28 novembro 2020

A Nova Ordem Mundial

Publicado em 24 de novembro de 2020 gilbertolimajr



Sob o Domínio da Tecnocracia Digital!

Em 2021, iniciaremos oficialmente uma nova década que será marcada como o ano da “Grande Reinicialização” (do idioma inglês, Great Reset). Recentemente o fundador do Fórum Econômico Mundial (FEM), Klaus Schwab, reuniu algumas lideranças e através de um vídeo, tornou oficial o que podemos definir como a agenda da “Nova Ordem Mundial” à ser aprofundada na próxima edição prevista para o segundo semestre de 2021 em Davos, Suiça. São previstas as presenças das maiores autoridades políticas e empresariais do mundo, especialistas nos temas ambientais, sociais, epidêmicos, além das grandes corporações tecnológicas e das Redes Sociais.
Afirmações de Klaus Schwab, fundador e executivo do FEM:
“Todos os países, dos Estados Unidos à China, devem participar, e todos os setores, bem como a tecnologia de petróleo e gás, devem ser transformados”. “Em suma, precisamos fazer ‘O Grande Reinício’ do capitalismo.” “A pandemia representa uma rara janela de oportunidade para refletir, reimaginar e resetar o mundo.”
O que esperar deste próximo encontro da Elite Global? Que consequências seus anúncios trarão para a sociedade humana? Este Blog atento a sua missão de analisar o impacto das mudanças exponenciais na Vida de todos nós, antecipa aqui algumas decisões que vem por aí e como nos preparamos para lidar com elas.



Motivação!

Recentemente o Fundo Monetário Internacional avalizou que o mundo vive um risco de depressão econômica global, comparável a década de 30, por consequência do “Crash” da Bolsa de Valores de 1929. É preciso trazer luz a realidade de que tal expectativa decorre da crise mal resolvida de 2008, cujas autoridades políticas e líderes do mercado financeiro, jogaram a sujeira para baixo do tapete. O mundo sofreu naquela altura uma crise ética que quebrou a economia global por conta de uma ambiciosa especulação financeira e imobiliária. Nos dias atuais, as consequências econômicas ocasionadas pela pandemia do Covid19 soma-se a este histórico e não pode ser visto de forma isolada, ignorando este legado maligno dos atores que hoje utilizam o argumento da Pandemia para justificar uma proposta do FEM, chamada: “A Grande Reinicialização Mundial”. Para melhor entendimento é preciso recorrer a história recente quando em 1944, com a segunda guerra ainda em curso, 44 países aderiram ao Acordo de Breton Woods que estabeleceu uma Nova Ordem Monetária, coordenada por organismos internacionais criados para definir “Políticas Públicas e Regulamentações Globais” como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, por exemplo.



O que Prometem os “Reinicializadores Atuais?”

Desta vez, pretendem reinaugurar o Capitalismo com aparente sensibilidade social. Vamos lá: Pretendem estabelecer a sonhada “renda mínima universal”, dar “garantia de assistência médica global para todos”, assegurar um futuro resiliente, igualitário e sustentável e evocam para tanto, “um novo contrato social” com respeito racial, preservação ambiental e contenção das mudanças climáticas (descarbonização da economia). Ainda no campo econômico, pregam um certo nivelamento econômico e social entre as Nações. Consideram o pagamento de uma renda mínima para erradicação da pobreza extrema.

O Preço a Pagar:

Controle máximo sobre os indivíduos: Obrigatoriedade de Vacinações para esta e futuras pandemias; Exigência de Passaporte Genético; Implantação de Controle de comportamento em massa, via Score Social, Capitalismo de Vigilância; Engenharia Social baseada em regulamentações, etc.

A característica da “Grande Reinicialização”

Ao invés de se impor explicitamente, condicionará benefícios sociais e oportunidades, a submissão da Sociedade ao controle do Estado pela via das regras por ele estabelecidas e entendidas como “melhor para todos”. O controle comportamental se dará refletindo as preocupações da Elite Global com a crescente Desigualdade Social:



Concentração de Renda

Recentemente o Instituto Britânico, Oxfam dedicado a medir as desigualdades sociais em âmbito global, em seu mais recente Relatório, intitulado: “Tempo de Cuidar”, apresentou aos bilionários de Davos, dados que deveriam minimamente gerar algum desconforto: 2.153 privilegiados pelo atual modelo de concentração de renda, têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas. A Diretora Executiva da Oxfam, Katia Maria, afirmou: “Se a população 1% mais rica do mundo pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre a riqueza nos próximos 10 anos, seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e de cuidado para idosos”. Essa afirmativa mostra que ao invés de sinalizarem com “pacotes de bondades universais”, obviamente atrelados a perpetuação de seus privilégios e controle das massas, carregam sim o peso de uma imensa injustiça social por eles protagonizada.
Enquanto 690 milhões de pessoas padecem de fome, chamam de meritocracia, concentrações inexplicáveis de renda, a exemplo de Jeff Bezos da Amazon (o ser humano mais rico do mundo), cuja fortuna é estimada em US$200 bilhões. A ideia da Renda Mínima Universal defendida por economistas, sociólogos e humanistas sérios e respeitáveis, passa a ser cooptada para se envernizar de consciência social o verdadeiro interesse dos formuladores do “Great Reset” que já optaram pela adoção da Manufatura Aditiva da Indústria 4.0, ou seja, robotização em escala mundial, substituindo o modelo da era industrial baseado em mão de obra humana.



O Score Social é uma forma centralizada de policiamento comportamental. Imagine que a depender da sua pontuação você não será autorizado a deslocar-se de um estado para outro, ou de uma cidade para outra. Limitação de sua candidatura à um emprego público, restrição no acesso aos serviços comunitários, programas habitacionais, entre outros. Para quem considera um exagero tal previsão, digo que a China já implementa o controle de sua população utilizando alguns mecanismos de monitoramento.



