04 dezembro 2020

1980 ASSASSINADOS!

 



1980 ASSASSINADOS

porque sabiam demais ... acerca das entidades e dos políticos envolvidos na "negociata" no tráfico de armas e munições. Portugal tinha terminado a guerra no Ultramar e os paióis militares no Continente e no Ultramar estavam a "abarrotar" com material de guerra.

Após o 25 de Abril como ex-combatente em Angola, sempre tive cinco grandes dúvidas não esclarecidas pela III república.
1ª» Portugal ofereceu o material de guerra e investimentos públicos aos antigos movimentos terroristas nas ex-províncias Ultramarinas?
2ª» Quais foram as condições da entrega de Macau á China?
Só vimos na TV a chegada do General Rocha Vieira com a bandeira da república dobrada debaixo do braço.
3ª» Qual a razão da inclusão do duque Duarte Pio e outras "personalidades" políticas da república, excetuando o Bispo D. Ximenes Belo missionário salesiano, representante da Igreja Católica, nas negociações para retirada da Indonésia de Timor em 2002?
4ª» Sendo Cabinda ainda hoje um «Protetorado português» qual a razão porque ficou com território e administração ligados a Angola … o poder financeiro do petróleo e paraíso fiscal?
5ª» O principal motivo da retirada do continente africano de Portugal e de outras Nações europeias, foi exclusivamente para construir e consolidar o projecto da construção em curso da Federação União Europeia … um caminho de pequenos passos como recomendava Jean Monet, cuja finalidade será impor a Nova Ordem Mundial?

03 dezembro 2020

FUNDADOR DA OBRA SALESIANA

 

SÃO JOÃO BOSCO E A MAÇONARIA

Fonte: Rivista La Tradizione Cattolica (FSSPX Itália)Dom Bosco – Wikipédia, a enciclopédia livre


“O Piemonte, naquela época, era um dos reinos mais católicos do mundo em sua legislação. Os liberais, porém, reivindicavam de tempos em tempos novos direitos do Estado, que prejudicavam a Igreja, na qual, como mãe piedosa, por vezes condescendia em algum ponto disciplinar para prevenir males piores (1)”(2).

Estamos no século XIX, quando os efeitos da Revolução Francesa não apenas sobreviverão na Europa, mas se desenvolverão a ponto de contaminar a cultura cristã do Continente. A “Restauração”, após o Império napoleônico, foi um parênteses histórico ilusório: os soberanos, caídos de seus tronos sob a guilhotina ou levados ao exílio, de fato retornaram aos Estados, mas foram gradualmente encurralados pelo pensamento dominante: o liberalismo, apoiado cada vez mais por intelectuais, políticos, homens de governos constitucionalizados e parlamentarizados. A França de Voltaire e a Inglaterra do maçom Henry John Temple, terceiro visconde Palmerston (1784-1865) impuseram suas ideias a todo o continente, substituindo gradualmente o pensamento católico. E a Igreja se tornou o verdadeiro inimigo a ser abatido.

Do estado confessional à liberdade religiosa

O primeiro artigo do Estatuto Albertino (4 de março de 1848), composto por 84 artigos, dizia: “A Religião Católica, Apostólica e Romana é a única religião do Estado. Os outros cultos já existentes são tolerados”. O sentimento profundamente católico do Rei Carlo Alberto (1798-1849) entrou em conflito com os interesses políticos que o levaram a simpatizar com o Conde Ilarione Petitti di Roreto (1790-1850), Conde Federico Sclopis di Salerano (1798-1878), Conde Stefano Gallina (1802-1867) e o Marquês Roberto Taparelli d’Azeglio (1790-1862), partidários das ideias liberais. Os chefes das sociedades secretas e carbonários da península italiana, ligadas a Paris e Bruxelas, vieram em segredo a Turim para se encontrar com o rei saboiano e lançar as bases da liberdade religiosa.

É de grande interesse o que escreveu o primeiro biógrafo de Dom Bosco (1815-1888), Giovanni Battista Lemoyne, SDB (1839-1916), muito bem informado sobre os fatos de seu tempo:

“O Rei [Carlo Alberto] queria libertar a Itália para fazer florescerem a religião e a justiça por lá; e certamente se tivesse sucesso, após a vitória ele converteria ou extinguiria o liberalismo, que agora ele apreciava como um meio.

Ingênua esperança! Um demônio não se converte e não se extingue: introduzido na casa como um aliado, leva consigo a traição e a morte.

