, princípios dos 90.

Alguns exemplos de crenças partilhadas pela muito representativa ala esquerda dos democratas, que não deixarão em caso algum de ter consequências significativas nos Estados Unidos e por esse mundo fora caso Biden seja eleito: admissão da tese do “racismo sistémico”, uma espécie de “melaninismo” que ocupa o lugar do defunto marxismo-leninismo, que nunca teve real significado nos Estados Unidos; desenvolvimento de uma concepção radical e selvagem do combate às chamadas “alterações climáticas”; instauração de um clima em que a polícia e as forças da ordem sejam sistematicamente encaradas de um ponto de vista adversarial; promoção da cultura do “cancelamento”, que significa nem mais nem menos do que uma tentativa de obliteração do passado e o impedimento de a “conversa da humanidade” dialogar com ele e medir reflexivamente as várias distâncias que dele nos separam; justificação de um multiculturalismo activo que se encontra muito longe de qualquer legítimo e desejável convívio com a multiculturalidade que é a condição natural do alargamento da democracia; crescimento exponencial de uma intolerância virtuosa que, por todas as razões aqui mencionadas, e por muitas outras que se poderiam acrescentar, ameaça tomar conta do todo da sociedade. Como explicava no outro dia, numa entrevista ao Figaro, um professor americano, Joseph Bottum, todas estas atitudes vêm de pessoas “que querem estar certas de ser «boas pessoas». Sabem que são boas pessoas se se opuserem ao racismo. Pensam ser boas pessoas porque se opõem à destruição do ambiente. Querem ter a boa «atitude», e essa é a razão pela qual os que não têm a boa atitude são expulsos das universidades ou do seu trabalho por razões insignificantes. Antes, era-se excluído da Igreja, hoje é-se excluído da vida pública”.

Face a isto, face à ameaça da intensificação a níveis nunca vistos de algo que já ocupa uma boa parte do nosso quotidiano, face a esse maniqueísmo que generalizadamente tomou conta dos espíritos, não vejo como não preferir uma posição como a de Trump, que finalmente representa sobretudo a barreira possível contra a verdadeira loucura que ameaça tomar conta de tudo. Dir-se-á que é uma razão inteiramente negativa. E é. Há várias coisas em que se podem dizer coisas abonatórias de Trump (em matéria de política externa, nomeadamente), mas as razões negativas são as mais prementes e decisivas. E, como eu encaro a coisa, as bastantes, pelo menos vendo o mundo a partir da Lusitânia.

Paulo Tunhas, Observador, 1.10.2020

ELEIÇÃO DE TRUMP A LUTA CONTRA NOVA ORDEM MUNDIAL ANTI-CRISTO





O Dies Iræ traduz e publica, a pedido de Mons. Carlo Maria Viganò, uma muito oportuna entrevista, sobre a situação política e eclesial dos Estados Unidos da América, que, no passado dia 28 de Setembro, Sua Excelência Reverendíssima concedeu ao jornalista italiano Francesco Boezi.


CARTA A FAVOR DE TRUMP!

CONTRA JOE BIDEN, ABORTISTA ANTICRISTO MAÇÓNICO.

«O silêncio dos Pastores é ensurdecedor e perturbador. Alguns até preferem apoiar a Nova Ordem Mundial alinhando-se com as posições de Bergoglio (Papa Francisco) e do Cardeal Parolin que, frequentador do Bildelberg Club ... »
"Quero evidenciar que a religião universal desejada pelas Nações Unidas (ONU dirigida pelo «testa ferro católico Guterres») e pela Maçonaria encontra, na hierarquia da Igreja, colaboradores activos que usurpam a sua autoridade e adulteram o Magistério.
Ao Corpo Místico de Cristo, colocado como única arca de salvação para a humanidade, está-se a opor o corpo místico do Anticristo, segundo a profecia do Venerável Arcebispo Fulton Sheen. Ecumenismo, ambientalismo malthusiano, pansexualismo, imigracionismo são os novos dogmas desta religião universal, cujos ministros preparam o advento do Anticristo antes da última perseguição e da vitória definitiva de Nosso Senhor."