O Fim dos Criatórios e Abatedouros de Animais

Existem inúmeras regulamentações voltadas à contenção das alterações climáticas e preservação do meio ambiente. Uma que me chama a atenção por tratar-se de um tema tratado neste Blog na série: “O Futuro Fértil da Alimentação” é o combate ao setor pecuário. Os argumentos já reiterados incluem o fato de que milhões de toneladas de dejetos de animais são despejados nos lençóis freáticos todos os dias; que cada Kg de carne, consome 10 mil litros de agua; que milhões de hectares são devastados em áreas de florestas e biomas como o Cerrado, para a criação de pastos ou produção de grãos utilizados em boa parte (30%), como ração para engordar animais para o consumo humano; que a exalação do metano por parte dos milhões de bovinos, atingem diretamente a camada de ozônio entre outros argumentos imbatíveis. Contudo, o nome do jogo é “Controle da proteína Animal em nível planetário”, não uma sensibilidade ecológica despertada pelas Big Techs e os 5 maiores Grupos controladores do processamento de alimentos no mundo, que pretendem apropriar-se do mercado pecuário através da reprodução celular em laboratório. Apenas para configurar, o mercado pecuário movimenta uma cifra global de US$1,4 trilhões. Para quem já controla o mundo pela via dos algoritimos e produz bilhões de dólares com o que lhes damos gratuitamente, no tráfego que geramos nas redes sociais e com o armazenamento de dados em suas nuvens, controlar a riqueza gerada com a nutrição global será uma questão de pouco tempo. A Amazon não por acaso tem investido em Foodtechs e no varejo de alimentos. Um exemplo é o Amazon Go, supermercado baseado em Inteligência Artificial que utiliza-se da identificação de presença e consumo de seus clientes e a Rede Whole Foods americana, adquirida pela bagatela de US$16 bilhões por parte de Jeff Bezos (Amazon). Estas iniciativas ilustram bem que as apostas neste setor são para valer e o “Great Reset”, favorecerá muito a centralização deste foco de negócios. Acrescento as Fazendas Verticais de altíssima tecnologia de precisão e a indústria de proteína vegetal (Plant Based) que passam a invadir as gôndolas de supermercados de todo o planeta.



Os Donos do Mundo

Os poderosos, idealizadores desta Tecnocracia Digital, temem as manifestações que se insurgem contra suas vidas encasteladas. Refiro-me às pressões sociais cada vez mais estruturadas, em busca de igualdade, respeito racial, respeito às diferenças de gêneros, a tolerância religiosa, entre outros. As pandemias originadas por condições sanitárias precárias os alcança tanto quanto a qualquer outro cidadão pobre que coletam seus lixos, entregam suas compras, servem suas mesas, limpam o chão de suas casas, lavam suas roupas, cuidam de seus filhos, mas que seguem invisíveis diante de suas insensibilidades que uma vez descuidados, desprotegidos certamente não lhes pouparão dos efetivos contágios.
A Grande Reinicialização precisa partir da Sociedade Civil. É urgente que coletivos sociais se agreguem globalmente. O Rethink (Repensar), o Restart (Reiniciar) precisa considerar o ReSoul (Realmar) da Economia Mundial, conforme proposto pelo Movimento mundial de Francisco e Clara (origem católica), a própria encíclica papal: Fratteli Tutti do Papa Francisco e movimentos equivalentes de diversas correntes filosóficas e doutrinárias que alertam sobre a urgência da humanização da tecnologia. Que as Regulamentações Globais não sirvam de instrumentos de manipulação da sociedade humana por parte das Corporações e dos Estados Hegemônicos no Plano Global mas que resgatem a tendência de uma nova economia baseada no poder da solidariedade, da compaixão, da cooperação, do compartilhamento, da colaboração, da circulação, da reutilização.

24 novembro 2020

Nós, os da lista negra


Nós, os da lista negra
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Rui Ramos , Observador, 13.11.2020

Em 1979, também Sá Carneiro foi acusado de dar a mão à “extrema-direita”. A “extrema-direita” era então representada pelo professor Freitas do Amaral. Enfim, cada época tem o Hitler possível.

A mudança do governo nos Açores foi o mais importante acontecimento político desde 2015. De repente, quando todos já davam por adquirido um terceiro governo de António Costa, a iniciar em 2023, eis que se abre um caminho para a alternância de poder em Portugal. É natural que António Costa, entre pedidos de apoio a Viktor Orban em Budapeste e a Jerónimo de Sousa em Lisboa, se tivesse lembrado, à falta de melhor, de agarrar em André Ventura para traçar “linhas vermelhas” contra uma possível tentativa de o extrair de São Bento: que ninguém se lembrasse, para governar, de arranjar apoios “anti-democráticos”. A maior parte das pessoas, como não podia deixar de ser, riu saudavelmente. Houve quem, porém, fizesse suas as dores de Costa: foi o caso da amálgama de assinantes do manifesto da “direita democrática”, aparentemente muito empenhados, em nome de princípios que julgam ser só seus, em transformar a primeira derrota da esquerda desde 2015 em mais uma derrota da direita.

A falta de seriedade de tudo isto é por demais evidente. De António Costa não é preciso falar. Mas o manifesto talvez justifique duas palavras. Não faz sentido, bem sei, dar-lhe excessiva importância: trata-se de uma intriga partidária, promovida pelas facções derrotadas no PSD e sobretudo no CDS, mal diluídas no meio de gente talvez mais ou menos distraída. Com Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos aconchegados pelo sucesso açoriano, não lhes ocorreu ideia mais brilhante senão papaguear confusamente as acusações mais torpes com que a esquerda habitualmente demoniza os seus adversários. Da confusão, aliás, deduz-se que vislumbraram os riscos da posição falsa em que se meteram. Por isso, avançam e recuam, dizem e contradizem-se, num texto em que há de tudo menos a “clareza” que se permitem exigir aos outros. Mas nada disto é inédito. Em 1979, também Sá Carneiro foi acusado pelos seus rivais no PSD de, com a AD, dar a mão à “extrema-direita”. Deve-se dizer que a “extrema direita”, para quem não sabe ou já não se lembre, era então representada pelo professor Freitas do Amaral. Enfim, cada época tem o Hitler possível.