Nenhuma dessas manipulações vazou para o público, enquanto por anos uma obra mais ruinosa foi astuciosamente realizada pelas seitas em todas as regiões da Itália e especialmente no Reino Pontifício para derrubar os tronos e a Igreja Católica. Os chefes supremos da Maçonaria tinham escrito então, desde 1819 e 1820, uma Instrução Permanente que revelava as intenções mais secretas da seita, código e guia dos mais altos iniciados, e, portanto, escolhidos para liderar e capitanear todo o movimento maçônico e sectário, especialmente na Itália »(3).

Lemoyne ficou em posse desta Instrução. Trata-se do manifesto que circulava internamente na Maçonaria. Nele contém toda a estratégia anticlerical e anticatólica planejada para destruir a Igreja sem violência ou derramamento de sangue, mas com brandura e sedução de ideias, com o fim de comprometê-la desde dentro. O projeto inteligentemente elaborado não ficou no papel e foi aplicado com rigor, de modo que hoje os frutos desse planejamento são evidentes: a subjugação da Igreja ao mundo é quase unânime e global. A Igreja foi levada pelas ideias liberais, que triunfaram, criando um pensamento único na sua adesão ao subjetivismo; um pensamento radical e anticatólico.

O plano maçônico: atacar o papado

A trágica Instrução Maçônica, que São João Bosco bem conheceu – e a opôs com palavras, escritos (pensemos na admirável proeza das Leituras Católicas), com ações (a formação salesiana antiliberal que se realizou em suas escolas e seus seminários) –, é um verdadeiro planejamento para destruir o catolicismo. O objetivo era claro: demolir a Igreja por dentro, atingindo seu coração: o papado.

“Depois de nos tornarmos um corpo de ação e que (após os acontecimentos políticos de 1814 e 1815) a ordem começa a reinar tanto na Vendita [da Maçonaria] mais remota quanto na mais próxima do centro, agora existe um pensamento que sempre preocupou muito os homens que aspiram à regeneração universal. E o pensamento é o da libertação da Itália, da qual, em um determinado dia, deve emergir a libertação de todo o mundo, a república fraterna e a harmonia da humanidade. Este pensamento ainda não foi compreendido por nossos irmãos na França. Eles acreditam que a Itália revolucionária só pode conspirar nas sombras, apunhalar alguns cervejeiros ou traidores e, enquanto isso, suportar tranquilamente o jugo dos fatos consumados além das montanhas, pela Itália, mas sem a Itália. Esse erro já foi fatal para nós várias vezes. Não se deve combatê-lo com palavras; o que seria propagá-lo cada vez mais: ele deve ser morto com ações. E assim, em meio aos cuidados, que têm o privilégio de despertar os espíritos mais vigorosos de nossas Venditas, há um que nunca devemos esquecer.

O papado sempre exerceu uma ação decisiva sobre o destino da Itália. Com o braço, com a voz, com a pena, com o coração de seus inúmeros bispos, frades, freiras e fiéis de todas as regiões, o Papado sempre encontrou pessoas prontas para o sacrifício, o martírio, o entusiasmo. Onde quisesse, ele teria amigos que morreriam por ele e outros que se despojariam por ele. É uma alavanca imensa, da qual apenas alguns Papas compreenderam todo esse poder. E ainda assim eles fizeram uso dele com certa reserva. Hoje, não se trata de restituir ao nosso serviço este poder momentaneamente enfraquecido: o nosso fim último é o de Voltaire e da Revolução Francesa: isto é, a aniquilação total do catolicismo e até mesmo do ideal cristão: o qual, se permanecesse de pé sobre as ruínas de Roma, seria mais tarde restaurado e perpetuado. Mas para alcançar este objetivo de maneira mais segura e não nos preparar para algumas decepções, que prolongam e comprometem indefinidamente o bom êxito da causa, não devemos dar atenção a esses presunçosos franceses, esses nebulosos alemães, esses ingleses melancólicos, que acreditam poder matar o catolicismo ora com uma canção obscena, ora com um sofisma, ora com um sarcasmo trivial que chega de contrabando como os algodões ingleses. O catolicismo tem uma vida que resiste a outras coisas. Ele viu adversários mais implacáveis ​​e mais terríveis; e ele muitas vezes experimentou o mau gosto de abençoar os mais raivosos entre eles com sua água benta. Deixemos, portanto, que nossos irmãos nesses países extravasem sua intemperança de zelo anticatólico: permitamos que zombem de Nossas Senhoras e de nossa aparente devoção. Com este passaporte poderemos conspirar com toda a comodidade e aos poucos alcançar nosso objetivo.”