Francesco Boezi: 
MONSENHOR VIGANÒ PORQUE ESCREVEU UMA CARTA EM FAVOR DE TRUMP?

Arcebispo Viganò: Bento XVI fez-me saber, a 14 de Agosto de 2011, que estava convicto de que naquele momento a minha posição providencial era a Nunciatura nos Estados Unidos da América. Por isso, escreveu-me: «Desejo comunicar-lhe que reflecti e rezei em relação à sua condição depois dos últimos acontecimentos. A dolorosa notícia da morte de Sua Excelência Mons. Pietro Sambi confirmou a minha convicção de que a sua posição providencial neste momento é a Nunciatura nos Estados Unidos da América. Por outro lado, estou certo de que o seu conhecimento deste grande País o ajudará a enfrentar o exigente desafio deste trabalho, que em muitos aspectos é determinante para o futuro da Igreja universal».

Concluiu-se a minha missão oficial naquele imenso e querido País, mas aquele desafio, ao qual o Papa Bento XVI se referiu quase profeticamente e no qual me envolveu, está mais aberto do que nunca, aliás, tornou-se cada vez mais dramático, tomando dimensões tremendas: o destino do mundo está-se a jogar, nesta hora, na frente americana.

Agora, livre do meu cargo oficial, a inspiração que me foi confiada pelo Papa Bento XVI permite-me dirigir-me ao Presidente Trump com a máxima liberdade, evidenciando qual seja o seu papel no contexto nacional e internacional, e o quão decisiva é a sua missão no confronto épico que se está a delinear nestes meses.

É verdadeiramente um confronto épico?

A Santa Sé parece, hoje, atacada por forças inimigas. Falo como Bispo, como Sucessor dos Apóstolos. O silêncio dos Pastores é ensurdecedor e perturbador. Alguns até preferem apoiar a Nova Ordem Mundial alinhando-se com as posições de Bergoglio e do Cardeal Parolin que, frequentador do Bildelberg Club, se submeteu servilmente aos seus ditames, como muitos expoentes políticos e dos media mainstream.

Estou convencido de que o que denunciei na minha carta aberta ao Presidente Trump, em Junho passado, ainda é válido e pode ser uma chave de leitura para compreender os acontecimentos que estamos a vivenciar. Continua a ser um convite à esperança.

A Igreja Católica americana, em relação às eleições presidenciais e não só, aparece dividida. O Papa diz que dividir é obra do demónio, mas a divisão do Episcopado americano é evidente. O que está a acontecer?

A cisão dentro do Episcopado americano é o resultado de uma acção ideológica realizada desde os anos 1960, especialmente pelas universidades católicas – e pelos Jesuítas em particular –, na formação de inteiras gerações de jovens. A doutrinação progressista (na frente política) e modernista (na frente religiosa) criou um suporte ideológico para o Maio de 68, iniciado com o Concílio Vaticano II, conforme confirmou Bento XVI no seu ensaio Os princípios da teologia católica: «A adesão a um marxismo anárquico e utópico [...] foi apoiada, na primeira linha, por muitos capelães universitários e por associações de jovens, que viam florescer as esperanças cristãs. O facto dominante encontra-se nos eventos, em França, do Maio de 1968. Nas barricadas estavam dominicanos e jesuítas. A intercomunhão realizada durante uma Missa ecuménica de apoio às barricadas foi considerada uma espécie de marco na história da salvação, uma espécie de revelação que inaugurava uma nova era do cristianismo».

Esta divisão nos Estados Unidos, que, hoje, se tornou ainda mais evidente com a iminência das eleições presidenciais, também é difundida na Europa e na Itália: os líderes da Igreja queriam fazer uma escolha radical – e, na minha opinião, lamentável – preferindo seguir o pensamento dominante do ambientalismo, do imigracionismo, da ideologia LGBT, em vez de se levantar corajosamente contra ele e proclamar fielmente a Verdade salvífica anunciada por Nosso Senhor. Uma escolha que deu um salto, desde 2013, com a eleição de Jorge Mario Bergoglio, mas que remonta há, pelo menos, sessenta anos. É significativo que mesmo então os Jesuítas – e toda a intelligencijacatólica de Esquerda – olhassem para a China de Mao como um interlocutor privilegiado, quase um propulsor das reivindicações de suposta renovação social, exactamente como hoje La Civiltà Cattolica, de Spadaro, s.j., olha para a China de Xi Jinping. Os Jesuítas, que apoiaram a guerrilha na América Latina e que, no Maio francês, estiveram nas barricadas, hoje usam as redes sociais com reivindicações semelhantes, sempre com os olhos voltados para Pequim e com o mesmo ódio pela América.