Até aqui, o abaixo-assinado faz parte da história do costume. Acontece que o momento da publicação foi particularmente infeliz. A lista de nomes da direita boa, a única que não pactua com o fascismo, saiu quando, nos EUA, a extrema esquerda americana, mais alguns excitados never-trumpers, como Jennifer Rubin do Washington Post, exigem listas negras de todos os que estiveram com Trump, a fim de lhes ser para sempre negado o acesso à imprensa, à universidade e à vida pública em geral. Neste contexto, a lista de nomes da “direita democrática” adquire um sentido um pouco mais sinistro. Serve, para a esquerda interessada em caçar bruxas, como uma espécie de lista negra ao contrário – uma lista branca, que, através das ausências, faz a lista negra dos que, à direita, não compararam Trump a Hitler ou aceitam acordos parlamentares com o Chega. É a lista do denunciante tímido: perguntado pelo polícia de esquerda quem, no seu bairro, são os fascistas, responde que não vai dizer os nomes dos fascistas, mas apenas os nomes dos que não são fascistas. Para o polícia, claro, é a mesma coisa. Não era essa a intenção? Há coisas que são o que são, independentemente das intenções. Por isso, lamento, mas este abaixo-assinado merece figurar na vitrine dos grandes passos em falso, ao lado do manifesto de Julho contra o livro de Riccardo Marchi.

Vamos entender-nos. A razão pela qual o PSD e o CDS, para governarem, têm todo o direito de contarem com o voto do Chega não é apenas porque o PS, para governar, conta com os votos do PCP e do BE. É porque o Chega não é – nem os manifestantes da lista branca, aliás, o afirmam claramente — um partido anti-democrático, nem uma ameaça à democracia. André Ventura quer uma “IV República”, mas reconhece no 25 de Abril um “acto de libertação”. Vale o que vale, claro. Mas o Chega não se propõe derrubar as instituições representativas e o Estado de Direito, nem defende a violência como meio de atingir os seus fins. O Chega é um partido populista e nacionalista, e é preciso alguma má fé ou ignorância para o amalgamar com partidos fascistas. Algumas das suas atitudes ou propostas são repelentes para muita gente? Também algumas das atitudes e propostas do PCP ou do BE o são. Mas temos de ser justos: o Chega nem sequer está no mesmo plano do PCP e do BE, para quem ditaduras como a da Coreia do Norte ou da Venezuela são os regimes ideais. Mais: o Chega não dirigiu nenhuma campanha para impedir a democracia em Portugal, como o PCP e os antecessores do BE fizeram em 1974-1975. Depois de derrotados, comunistas e neo-comunistas renunciaram à tomada violenta do poder. Foram, nessa condição, aceites na vida pública. O mesmo critério – que já foi o de Fontes Pereira de Melo no século XIX (há acções ilegais, mas não há ideias proibidas) — deve servir para todos os partidos.

Aceitar que certos partidos participem na vida pública, desde que respeitem a legalidade, não é, porém, o mesmo que aceitá-los como parte de governos ou de apoios a governos. Como é óbvio, isso já não deve depender da lei, mas das forças políticas. Até 2015, em Portugal, existiu um “arco da governação”, isto é, um entendimento entre o PS, o PSD e o CDS de que só eles, os partidos que apoiaram o Grupo dos Nove em 1975, a integração europeia em 1977 e as revisões constitucionais de 1982 e 1989 podiam governar. Foi António Costa quem pôs termo à tradição, quando percebeu que o PS, com a divisão dos votos à esquerda, nunca mais poderia governar em Portugal contando apenas com os seus deputados. Ora, PSD e CDS estão na mesma situação. Jamais chegarão ao governo se excluírem o eventual apoio da Iniciativa Liberal por ser demasiado “liberal” ou do Chega por ser demasiado “populista”. Se o fizessem, estariam a entregar indefinidamente o poder ao PS, mesmo quando a direita estivesse em maioria no parlamento. Seria condenar à menoridade política pelo menos metade do país. E esse absurdo, mais do que o voto de um deputado do Chega, é que é daquelas coisas que, para além de desacreditar a direita partidária, talvez comprometesse o regime. Porque quem pode subverter a democracia é quem está no poder há vinte e cinco anos, colonizando o Estado, segmentando a sociedade e arrumando quem quer que os incomode na devida lista negra.

direito ao contraditório

Entrevista a Mons. Carlo Maria Viganò: “Relatório McCarrick”


Posted: 13 Nov 2020 02:58 AM PST



Depois de, há alguns dias, ter emitido uma breve nota sobre o relatório da Santa Sé relativo ao predador sexual Theodore McCarrick, o Arcebispo Carlo Maria Viganò, denunciante dos escândalos sexuais na Igreja norte-americana, concede uma muito esclarecedora entrevista a Raymond Arroyo, que o portal Dies Iræ, a pedido de Sua Excelência Reverendíssima, traduziu e apresenta aos leitores de Língua Portuguesa.

Excelência, o relatório afirma que «não se apresentou» para mostrar provas para esta investigação vaticana: foi-lhe pedido que fornecesse informações? Alguém o contactou?

Descubro com surpresa que um dossier, em que sou mencionado 306 vezes, me acusa de não me ter apresentado para testemunhar nesta investigação sobre Theodore McCarrick. Mas a convocação das testemunhas, nos termos da lei, cabe ao instrutor do processo, com base nas provas recolhidas na fase de instrução.

A minha primeira intervenção sobre McCarrick, como Delegado para as Representações Pontifícias na Secretaria de Estado, remonta a 6 de Dezembro de 2006, na sequência de um relatório do então Núncio nos Estados Unidos, Mons. Pietro Sambi. Sucessivamente, em 2008, apresentei um segundo memorando que relatava factos de tal gravidade e tão detalhados que me levaram a recomendar a deposição de McCarrick como Cardeal e a sua redução ao estado laical. É conhecido de todos o meu testemunho de Agosto de 2018 e as minhas sucessivas declarações.

É completamente incompreensível e anómalo que não tenha sido considerado apropriado convocar-me para testemunhar, mas é ainda mais desconcertante que essa omissão deliberada tenha sido usada, posteriormente, contra mim. E não me digam que me tornei indisponível: o meu e-mail pessoal está na posse da Secretaria de Estado e ainda está activo.

Por outro lado, assim como não fui interpelado para a redacção do Relatório McCarrick, também, em 2012, os três Cardeais, designados por Bento XVI, não me chamaram para as investigações sobre Vatileaks 1, que também me viu pessoalmente envolvido. Só no seguimento de um explícito pedido meu é que o Card. Julian Herranz, que presidia à Comissão, me permitiu testemunhar, com estas palavras: «Se queres mesmo…!».