Os “iluminados” autores, que difundiram essas diretrizes com grande capilaridade entre a elite dos iniciados, argumentaram que o Papado depende de seu Pastor Supremo. Como, então, minar essa instituição?

“Pois bem: o remédio foi encontrado. O Papa, seja ele quem for, nunca chegará às sociedades secretas: cabe às sociedades secretas dar o primeiro passo em direção à Igreja e em direção ao Papa, com o objetivo de vencer ambos.

O trabalho que vamos empreender não é o trabalho de um dia, nem de um mês, nem de um ano. Pode durar muitos anos, talvez um século: mas em nossas fileiras o soldado morre e a guerra continua. Já não pretendemos ganhar o Papa para a nossa causa, nem torná-lo um neófito de nossos princípios ou um propagador de nossas ideias. Isso seria um sonho ridículo. E seja qual for a forma para transformar os acontecimentos, mesmo que aconteça de algum Cardeal ou algum Prelado, com toda a sua boa vontade e não por traição, fizesse parte de nossos segredos, isso não seria motivo para desejar sua elevação à Sé de Pedro. Essa elevação seria, de fato, nossa ruína. Visto que ele teria sido levado à apostasia somente pela ambição, a necessidade de poder o levaria necessariamente a nos sacrificar. O que devemos procurar e esperar, como os judeus esperam pelo Messias, é um Papa segundo as nossas necessidades.”

Com a Instrução Maçônica davam-se indicações sobre como difamar os prelados: foi a campanha persecutória que foi perpetrada contra o clero durante o “Risorgimento” italiano, campanha que também levou ao assassinato, encarceramento e exílio de padres, religiosos e bispos. A manipulação conduzida pelos jornais (que, na época, eram lidos principalmente nos cafés, onde políticos e intelectuais se reuniam para conversar e conspirar) já era utilizada.

De fato, o dizer “vá direto ao café, do café para a praça; uma palavra pode, às vezes, matar um homem. […] Como na Inglaterra e na França, assim na Itália nunca faltarão canetas que possam contar mentiras úteis para uma boa causa. Com um jornal em mãos, onde verá impresso o nome do seu Monsenhor Delegado ou de Sua Excelência o Senhor Juiz, o povo não necessitará de mais provas. As pessoas aqui entre nós, na Itália, estão na infância do liberalismo. Elas agora acreditam nos liberais como mais tarde acreditarão em qualquer outra coisa.”

Hoje não há mais “menores” no liberalismo vigente: os autores da Instrução identificaram perfeitamente o que aconteceria: eliminados os princípios católicos, os únicos que nos permitem ter um juízo real e razoável sobre o que é bom e o que é mau, sobre o que fazer ou não fazer, as pessoas acreditariam em qualquer ideia… como aquela de afirmar, por exemplo, que o feto não é um bebê, mas um punhado de células descartáveis; que os pais não precisam necessariamente ser de sexos diferentes, ou que os muçulmanos acreditam no mesmo Deus que os cristãos ou, novamente, que uma religião é tão boa quanto outra… A verdade objetiva se liquefaz e, entre as várias verdades subjetivas, prevalece e se torna autoritária aquela anunciada pelos megafones de informação, manipulados pelas grandes potências.

“Agora, portanto, para fabricar um Papa segundo o nosso coração, trata-se, antes de tudo, de uma questão de fabricar para este futuro Papa uma geração digna do Reino que esperamos. Homens velhos e maduros devem ser deixados de lado. Em vez disso, vá direto à juventude e, se possível, também na infância. […] Uma vez que sua boa reputação esteja estabelecida nos colégios, ginásios, universidades e seminários: uma vez que tenham conquistado a confiança dos professores e dos jovens, certifiquem-se de que especialmente aqueles que entram nas milícias eclesiásticas desejem conversar com você. […] Querem revolucionar a Itália? Busque o Papa que aqui retratamos. Querem estabelecer o reino dos eleitos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Deixem que o clero caminhe sob a vossa bandeira, acreditando caminhar sob a bandeira das Santas Chaves. Querem fazer desaparecer o último vestígio de tiranos e opressores? Estendam suas redes […] no fundo das sacristias, seminários e conventos, em vez do fundo do mar: e se não precipitar nada, prometemos-lhe uma pesca mais milagrosa que a de São Pedro. O pescador de peixes tornou-se pescador de homens: os senhores pescarão amigos aos pés da Cátedra Apostólica. […] O sonho das sociedades secretas (de ter um Papa cúmplice) realizar-se-á por esta razão muito simples, que se funda nas paixões do homem. Portanto, não desanimemos nem pela decepção, nem pelo revés, nem pela derrota: preparemos nossas armas no silêncio das Vendas, apontemos todas as nossas baterias, explodamos todas essas nossas baterias, explodamos em todas as paixões, tanto na pior como nas mais generosas: e tudo nos leva a crer que este plano um dia terá um êxito muito além das nossas maiores esperanças”.