É verdade que dividir é obra do demónio: Satanás semeia a divisão entre o Homem e o seu Criador, entre a alma e a Graça. O Senhor, ao invés, não divide, mas separa: Ele cria uma fronteira entre a Cidade de Deus e a Cidade de Satanás, entre aqueles que O servem e aqueles que O combatem. Ele mesmo separará os justos dos malvados no dia do Juízo (Mt 25, 31-46), depois de se ter colocado como «pedra de tropeço» (Rm 9, 32-33). Separar a luz das trevas, o bem do mal, de acordo com o ensinamento do Senhor, é uma obrigação se quisermos seguir a Cristo e rejeitar Satanás. Mas também é necessário separar, ao escolher quem melhor protege os direitos e a Fé dos Católicos, daqueles que apenas nominalmente se proclamam católicos e, nos factos, promovem leis que estão claramente em contraste com a lei divina e a lei natural. Assim como é divisivo o Pastor que adverte o rebanho contra os ataques dos lobos (Jo 10, 1-18).

Acusar Trump de não ser cristão simplesmente por querer proteger as fronteiras da Nação; evocar o fantasma da soberania como um desastre, enquanto o tráfico de seres humanos é favorecido; ficar em silêncio diante da perseguição aos Cristãos na China e noutros lugares, ou das milhares de profanações de igrejas que, desde há meses, vêm a ocorrer em todo o mundo: tudo isto não é divisivo?

Joe Biden é um abortista, mas alguns ambientes católicos americanos parecem omitir este aspecto. Veja-se, por exemplo, James Martin. O que acha?

O Padre James Martin, s.j., é o porta-estandarte da ideologia LGBT e, apesar disso – na verdade, em virtude disso –, foi nomeado, por Bergoglio, como Consultor da Secretaria para as Comunicações da Santa Sé. A sua obra – esta, sim, verdadeiramente “divisiva” no pior sentido do termo – serve para fortalecer, no seio do corpo eclesial, uma quinta coluna da agenda progressista, de modo a criar uma cisão ideológica e doutrinal dentro da Igreja e fazer crer que as demandas do progressismo, inclusive a chamada homoeresia, vêm da base. Na realidade, bem sabemos que os fiéis são muito menos inclinados às inovações do que a opinião pública é levada a crer e que o querer mostrar uma pretensa “vontade popular” para legitimar escolhas incompatíveis com o ensinamento perene da Igreja é uma manobra a que já se recorreu tanto a nível eclesial (pensemos na reforma litúrgica, que ninguém pediu) como a nível civil (por exemplo, a ideologia de género).

Permita-me recordar as palavras do Arcebispo americano Mons. Fulton J. Sheen (1895-1979): «A recusa de tomar posição sobre os grandes problemas morais é, em si, uma decisão. Representa um tácito assentimento ao mal. A tragédia do nosso tempo é que quem acredita na virtude carece de fogo e de convicção, enquanto que aqueles que acreditam no vício estão cheios de apaixonada convicção». Aprendamos a separar quem está com Cristo de quem está contra Ele, visto que não é possível servir a dois senhores.

Falou de “deep church”. É possível que exista uma? Por quem é composta?

A expressão “deep church” transmite bem a ideia do que está a acontecer, paralelamente, a nível político e a nível eclesial. A estratégia é a mesma, assim como idênticos são os objectivos e, em última análise, os mens que estão por trás. Nesse sentido, a “deep church” é para a Igreja o que o “deep state” é para o Estado: um corpo estranho, ilegal, subversivo e destituído de qualquer legitimidade democrática que usa a instituição na qual está inserido para atingir objectivos diametralmente opostos aos da própria instituição.