De outra parte, parece-me significativo que mesmo James Grein, a única vítima dos abusos sexuais de McCarrick que teve a coragem de denunciá-lo publicamente, não apareça no dossier e que não haja nenhum vestígio do seu depoimento, no qual também deveria ter referido a viagem feita, com McCarrick, a São Galo, no final dos anos cinquenta.

Das declarações públicas de James Grein, fica claro que o início da ascensão de McCarrick – então um neo-sacerdote – coincidiu com aquela visita à Suíça, a um mosteiro que, mais tarde, foi o local dos encontros dos conspiradores da chamada “máfia de São Galo”. Segundo as declarações do defunto Card. Godfried Danneels, aquele grupo de Prelados teria decidido favorecer a eleição de Bergoglio, seja depois da morte de João Paulo II, seja durante o Conclave que se seguiu à controversa renúncia de Bento XVI.

Lembro-me que, durante uma conferência na Villanova University, a 11 de Outubro de 2013, o então Card. McCarrick admitiu que era favorável à eleição do Card. Bergoglio no início das Congregações Gerais do Conclave, realizadas alguns meses antes.

Pergunto-me que confiabilidade pode ter um órgão judicial num claro conflito de interesses devido às suas relações anteriores com o acusado. Como podem Bergoglio e a Secretaria de Estado, que dele depende, fingir parecer imparciais quando McCarrick ia ao Vaticano com uma anómala frequência; quando, em Junho de 2013, foi encarregado de uma viagem diplomática à China? E como podem pensar que reiteradas tentativas de encobrir e de negar as suas responsabilidades não sejam a causa da sistemática tentativa de me desacreditar como testemunha, para não trazer à luz a cumplicidade e a conivência entre eles e o próprio McCarrick?

De acordo com o relatório, o Papa afirma que não foi por si informado das actividades ou das restrições de McCarrick em Junho de 2013. Qual é a sua resposta?

Esta afirmação é absolutamente falsa. Em primeiro lugar, foi o próprio Bergoglio, a 23 de Junho de 2013, a pedir expressamente a minha opinião sobre McCarrick. Como testemunhei no meu memorando de 2018, «respondi-lhe com toda a franqueza...:“Santo Padre, não sei se conhece o Cardeal McCarrick, mas se perguntar à Congregação para os Bispos, há um dossier muito grande sobre ele. Corrompeu gerações de seminaristas e de sacerdotes, e o Papa Bento forçou-o a retirar-se para uma vida de oração e de penitência”. O papa não fez o menor comentário sobre as minhas palavras tão graves e não mostrou nenhuma expressão de surpresa no rosto, como se já o soubesse há algum tempo, e mudou imediatamente de assunto. Mas, então, com que propósito é que o papa me fizera aquela pergunta: “Como é o Cardeal McCarrick?”. Evidentemente, queria saber se eu era aliado de McCarrick ou não».

Devo observar que soube pelo próprio McCarrick que Bergoglio o recebera quatro dias antes da minha audiência e que o autorizara a ir à China. De que adiantou pedir-me uma opinião, quando Bergoglio demonstrava que tinha a maior estima por McCarrick?

Enquanto isso, McCarrick vinha tranquilamente a Roma, recebia tarefas do Vaticano, inclusive oficiais, e continuava as suas actividades como se nada tivesse acontecido. Em Maio de 2014, soube, pelo Washington Times, de uma viagem de McCarrick, em nome do Departamento de Estado (o Secretário de Estado era, à época, John Kerry), à República Centro-Africana; também é mencionado no relatório. Estamos a falar de 2014; mas Bento XVI, desde 2008, tinha ordenado ao Cardeal americano que se retirasse para a vida privada, que não celebrasse ou interviesse em eventos públicos, que não viajasse.

Por este motivo, dada a forma como era tratado McCarrick, perguntei ao Card. Parolin se as sanções contra ele ainda deviam ser consideradas válidas. Mas não obtive resposta. A essa altura, depois de ter comunicado pessoalmente ao Papa, não tendo recebido resposta do Secretário de Estado, o que poderia ainda fazer? A quem apelar?

Pelo relatório, fico a saber que as tarefas e viagens contínuas de McCarrick ao exterior eram consideradas, pelo Arcebispo Wuerl e até pelo Núncio Sambi (falecido em 2011), como uma «forma suficiente de afastamento» (cf. nota 1013 do relatório). E fico sinceramente chocado ao saber que «as indicações não eram “sanções”; não foram impostas pelo Papa Bento XVI; McCarrick nunca foi proibido de celebrar Missa em público; McCarrick não foi proibido de proferir conferências. O Cardeal Re não impôs a McCarrick a “obrigação” de se dedicar a uma vida de oração e penitência; e McCarrick permaneceu livre para conduzir actividades, incluindo as viagens, com a permissão da Santa Sé, compreendido o Núncio» (cf. nota 1006, ibidem). Se assim é, significa que, apesar da conduta reprovável do Cardeal, a Santa Sé não considerou oportuno tomar medidas disciplinares contra McCarrick, o que confirma a minha denúncia sobre a corrupção da Cúria.

O relatório faz de tudo para tentar retratá-lo como inadimplente na investigação das alegações do Padre 3. (Menciona apenas o facto de que tenha sido Vossa Excelência a trazer estas preocupações à Santa Sé em primeiro lugar). Evitou colocar-se «na posição de verificar a credibilidade do Padre 3»?

É evidente qual foi o meu papel ao trazer à luz os escândalos de McCarrick e que sempre tomei medidas para relatar à Santa Sé qualquer informação chegada à minha posse. Recordo que estamos a falar de 2012, quando tinha sido recentemente nomeado Núncio nos Estados Unidos.

O relatório acusa-me de não ter dado seguimento ao pedido de informação sobre as acusações do «Padre 3» contra McCarrick. Algo absolutamente falso! São os mesmos redactores do relatório a fornecer as provas do engano que planearam para me atingir e desacreditar. Com efeito, afirma-se, noutro ponto do relatório, que, a 13 de Junho de 2013, escrevi ao Card. Ouellet, enviando-lhe a carta que o bispo Bootkoski me tinha dirigido e a carta enviada ao «Padre 3». Informei-o de que a denúncia civil do «Padre 3» havia sido encerrada sem possibilidade de recurso. O bispo Bootkoski qualificava as acusações do «Padre 3» como falsas e caluniosas.