Eis que, para chegar ao fim, não é necessário absolutamente fazer mártires:

“A Revolução Francesa, que tanto tinha de bom, errou neste ponto. Luís XVI, Maria Antonieta e a maioria das vítimas daquela época são sublimes pela resignação, pela grandeza da alma […]”.

A Maçonaria quer a libertação e a autonomia do homem das verdades absolutas e imutáveis, com o resultado prático de que, quando admite que a verdade exista, a considera absolutamente incognoscível e, portanto, sempre e em qualquer caso questiona toda afirmação: assim, o homem perde toda certeza, em um caos ideológico absoluto, em que o erro vale tanto quanto a verdade e tudo se reduz à uma opinião subjetiva. A verdade não é mais o que realmente é, mas o que afirma o detentor do poder. Trata-se de uma mentalidade diametralmente oposta a que Jesus ensinou: “a verdade vos libertará”(4) e esta verdade é transmitida pela Igreja que Ele próprio fundou.

A resposta de Dom Bosco

Enquanto a Maçonaria colocava em ação o seu plano, São João Bosco se preparava para lançar o seu ataque, com respostas firmes e determinadas em defesa da Verdade e da própria Igreja, convencido de que a Verdade é una e apenas uma, e que “Extra Ecclesiam nulla salus”. Ele lutou bravamente contra as filosofias modernas, o liberalismo, o subjetivismo, a liberdade religiosa; lutou contra a religião do sentimentalismo (como fez contra a pedagogia do abade protestantizante Ferrante Aporti [1791-1858], apoiado pelas autoridades maçônicas e que deixará de celebrar a Santa Missa), que já operava na época causando danos à religião, à doutrina e aos dogmas. As salas de aulas de Dom Bosco continuaram repletas de imagens de Nossa Senhora e dos Santos, enquanto as de Aporti tinham apenas o Crucifixo… e hoje também este foi removido.

A Fé de Dom Bosco, atualíssima em seu encargo eterno, encontrou seu fundamento e ápice em seus 3 amores brancos característicos: a Eucaristia, a Virgem Maria e o Papa. É interessante notar como naquela época muitas pessoas brincavam com a figura do Papa. A começar pelo nome, aliás, muitos liberais, propositalmente, em vez de gritar “Viva o Papa” diziam “Viva Pio IX”, enquanto que Dom Bosco ensinava seus meninos a dizer “Viva o Papa”. “Mas por que, perguntaram-lhe, quer que gritemos Viva o Papa? Pio IX não é precisamente o Papa?

– Tens razão, respondia Dom Bosco: mas já não vês além do sentido natural; há quem queira separar o Soberano de Roma do Pontífice, o homem da sua divina dignidade. A pessoa é elogiada, mas não vejo ninguém que queira reverenciar a dignidade com que se reveste»(5).

Quando Carlo Alberto, em 1848, concedeu a Constituição e a multidão cantava nas praças “Irmãos da Itália, a Itália despertou”(6), a religião católica sofreu um duríssimo golpe, com elogios não só dos maçons, mas também dos católicos liberais, para o benefício de outros credos. Deixou Dom Bosco escrito nas suas Memórias, oferecendo-nos a possibilidade de conhecer o seu pensamento sobre a liberdade religiosa, muito diferente da tolerância religiosa sempre expressa e praticada pela Igreja:

“Muitos pensaram que a Constituição também concedeu a liberdade de fazer o bem ou o mal à vontade. Eles apoiaram esta afirmação sobre a emancipação dos judeus e protestantes, em virtude dos quais se afirmava que não havia mais distinção entre católicos e outras crenças. Isso era verdade na política, mas não na religião»(7).