Um exemplo é John Podesta, “católico” liberal, democrata, ex-colaborador de Bill e Hillary Clinton e vinculado ao Centre for American progress de John Halpin. Num e-mail, datado de 11 de Fevereiro de 2012, Sandy Newman escreveu a Podesta pedindo-lhe orientações para «plantar as sementes de uma revolução» na Igreja em matéria de contracepção, aborto e paridade de género. Podesta responde confirmando que, para obter esta «primavera da Igreja» (note-se a assonância com a “primavera conciliar”), foram criadas a Catholics in aliance for the common good e Catholics united. Estas associações ultra-progressistas foram financiadas por George Soros, como as fundações dos Jesuítas e a viagem apostólica de Bergoglio, em 2015, aos EUA.

Devemos também lembrar a conspiração da Máfia de São Galo, com o objectivo de derrubar Bento XVI, em conjunto com Obama e Clinton que consideravam Joseph Ratzinger um obstáculo para a difusão da agenda globalista.

Como católico e consagrado, como é que julga o trabalho de Trump?

Limito-me a observar o que Trump fez ao longo dos anos do seu mandato presidencial. Defendeu a vida do nascituro, cortando as verbas à multinacional do aborto Planned Parentood e, precisamente nestes dias, emanando uma disposição que impõe atendimento imediato aos recém-nascidos não mortos pelo aborto: até agora, eram deixados a morrer ou usados para lhes retirar os órgãos, destinados à venda. Trump está a combater a pedofilia e o pedosatanismo. Não abriu novas frentes de guerra e reduziu drasticamente as existentes ao estipular acordos de paz. Devolveu a Deus o direito de cidadania, depois de Obama ter até cancelado o Natal e imposto medidas que repugnavam a alma religiosa dos Americanos.

E observo também a guerra mediática travada pela imprensa e pelos centros de poder contra o Presidente: foi demonizado desde 2016, apesar de ter conquistado democraticamente a maioria dos votos. É bem sabido que o ódio a Trump – não diferente do que acontece na Itália a membros muito mais brandos da oposição – encontra a própria motivação na consciência do seu papel fundamental na luta ao deep state e a todas as suas ramificações internas e externas. A corajosa denúncia do Comunismo – de que os Antifa e os BLM são a versão global e a ditadura chinesa a incubadora – vem, de alguma forma, sanar o silêncio da Igreja, que, apesar dos apelos da Virgem Maria em Fátima e em La Salette, preferiu não renovar a condenação desta ideologia infernal. E se Mons. Sanchez Sorondo pode impunemente afirmar, contra todas as evidências, que a China é a melhor realizadora da doutrina social da Igreja, devemos alegrar-nos com as palavras do Presidente dos Estados Unidos e com aquelas não menos corajosas do seu Secretário de Estado, Pompeo.

Ao que parece, Bergoglio (Papa Francisco) não se encontrará com o Secretário de Estado americano.

Agora chegamos ao paradoxo, ao ridículo. Certas atitudes parecem mais adequadas aos caprichos de um aluno indisciplinado do que à prudência e ao protocolo diplomático. Pompeo denuncia a violação dos direitos humanos na China e de Santa Marta chega a resposta irritada: E eu não jogo mais. São comportamentos indignos, dos quais até mesmo os membros do círculo mágico de Bergoglio começam a sentir uma evidente vergonha. Não só não recebe o Secretário de Estado, por não lhe dizerem ore rotundo que a América não ficará parada enquanto a Igreja se entrega nas mãos de uma feroz ditadura, como nem sequer responde ao pedido do Cardeal Zen para ser recebido em audiência, confirmando a precisa vontade do Vaticano de renovar a sua submissão ao Partido Comunista Chinês.

Vossa Excelência organizou um Rosário por Trump? Por que motivo?

Fui incentivado por muitos a lançar esta iniciativa e não hesitei em aderir, tornando-me o promotor desta cruzada espiritual. Esta é uma guerra sem quartel, na qual Satanás é libertado das correntes e as portas do infernotentam, de todas as maneiras, prevalecer sobre a própria Igreja. Uma semelhante contradição enfrenta-se, sobretudo, com a oração, com a arma invencível do Santo Rosário.