Gostaria de enfatizar um aspecto em particular. Aqueles que me acusam de não ter enviado uma comunicação escrita a Mons. Bootkoski, Ordinário do «Padre 3» e Bispo de Metuchen, sabem bem que isso depende das indicações precisas da Secretaria de Estado. E sabem igualmente bem – como confirma o relatório – que houve uma comunicação telefónica entre mim e o bispo Bootkoski, da qual, no que me diz respeito, informei o Cardeal Ouellet.

Não se deve esquecer que naqueles anos havia advogados que não se contentavam em chamar em juízo as Dioceses por crimes cometidos por sacerdotes, mas queriam demonstrar que a própria Santa Sé – como quartel-general de uma multinacional – tinha a responsabilidade última nas indemnizações por abusos. Sabe algo sobre isso o advogado Lena, que conseguiu, em dois distintos processos, evitar que a responsabilidade do encobrimento dos abusos recaísse sobre o Papa Bento XVI.

E o que pensa do facto de o relatório atribuir a João Paulo II e a Bento XVI a maior parte da culpa pela promoção e confirmação de McCarrick na Igreja?

As intenções dos redactores do relatório são claras: descarregar as responsabilidades das promoções de McCarrick sobre os Predecessores, um defunto e canonizado (João Paulo II), o outro idoso e débil (Bento XVI). O primeiro não pode se defender do túmulo, o segundo é brando demais para repudiar abertamente o seu sucessor, chamando-o de mentiroso e desacreditando, com ele, também a função que exerce. O que é desconcertante é que dentro do mesmo relatório – elaborado por várias mãos, naturalmente – existem inúmeras contradições, a ponto de tornar pouco credíveis os argumentos apresentados.

Pergunto-me então: quem convenceu João Paulo II e Bento XVI a não levar em conta as graves acusações sobre McCarrick? Quem tinha interesse em fazer com que McCarrick fosse promovido, de modo a tirar vantagens em termos de poder e de dinheiro?

Provavelmente, alguém fez João Paulo II acreditar que as acusações contra McCarrick tinham sido feitas propositalmente, segundo o modelo das operações de descrédito que a Polónia comunista já havia realizado contra bons bispos ou sacerdotes que se opunham ao regime.

No caso de João Paulo II, o principal interesado na promoção de McCarrick era, certamente, o Cardeal Sodano. Foi Secretário de Estado até Setembro de 2006: todas as informações chegavam-lhe. Em Novembro de 2000, o Núncio Montalvo enviou-lhe o seu relatório e as denúncias de graves abusos cometidos por McCarrick.

Não esqueçamos que, naquele período, estourou o escândalo do padre Maciel, que Sodano tentou encobrir, chegando a falsificar um comunicado de Bento XVI em que se dizia que o Papa considerava o caso encerrado. Bento XVI convocou uma plenária da Congregação para a Doutrina da Fé e o Cardeal Arinze conseguiu que Maciel fosse condenado, não obstante a oposição do Secretário de Estado.

O nome do Card. Sodano também apareceu envolvido numa escandalosa especulação imobiliária. Em 2003, o sobrinho do Purpurado, o engenheiro Andrea Sodano, com cartas de recomendação do tio Secretário de Estado e na qualidade de consultor da imobiliária Follieri (em alguns actos oficiais é também indicado como Vice-Presidente do grupo), adquiriu, ao desbarato, bens das Dioceses americanas condenadas a indemnizar os danos dos processos civis por abusos sexuais, obtendo para si uma enorme vantagem económica em detrimento dos danos da Igreja. Raffaello Follieri, dono da holding, foi condenado por fraude e lavagem de dinheiro, justamente por operações imprudentes na comprova e venda desses imóveis. Desnecessário dizer que Follieri tinha estreitas relações com a Clinton Global Initiative e a família Clinton, assim como com os Democratas: «O ex-presidente e a senadora Hillary são nossos amigos», vangloriou-se Follieri.

Repetem-se as estreitas relações, as mesmas cumplicidades, as mesmas frequentações. McCarrick, Clinton, Biden, os Democratas, os Modernistas. Com um não indiferente cortejo de homossexuais e abusadores em série.

Quanto a Bento XVI, quem tinha um acesso diário e directo ao Papa eram o Secretário de Estado, Bertone, e o Substituto, Sandri, que conseguiam controlar e filtrar as informações sobre McCarrick e exercer pressão sobre ele.

Também neste caso, o relatório fala por si. A apresentar a questão directamente ao Papa Bento XVI foi o Card. Bertone, que, ao contrário do que eu havia proposto repetidamente – isto é, que as acusações muito graves e detalhadas contra McCarrick exigiam um procedimento canónico exemplar até à sua remoção do Colégio Cardinalício e à sua redução ao estado laical –, induziu o Papa Bento XVI a decidir que não fosse instruído um processo, nem prescritas sanções canónicas, mas que simplesmente se apelasse à «consciência e ao espírito eclesial» de McCarrick.

E aqui aparece evidente mais uma flagrante contradição: como se concilia um simples apelo à consciência com as instruções formais que foram dadas ao Núncio Sambi e a mim, segundo as quais McCarrick não podia residir no Seminário onde estava hospedado, não poderia participar em actividades públicas, não podia viajar e tinha que levar uma vida retirada de oração e de penitência?

A corrupção dos vértices do Vaticano é tão evidente que é possível considerar este relatório como uma indigna tentativa de fazer Bergoglio parecer absolutamente alheio às manipulações da Cúria, mais, uma espécie de perseguidor implacável dos corruptos, enquanto a evidência dos factos demonstra o contrário. Eu diria que Bergoglio está para a deep church como Biden está para o deep state...

Permito-me observar que o facto de culpar João Paulo II pela nomeação de McCarrick, malgrado o parecer negativo da Congregação dos Bispos e do seu Prefeito, Card. Re, também poderia aplicar-se ao próprio Jorge Mario Bergoglio, sobre o qual o Geral dos Jesuítas expressara fortes reservas. Se Wojtyla se enganou com McCarrick e, por isso, é implicitamente considerado responsável pelos escândalos verificados, o que impede que este julgamento se estenda também à promoção de Bergoglio como Arcebispo de Buenos Aires e, depois, como Cardeal? Recordo que, naquele Consistório de 2001, para além de McCarrick e de Bergoglio, receberam o barrete expoentes da Máfia de São Galo...