Dom Bosco, que converteu judeus e valdenses e não temia ninguém, nunca se cansou de alertar os católicos para vigiar e afastar os enganos diabólicos dos inimigos da Igreja que desejavam destruir o reinado social de Nosso Senhor.

Pio IX estimava e admirava muitíssimo o pai e mestre dos jovens e muitas vezes o tinha como conselheiro, também para as nomeações episcopais. Um dia, fez-lhe uma pergunta, remontando aos primeiros dias de seu pontificado. Sua eleição em 1846 pareceu coroar as esperanças do neoguelfismo e dos reformadores italianos. O Papa Mastai Ferretti apresentou-se nos primeiros 18 meses com uma série de iniciativas inovadoras: a anistia para condenados políticos; a nomeação do Cardeal Pasquale Gizzi como Secretário de Estado (1787-1849), a quem injustificadamente foram atribuídas simpatias liberais; o estabelecimento de comissões para reformas econômicas, jurídicas e assistenciais; o compromisso com o aumento das escolas e a promoção da cultura; a abolição da discriminação contra o gueto judeu; a formação de um Conselho de Estado com a participação de leigos; a instituição da guarda cívica; a concessão de relativa liberdade de imprensa. Essas disposições iludiram os que tentaram corroer a Igreja por dentro e serão os mesmos que, do falso mito do “Papa liberal” por eles propagado, passarão ao ódio contra Pio IX, a ponto de querer jogar seus restos mortais no Tibre. Pois bem, a pergunta que o Papa fez ao franco Dom Bosco foi:

«[…] quanto à anistia que no início do nosso Pontificado concedemos a todos os condenados políticos do Estado Pontifício, sabemos que outros elogiam e outros culpam este ato. O que o senhor acha? […].

– Vossa Santidade, respondeu Dom Bosco, com aquele traço de clemência soberana certamente apoiou a grande bondade de seu magnânimo coração, esperando comover e se apegar a estes delinquentes; mas parece que agiu como Sansão, que capturou e prendeu 300 raposas e depois as libertou; e eles imediatamente correram para todos os lugares para trazer fogo e destruição às plantações”(8).

O Oratório de Dom Bosco foi submetido, por ordem das autoridades governamentais, a 11 buscas. A primeira ocorreu em 1860: o fundador dos Salesianos ficou desconfiado porque algumas cartas de personalidades ilustres que lhe foram dirigidas foram interceptadas pela censura. Porém, nenhuma pista foi encontrada: o santo, avisado em um sonho, instruiu alguns meninos de confiança a esconder vários documentos. Muitos papéis se perderam para sempre, mas alguns deles, como as cartas do Papa e do Arcebispo de Turim, foram descobertos anos depois, sob uma viga da igreja de São Francisco de Assis, onde Dom Bosco costumava ir ao confessionário do seu amado pai espiritual, São José Cafasso (1811-1860), antiliberal e antimaçônico como ele.

Notas:
Por exemplo, o governo impôs algumas restrições à aceitação de noviços em casas religiosas, devido ao recrutamento militar.
G.B. Lemoyne, Memórias biográficas de São João Bosco, coletadas pelo sacerdote salesiano Giovanni Battista Lemoyne, Vol. II, Ed. 1901, Cap. XII, p. 119.
G.B. Lemoyne, Memórias biográficas de São João Bosco, coletadas pelo sacerdote salesiano Giovanni Battista Lemoyne, Vol. II, Ed. 1901, Cap. I, p. 3-4.
Jo 8, 32.
G.B. Lemoyne, Memórias biográficas de São João Bosco, coletadas pelo sacerdote salesiano Giovanni Battista Lemoyne, Vol. III, Ed. 1903, Cap. XXI, p. 241.
Cf. G.B. Lemoyne, Memórias biográficas de São João Bosco, coletadas pelo sacerdote salesiano Giovanni Battista Lemoyne, Vol. III, Cap. XXI, p. 292.
J. Bosco, Memórias do Oratório de São Francisco de Sales de 1815 a 1855. Exclusivamente para os membros salesianos, Terceiro caderno (1846-1855), cap. 9: 1848 – O aumento dos artesãos e seu modo de vida – Sermão da noite – Concessões do Arcebispo – Exercícios espirituais.
G.B. Lemoyne, Memórias biográficas de São João Bosco, coletadas pelo sacerdote salesiano Giovanni Battista Lemoyne, Vol. VIII, Ed. 1912, Cap. LI, p. 604-605.

28 novembro 2020

A Nova Ordem Mundial

Publicado em 24 de novembro de 2020 gilbertolimajr



Sob o Domínio da Tecnocracia Digital!