O empenho dos Católicos na política, sob a orientação dos seus Pastores, constitui uma acção concreta como cidadãos e membros tanto do Corpo Místico de Cristo como do corpo social: o Católico não é um dissociado, que na Igreja acredita que Deus é autor e senhor da vida, mas nas urnas ou no parlamento aprova o assassinato de crianças inocentes.

A esta acção de ordem natural apoia-se – deve-se apoiar – a consciência de que os assuntos humanos, e com eles os acontecimentos sociais e políticos, têm uma dimensão espiritual transcendente, na qual a intervenção da divina Providência é sempre determinante. Por este motivo, o Católico não se afasta do mundo, não foge da arena política esperando passivamente que o Senhor intervenha com o raio, mas, pelo contrário, dá um sentido à sua acção quotidiana, ao seu compromisso na sociedade, dando-lhe uma alma, um propósito sobrenatural.

Neste sentido, a oração invoca, ao Senhor do mundo e da história, aquelas graças, aquela ajuda especial que só Ele pode dar tanto à acção do cidadão comum como à obra do governante. E se, no passado, até os reis pagãos puderam ser instrumentos do bem nas mãos de Deus, tal pode acontecer ainda hoje, numa época em que a bíblica batalha entre os filhos das trevas e os filhos da luz atingiu um ponto crucial.

Que cenários esperam os Católicos do mundo no caso de Trump perder?

Se Trump perder as eleições presidenciais, falhará o último kathèkon(2 Ts 2, 6-7), ou seja, o que impede que o «mistério da iniquidade» se manifeste e a ditadura da Nova Ordem Mundial terá, no novo Presidente americano, um aliado, depois de já ter conquistado Bergoglio (Papa Francisco) para a sua causa.

Joe Biden não tem uma consistência própria: ele é apenas a expressão de um poder que não ousa mostrar-se pelo que é e que se esconde por trás de um personagem totalmente inadequado para o cargo de Presidente dos Estados Unidos, mesmo pelas suas degradantes condições de saúde mental; mas é precisamente na sua fraqueza, pelas denúncias pendentes, na sua chantagem, pelos conflitos de interesse, que Biden se mostra como um fantoche manipulado pela elite, um fantoche nas mãos de pessoas sedentas de poder e dispostas a fazer qualquer coisa para expandi-lo.

Encontrar-nos-emos perante uma ditadura orwelliana pretendida pelo “deep state” e pela “deep church”, na qual os direitos, que hoje consideramos fundamentais e inalienáveis, seriam espezinhados com a cumplicidade dos media mainstream.

Quero evidenciar que a religião universal desejada pelas Nações Unidas e pela Maçonaria encontra, na hierarquia da Igreja, colaboradores activos que usurpam a sua autoridade e adulteram o Magistério. Ao Corpo Místico de Cristo, colocado como única arca de salvação para a humanidade, está-se a opor o corpo místico do Anticristo, segundo a profecia do Venerável Arcebispo Fulton Sheen. Ecumenismo, ambientalismo malthusiano, pansexualismo, imigracionismo são os novos dogmas desta religião universal, cujos ministros preparam o advento do Anticristo antes da última perseguição e da vitória definitiva de Nosso Senhor. Mas, como a gloriosa Ressurreição do Salvador foi precedida pela Sua Paixão e Morte, assim a Igreja caminha para o seu próprio Calvário; e, assim como o Sinédrio pensava que tinha eliminado o Messias ao crucificá-Lo, assim a seita infame acredita que o eclipse da Igreja seja um prelúdio para o seu fim. Permanece um “pequeno resto”, composto por Católicos fervorosos, assim como, aos pés da Cruz, permaneciam a Mãe de Deus, São João e a Madalena.

Sabemos que os destinos do mundo não estão nas mãos do Homem e que o Senhor prometeu não abandonar a Sua Igreja: «as portas do Abismo nada poderão» (Mt 16, 18). As palavras de Cristo são a rocha da nossa esperança: «E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).