Há mais alguma coisa que devamos abordar?

Para terminar, gostaria de citar um artigo recente de Riccardo Cascioli, fazendo meu o seu lúcido juízo: «Embora emerja do relatório a figura de um McCarrick predador em série, a grande reacção é desencadeada apenas quando, em 2017, chega a primeira denúncia de abusos de um menor [...] Na prática, dizem-nos que os “comportamentos imorais com adultos” não são, certamente, uma coisa boa, mas, no final, são tolerados; o alarme real, aquele que também prevê sanções pesadas, só é accionado com a menor idade do abusado. Como se as dezenas e dezenas de futuros padres que partilharam a cama com McCarrick e, portanto, em grande parte condenados a uma vida sacerdotal, no mínimo, desequilibrada, não contassem muito. Como se a devastação moral e de fé provocada por um bispo predador – vocações perdidas, sacerdotes que, por sua, vez repetirão os abusos, nomeações episcopais distorcidas por laços mórbidos – fossem um problema menor. [...] É duvidoso, acima de tudo, porque se ignorou, deliberadamente, que o que permitiu a irresistível ascensão de McCarrick foi um sistema de poder também chamado de lobby gay, que favorece a nomeação e a carreira de bispos com determinadas características. [...] Não, não há, realmente, um sinal de que a Igreja tenha aprendido com o caso McCarrick; pelo contrário, há a sensação de que se faz pagar um para poderem continuar tranquilamente os outros. E, enquanto isso, promover a ideia de que, para um padre, ter tendências homossexuais não é um problema».

Nesta grotesca farsa, agora envolta numa falsa aparência de legalismo, não se hesita em arrastar para a lama toda a Igreja, o seu prestígio perante o mundo, a sua autoridade em relação aos fiéis, para salvar a imagem, agora comprometida, de Prelados corruptos, indignos e perversos. Limito-me a observar que, no Vaticano, Bergoglio ainda se rodeia de homossexuais conhecidos e de personagens com reputação seriamente comprometida. Esta é a mais flagrante negação da alegada obra moralizadora de Bergoglio.

Agora, os países malditos

Judit Varga: "Os fundos europeus não podem depender de questões ideológicas"


Marisa Matias considera que o chumbo aos fundos comunitários por parte da Hungria e da Polónia - países que para a bloquista seguem linhas políticas "racistas e xenófobas" -, tem "imensas consequências" (Observador, de 18.11.2020).

Os grandes meios de comunicação social, aqui e “lá fora”, os partidos de esquerda claro mas também os liberais e do centro e da direita “civilizada” consideram o mesmo.

Os lobbies dos LGBTkwyxz, do cancel culture, os subsidiados do Soros (ou da Sonae de cá de casa), os entusiastas do MERCADO que tem nos olhos cifrões do Tio Patinhas e querem incentivar as migrações sul-norte e oriente-ocidente para captar mão de obra barata e acabar com as identidades nacionais europeias, vêem em Varsóvia e em Budapeste um empecilho.

De que se trata afinal?

Nas próximas semanas este será um dos temas na mesa, a tentativa de encurralar a Hungria e a Polónia como os ”vilões” que, recusando-se a ceder à chantagem, estarão a empatar as ajudas financeiras para combater o Covid e suas consequências trágicas na economia.

Que querem e quem são afinal esses vilões?


Para começar leia-se esta entrevista à ministra da Justiça da Hungria, publicada no diário espanhol ABC de há poucos dias.

Judit Varga: "Os fundos europeus não podem depender de questões ideológicas"

ABC, Internacional, 20.11.2020

Entrevista a Judit Varga, ministra de Justicia de Hungria

«A Europa tem raízes cristãs»

-O que é "orbanismo"?

- Não existe "orbanismo". O governo húngaro assume os valores da democracia cristã e dos conservadores e representa os interesses da Hungria e dos húngaros.
-Na sua opinião, quais devem ser os valores da UE?
- A Europa tem uma cultura e raízes cristãs. Há um ditado que diz que na Europa mesmo aqueles que se declaram ateus são cristãos. E isso faz sentido, uma vez que os nossos costumes e a cultura que nos rodeia, mas também os valores europeus e o conceito de direitos humanos têm raízes na tradição cristã.
A ministra da Justiça, Judit Varga, é uma das negociadoras do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, para assuntos da UE. Especialmente agora, quando seu governo bloqueia o novo orçamento europeu e o fundo de recuperação para fazer frente à crise do covid-19 por uma questão de Estado de direito. A Polónia é o outro país que exerceu o seu direito de veto.
Em conversa telefônica ontem com o ABC, Varga defende que "a concessão desse fundo não pode estar ligada a questões ideológicas ou ao Estado de Direito". Ele acredita que esta nova imposição foi criada para impedir o avanço de políticas e posições conservadoras sobre a imigração ilegal.
- A posição do seu governo não é uma chantagem completa para a UE?
-Na Hungria, é uma questão de honra cumprir a palavra. E em julho, após árduas negociações, os líderes da UE chegaram a um grande acordo: os fundos europeus não podem estar sujeitos a condições políticas e ideológicas. Ou seja, eles não podem ser uma ferramenta para buscar políticas que estão fora da corrente dominante da opinião progressista. Agora, esse acordo foi quebrado em Bruxelas. A presidência rotativa alemã da UE, com a qual mantivemos negociações constantes, também estava ciente disso. Sabendo de tudo isso, em vez de considerar isso uma chantagem, acho que é uma questão de honra cumprir o acordo. Ou eu diria que a chantagem é contra países como a Hungria. No fundo, há um problema: eles querem influenciar nossa família ou políticas de imigração.

- A Espanha deve temer a chegada desse fundo de recuperação?

-A Hungria, num espírito de solidariedade, está disposta a pedir empréstimos aos seus parceiros europeus para apoiar os países membros que hoje enfrentam desafios económicos e financeiros. Esta é uma concessão importante por parte da Hungria, pois, em nossa opinião, não é a melhor forma de lidar com a crise. Precisamos de trinta anos para sair da grave situação econômica gerada pelo endividamento do regime comunista. Ora, se os espanhóis receberem a ajuda necessária não depende de nós, mas de quem quer condicionar os orçamentos europeus com questões ideológicas.