Em 2021, iniciaremos oficialmente uma nova década que será marcada como o ano da “Grande Reinicialização” (do idioma inglês, Great Reset). Recentemente o fundador do Fórum Econômico Mundial (FEM), Klaus Schwab, reuniu algumas lideranças e através de um vídeo, tornou oficial o que podemos definir como a agenda da “Nova Ordem Mundial” à ser aprofundada na próxima edição prevista para o segundo semestre de 2021 em Davos, Suiça. São previstas as presenças das maiores autoridades políticas e empresariais do mundo, especialistas nos temas ambientais, sociais, epidêmicos, além das grandes corporações tecnológicas e das Redes Sociais.
Afirmações de Klaus Schwab, fundador e executivo do FEM:
“Todos os países, dos Estados Unidos à China, devem participar, e todos os setores, bem como a tecnologia de petróleo e gás, devem ser transformados”. “Em suma, precisamos fazer ‘O Grande Reinício’ do capitalismo.” “A pandemia representa uma rara janela de oportunidade para refletir, reimaginar e resetar o mundo.”
O que esperar deste próximo encontro da Elite Global? Que consequências seus anúncios trarão para a sociedade humana? Este Blog atento a sua missão de analisar o impacto das mudanças exponenciais na Vida de todos nós, antecipa aqui algumas decisões que vem por aí e como nos preparamos para lidar com elas.



Motivação!

Recentemente o Fundo Monetário Internacional avalizou que o mundo vive um risco de depressão econômica global, comparável a década de 30, por consequência do “Crash” da Bolsa de Valores de 1929. É preciso trazer luz a realidade de que tal expectativa decorre da crise mal resolvida de 2008, cujas autoridades políticas e líderes do mercado financeiro, jogaram a sujeira para baixo do tapete. O mundo sofreu naquela altura uma crise ética que quebrou a economia global por conta de uma ambiciosa especulação financeira e imobiliária. Nos dias atuais, as consequências econômicas ocasionadas pela pandemia do Covid19 soma-se a este histórico e não pode ser visto de forma isolada, ignorando este legado maligno dos atores que hoje utilizam o argumento da Pandemia para justificar uma proposta do FEM, chamada: “A Grande Reinicialização Mundial”. Para melhor entendimento é preciso recorrer a história recente quando em 1944, com a segunda guerra ainda em curso, 44 países aderiram ao Acordo de Breton Woods que estabeleceu uma Nova Ordem Monetária, coordenada por organismos internacionais criados para definir “Políticas Públicas e Regulamentações Globais” como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, por exemplo.



O que Prometem os “Reinicializadores Atuais?”

Desta vez, pretendem reinaugurar o Capitalismo com aparente sensibilidade social. Vamos lá: Pretendem estabelecer a sonhada “renda mínima universal”, dar “garantia de assistência médica global para todos”, assegurar um futuro resiliente, igualitário e sustentável e evocam para tanto, “um novo contrato social” com respeito racial, preservação ambiental e contenção das mudanças climáticas (descarbonização da economia). Ainda no campo econômico, pregam um certo nivelamento econômico e social entre as Nações. Consideram o pagamento de uma renda mínima para erradicação da pobreza extrema.

O Preço a Pagar:

Controle máximo sobre os indivíduos: Obrigatoriedade de Vacinações para esta e futuras pandemias; Exigência de Passaporte Genético; Implantação de Controle de comportamento em massa, via Score Social, Capitalismo de Vigilância; Engenharia Social baseada em regulamentações, etc.

A característica da “Grande Reinicialização”

Ao invés de se impor explicitamente, condicionará benefícios sociais e oportunidades, a submissão da Sociedade ao controle do Estado pela via das regras por ele estabelecidas e entendidas como “melhor para todos”. O controle comportamental se dará refletindo as preocupações da Elite Global com a crescente Desigualdade Social:



Concentração de Renda

Recentemente o Instituto Britânico, Oxfam dedicado a medir as desigualdades sociais em âmbito global, em seu mais recente Relatório, intitulado: “Tempo de Cuidar”, apresentou aos bilionários de Davos, dados que deveriam minimamente gerar algum desconforto: 2.153 privilegiados pelo atual modelo de concentração de renda, têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas. A Diretora Executiva da Oxfam, Katia Maria, afirmou: “Se a população 1% mais rica do mundo pagasse uma taxa extra de 0,5% sobre a riqueza nos próximos 10 anos, seria possível criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e de cuidado para idosos”. Essa afirmativa mostra que ao invés de sinalizarem com “pacotes de bondades universais”, obviamente atrelados a perpetuação de seus privilégios e controle das massas, carregam sim o peso de uma imensa injustiça social por eles protagonizada.
Enquanto 690 milhões de pessoas padecem de fome, chamam de meritocracia, concentrações inexplicáveis de renda, a exemplo de Jeff Bezos da Amazon (o ser humano mais rico do mundo), cuja fortuna é estimada em US$200 bilhões. A ideia da Renda Mínima Universal defendida por economistas, sociólogos e humanistas sérios e respeitáveis, passa a ser cooptada para se envernizar de consciência social o verdadeiro interesse dos formuladores do “Great Reset” que já optaram pela adoção da Manufatura Aditiva da Indústria 4.0, ou seja, robotização em escala mundial, substituindo o modelo da era industrial baseado em mão de obra humana.



O Score Social é uma forma centralizada de policiamento comportamental. Imagine que a depender da sua pontuação você não será autorizado a deslocar-se de um estado para outro, ou de uma cidade para outra. Limitação de sua candidatura à um emprego público, restrição no acesso aos serviços comunitários, programas habitacionais, entre outros. Para quem considera um exagero tal previsão, digo que a China já implementa o controle de sua população utilizando alguns mecanismos de monitoramento.



O Fim dos Criatórios e Abatedouros de Animais

Existem inúmeras regulamentações voltadas à contenção das alterações climáticas e preservação do meio ambiente. Uma que me chama a atenção por tratar-se de um tema tratado neste Blog na série: “O Futuro Fértil da Alimentação” é o combate ao setor pecuário. Os argumentos já reiterados incluem o fato de que milhões de toneladas de dejetos de animais são despejados nos lençóis freáticos todos os dias; que cada Kg de carne, consome 10 mil litros de agua; que milhões de hectares são devastados em áreas de florestas e biomas como o Cerrado, para a criação de pastos ou produção de grãos utilizados em boa parte (30%), como ração para engordar animais para o consumo humano; que a exalação do metano por parte dos milhões de bovinos, atingem diretamente a camada de ozônio entre outros argumentos imbatíveis. Contudo, o nome do jogo é “Controle da proteína Animal em nível planetário”, não uma sensibilidade ecológica despertada pelas Big Techs e os 5 maiores Grupos controladores do processamento de alimentos no mundo, que pretendem apropriar-se do mercado pecuário através da reprodução celular em laboratório. Apenas para configurar, o mercado pecuário movimenta uma cifra global de US$1,4 trilhões. Para quem já controla o mundo pela via dos algoritimos e produz bilhões de dólares com o que lhes damos gratuitamente, no tráfego que geramos nas redes sociais e com o armazenamento de dados em suas nuvens, controlar a riqueza gerada com a nutrição global será uma questão de pouco tempo. A Amazon não por acaso tem investido em Foodtechs e no varejo de alimentos. Um exemplo é o Amazon Go, supermercado baseado em Inteligência Artificial que utiliza-se da identificação de presença e consumo de seus clientes e a Rede Whole Foods americana, adquirida pela bagatela de US$16 bilhões por parte de Jeff Bezos (Amazon). Estas iniciativas ilustram bem que as apostas neste setor são para valer e o “Great Reset”, favorecerá muito a centralização deste foco de negócios. Acrescento as Fazendas Verticais de altíssima tecnologia de precisão e a indústria de proteína vegetal (Plant Based) que passam a invadir as gôndolas de supermercados de todo o planeta.



Os Donos do Mundo

Os poderosos, idealizadores desta Tecnocracia Digital, temem as manifestações que se insurgem contra suas vidas encasteladas. Refiro-me às pressões sociais cada vez mais estruturadas, em busca de igualdade, respeito racial, respeito às diferenças de gêneros, a tolerância religiosa, entre outros. As pandemias originadas por condições sanitárias precárias os alcança tanto quanto a qualquer outro cidadão pobre que coletam seus lixos, entregam suas compras, servem suas mesas, limpam o chão de suas casas, lavam suas roupas, cuidam de seus filhos, mas que seguem invisíveis diante de suas insensibilidades que uma vez descuidados, desprotegidos certamente não lhes pouparão dos efetivos contágios.
A Grande Reinicialização precisa partir da Sociedade Civil. É urgente que coletivos sociais se agreguem globalmente. O Rethink (Repensar), o Restart (Reiniciar) precisa considerar o ReSoul (Realmar) da Economia Mundial, conforme proposto pelo Movimento mundial de Francisco e Clara (origem católica), a própria encíclica papal: Fratteli Tutti do Papa Francisco e movimentos equivalentes de diversas correntes filosóficas e doutrinárias que alertam sobre a urgência da humanização da tecnologia. Que as Regulamentações Globais não sirvam de instrumentos de manipulação da sociedade humana por parte das Corporações e dos Estados Hegemônicos no Plano Global mas que resgatem a tendência de uma nova economia baseada no poder da solidariedade, da compaixão, da cooperação, do compartilhamento, da colaboração, da circulação, da reutilização.