-Por que você teme que os mecanismos do Estado de Direito sejam aplicados contra a Hungria?
-Com o comunismo aprendemos que o que está fora da linha ideológica oficial é punido, mesmo que não tenha violado a lei. Hoje em dia, essa ideologia globalista é o que eles querem impor e se alguém não o faz, eles colocam sanções sobre eles. É isso que eles querem impor à nossa frente agora. Às vezes abertamente e às vezes escondido em palavras ambíguas. Se alguém não acredita em mim, basta ler as declarações de diferentes líderes nas quais pedem para punir a Hungria. E o aspecto mais sério e preocupante do projeto de condicionalidade do Estado de direito é que nem as condições para impor medidas, nem as condições para iniciar o processo estão definidas, o que dá à Comissão uma ampla margem para uma avaliação subjetiva. Acima, a proposta é contrária aos Tratados europeus. Hoje já temos um mecanismo de defesa do Estado de direito, que regula o artigo 7º do Tratado da UE. Hoje a mídia e as chamadas ONGs podem acusar qualquer país a qualquer momento de que o Estado de Direito não é respeitado naquele país. Se introduzirmos agora um novo mecanismo sem margens definidas, sem definições exatas e sem garantias processuais, isso significaria que mais tarde, os fundos europeus de qualquer país poderiam ser retidos por qualquer motivo. A Hungria partilha todos os valores do artigo 2.º do Tratado da UE e tivemos de lutar pela liberdade e pela democracia.

-A Lei de Emergência da Hungria foi criticada por seu autoritarismo no Parlamento Europeu. O governo de Viktor Orbán é acusado de governar por decreto, também por causa de suas leis contra a comunidade LGTB. O mesmo é verdade na Polônia. Qual é a sua avaliação dessas acusações?
-A lei húngara sobre o estado de alarme não difere de outras leis europeias, exceto que concede mais poderes ao parlamento. Reúne-se fisicamente e exerce seu poder de controlar o governo sem impedimentos. Na verdade, o Primeiro-Ministro, Viktor Orbán, comparece regularmente para prestar contas da situação pandêmica e das medidas do Governo. Mas, fora isso, o parlamento mantém seu funcionamento normal e processa leis e até mesmo reformas da Constituição. Uma delas é o projeto de declarar na Constituição que a mãe é mulher e o pai é homem. Isso simplesmente tenta declarar o óbvio e os fatos da natureza. Vivemos em um mundo muito estranho se formos criticados por isso.

-Você acha que há dois pesos e duas medidas com os países "pequenos" e "mais jovens" na UE para essas questões?

-Se você estudar o relatório da Comissão Europeia sobre o Estado de Direito publicado recentemente, verá claramente os padrões duplos. O relatório se concentra em países selecionados, previamente selecionados. Esses países são precisamente a Polónia e a Hungria e, no caso de outros Estados-Membros, esquecem-se de denunciar várias violações de direitos. Portanto, os critérios da Comissão para avaliar os países membros não são objetivos nem iguais para todos. Basta ver a escolha dos temas e, principalmente, as fontes utilizadas.

02 novembro 2020

“...DISCRIMINAÇÕES CONTRA CRISTÃOS…”




Jaime Nogueira Pinto


Dos Fiéis Defuntos
ao “Luto Nacional”



Com a Covid 19 e as necessidades de confinamento, quem decide aproveitou para dar mais um passo nas discriminações contra os cristãos.
«Proudhon tinha razão escrevendo: Deus é o mal. Laplace tanto ou mais tinha razão ainda, escrevendo também: a hipótese de Deus é inútil. Mas, acima de todos, a apóstrofe exacta, indispensável, urgente de realizar, vibrou-a Bakunine: “Deus! Mas é preciso suprimi-lo.”»
O autor destas palavras foi um dos chamados “vultos republicanos”, de seu nome Fernão Botto Machado. Quem folheie o Almanaque Republicano e dê com ele, de jaquetão e bigodes retorcidos, mais depressa dirá estar perante um galã da Vizinha do Lado, de André Brun, que de um ferrabrás do ateísmo. Mas engana-se.
Nascido em 1865, autodidacta (não fez exame da instrução primária), Botto Machado entrou para a Maçonaria em 1893, na Loja “Cavalheiros da Verdade” e circulou depois por outras Lojas com nomes igualmente ambiciosos em termos programáticos, como a “Renascença” e a “Razão Triunfante”. De resto, grande parte dos dirigentes republicanos de há 90 anos, quando proclamaram a Primeira República, pertencia à Maçonaria. Eram maçons os dois líderes desaparecidos nas vésperas da vitória, Cândido dos Reis e Miguel Bombarda; era maçon Machado Santos, o herói da Rotunda; eram maçons Bernardino Machado, Sebastião de Magalhães Lima, Afonso Costa e António José de Almeida. E todos tinham expressivos nomes de guerra – Afonso Costa, por exemplo, era “Platão”.
Para a maçonaria francesa do Grande Oriente, a versão dominante e triunfante em Portugal, a Igreja era o inimigo a abater, devendo os maçons, amantes da Razão, da Ciência e do Progresso, seguir o conselho do irmão Voltaire, iniciado na loja das Nove Irmãs de Paris, e “Écrasez l’Infâme”. Além das questões teológicas de fundo, não seria, pois, de estranhar que sucessivos papas e encíclicas condenassem a Maçonaria e proibissem aos católicos qualquer filiação maçónica.
A primeira vez que os maçons tiveram verdadeiro poder temporal foi com a Revolução Francesa. Então, milhares de sacerdotes e religiosos foram mortos. E como os camponeses vendeanos, católicos, monárquicos e fiéis à pequena nobreza local, estragavam o cenário revolucionário (saindo da categoria de “sábio povo em armas pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade” e entrando directamente na de “deplorável povo ignaro”), a “Razão, a Ciência e o Progresso” ditaram o genocídio.
Em França, este anticlericalismo activo marcou, depois, a modalidade revolucionária da Comuna de Paris, que fuzilou vinte e quatro eclesiásticos, entre eles o Arcebispo de Paris, Monsenhor Darboy. E políticos da época, como Jules Ferry e Léon Gambetta, não deixaram de perseguir as ordens religiosas, de prender padres e, sobretudo, de lançar as mais absurdas calúnias sobre a Igreja.
Em Portugal, em 1910, os activistas mais zelosos entre os correligionários de Botto Machado, não podendo matar Deus – invisível mesmo ao olho vivo da Loja –, liquidaram dois padres Lazaristas, o Padre Bernardino Barros Gomes, ilustre cientista botânico, e o Padre Alfredo Fragues, confessor da Rainha, morto à coronhada e a tiro.
Seguiram-se a expulsão dos Jesuítas (após científicas medições cranianas indiciadoras de anomalias anatómicas que sinalizavam inequívocas tendências criminais) e uma série de medidas laicizantes, como o fim dos feriados religiosos. O Natal, mais difícil de abolir, foi esvaziado e reformulado como “Festa da Família Portuguesa”.
E como era também necessário higienizar a História, o Primeiro de Janeiro passou a Dia da Fraternidade Universal e o 31 de Janeiro a Dia dos Precursores e Mártires da República. O Primeiro de Dezembro escapou como feriado, mas deixou de ser Dia da Restauração para passar a ser, mais correctamente, o Dia da Autonomia da Pátria Portuguesa. Deu-se também o habitual saneamento da toponímia e multiplicaram-se os nomes de ruas e praças 5 de Outubro e República, como, décadas depois, as 25 de Abril.
As esquerdas (liberais maçonizantes, anarco-progressistas e comunistas) promoveram, em todas as revoluções do século XX, uma encarniçada perseguição à Igreja e aos cristãos, prendendo, torturando e matando padres, religiosos e leigos – na Revolução Bolchevique, na Revolução Mexicana, nos regimes comunistas implantados na Europa Oriental, na China, no Vietname e em Espanha, na Guerra Civil, onde os frente-populistas mataram mais de sete mil bispos, padres, religiosos e freiras, e milhares de católicos, apenas por o serem. Mais que Diocleciano, que não fora meigo com os seguidores de Cristo. Tal como os primeiros séculos da Era Cristã até Constantino, o século XX foi também um século de mártires.
Mas porque se tornaram impossíveis as revoluções bolcheviques – com o ataque armado e a ocupação das centrais telefónicas, das estações de comboios, dos Palácios de Inverno –, e porque Lenine e a sua teoria da revolução foram sendo, no ocidente euroamericano, substituídos por Gramsci e pelas revoluções culturais, a guerra à Igreja, às Igrejas cristãs e a toda a transcendência monoteísta (cristã, judaica ou islâmica) foi mudando de forma.
Hoje já não se trata de expulsar ordens religiosas, de matar padres, de queimar igrejas, como fizeram os democráticos de Afonso Costa em 1910 ou os frente-populistas madrilenos na Primavera de 1936. Trata-se de descristianizar a sociedade mansamente, em suaves prestações, de modo politicamente correcto, indolor, através de leis passadas com ar inocente e distraído, como grandes conquistas da liberdade e do progresso ou já nem isso.
O que se está a fazer entre nós é uma progressiva e estratégica descaracterização da sociedade para cumprir agendas radicais internacionais, através de leis pretensamente libertadoras, passadas “à candonga”, que vêm, não só descristianizando mas desnaturalizando o país: leis inspiradas nas mais delirantes quimeras que oferecem a possibilidade (financiada pelo Estado) de mudar o corpo e moldá-lo, com hormonas, mutilações e enxertos, ao género apetecido; leis que transformam o casamento, mesmo o casamento civil, num contrato entre dois seres, quaisquer que sejam, agora dois homens ou duas mulheres, qualquer dia, quem sabe que mais; leis contrárias à geração de vida numa sociedade que já está há muito com taxas negativas de reprodução; leis que são negociadas e passadas sem qualquer respeito pelo debate público, como a da Eutanásia, aprovada ignorando o parecer negativo da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Enfermeiros, da Ordem dos Advogados, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, da Associação Portuguesa dos Cuidados Paliativos e um abaixo-assinado de cerca de cem mil cidadãos.
Leis que uma esquerda dita moderada, que aceita os pressupostos do capitalismo europeu, vai levianamente negociando por conveniência momentânea com os esquerdistas do marxismo cultural, perante a sonolência geral e acomodada dos que assistem tranquila e resignadamente a estas mudanças – talvez sem se aperceberem que são estas as mudanças que verdadeiramente importam.
Com a Covid 19 e as necessidades de confinamento, quem decide aproveitou para dar mais um passo nas discriminações contra os cristãos. Controles para a Páscoa, mas não para o 25 de Abril; para o 13 de Maio em Fátima, mas não para o 1º de Maio na Alameda; 27 mil pessoas com luz verde para acorrerem à Fórmula 1 em Portimão, mas proibição de deslocações para que os cristãos – e os não cristãos – possam visitar e honrar os seus mortos nos cemitérios no Dia de Fiéis Defuntos. Muitos não puderam sequer acompanhar os seus familiares e amigos mortos recentemente e os cemitérios são ao ar livre, com acessos que poderiam ser controlados com facilidade para evitar aglomerações, mas pouco importa.
Como todos os regimes que, no passado, quiseram regular e imprimir a sua marca nas coisas da Vida e da Morte, ainda que contra a liberdade, o sentimento e as convicções do “povo ignaro”, o poder político resolveu agora esvaziar uma celebração cristã, o Dia dos Fiéis Defuntos, e impedir uma prática enraizada, dando-nos magnanimamente em troca uma bandeira a meia-haste e um asséptico e socialmente distante “Dia de Luto Nacional por Todos os Falecidos, em Especial as Vítimas da Pandemia da Doença Covid-19”.
Mas o povo e a Igreja, por mais adormecidos que aparentemente estejam, têm acabado sempre por acordar. E por resistir.
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Nota extra:
Entre as medidas que o Governo está a tomar para nos “proteger”, algumas trazem um cunho ideológico que vem de longe.
Enquanto em França a degola prossegue, bárbara, por aqui seguimos na mesma direcção em modo soft, regulando, condicionando e tentando esvaziar de significado datas incómodas.
Faz recordar o calendário da Revolução Francesa ou calendário republicano de 1792, criado para simbolizar a quebra com a ordem antiga e o início de uma nova era na história. Com características marcadamente anticlericais, baseava-se no ciclo da natureza. Atravessamos agora, Brumário, tempo de brumas, nevoeiro


Observador, 30.10.2020