24 novembro 2020

Nós, os da lista negra


Nós, os da lista negra
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Rui Ramos , Observador, 13.11.2020

Em 1979, também Sá Carneiro foi acusado de dar a mão à “extrema-direita”. A “extrema-direita” era então representada pelo professor Freitas do Amaral. Enfim, cada época tem o Hitler possível.

A mudança do governo nos Açores foi o mais importante acontecimento político desde 2015. De repente, quando todos já davam por adquirido um terceiro governo de António Costa, a iniciar em 2023, eis que se abre um caminho para a alternância de poder em Portugal. É natural que António Costa, entre pedidos de apoio a Viktor Orban em Budapeste e a Jerónimo de Sousa em Lisboa, se tivesse lembrado, à falta de melhor, de agarrar em André Ventura para traçar “linhas vermelhas” contra uma possível tentativa de o extrair de São Bento: que ninguém se lembrasse, para governar, de arranjar apoios “anti-democráticos”. A maior parte das pessoas, como não podia deixar de ser, riu saudavelmente. Houve quem, porém, fizesse suas as dores de Costa: foi o caso da amálgama de assinantes do manifesto da “direita democrática”, aparentemente muito empenhados, em nome de princípios que julgam ser só seus, em transformar a primeira derrota da esquerda desde 2015 em mais uma derrota da direita.

A falta de seriedade de tudo isto é por demais evidente. De António Costa não é preciso falar. Mas o manifesto talvez justifique duas palavras. Não faz sentido, bem sei, dar-lhe excessiva importância: trata-se de uma intriga partidária, promovida pelas facções derrotadas no PSD e sobretudo no CDS, mal diluídas no meio de gente talvez mais ou menos distraída. Com Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos aconchegados pelo sucesso açoriano, não lhes ocorreu ideia mais brilhante senão papaguear confusamente as acusações mais torpes com que a esquerda habitualmente demoniza os seus adversários. Da confusão, aliás, deduz-se que vislumbraram os riscos da posição falsa em que se meteram. Por isso, avançam e recuam, dizem e contradizem-se, num texto em que há de tudo menos a “clareza” que se permitem exigir aos outros. Mas nada disto é inédito. Em 1979, também Sá Carneiro foi acusado pelos seus rivais no PSD de, com a AD, dar a mão à “extrema-direita”. Deve-se dizer que a “extrema direita”, para quem não sabe ou já não se lembre, era então representada pelo professor Freitas do Amaral. Enfim, cada época tem o Hitler possível.

Até aqui, o abaixo-assinado faz parte da história do costume. Acontece que o momento da publicação foi particularmente infeliz. A lista de nomes da direita boa, a única que não pactua com o fascismo, saiu quando, nos EUA, a extrema esquerda americana, mais alguns excitados never-trumpers, como Jennifer Rubin do Washington Post, exigem listas negras de todos os que estiveram com Trump, a fim de lhes ser para sempre negado o acesso à imprensa, à universidade e à vida pública em geral. Neste contexto, a lista de nomes da “direita democrática” adquire um sentido um pouco mais sinistro. Serve, para a esquerda interessada em caçar bruxas, como uma espécie de lista negra ao contrário – uma lista branca, que, através das ausências, faz a lista negra dos que, à direita, não compararam Trump a Hitler ou aceitam acordos parlamentares com o Chega. É a lista do denunciante tímido: perguntado pelo polícia de esquerda quem, no seu bairro, são os fascistas, responde que não vai dizer os nomes dos fascistas, mas apenas os nomes dos que não são fascistas. Para o polícia, claro, é a mesma coisa. Não era essa a intenção? Há coisas que são o que são, independentemente das intenções. Por isso, lamento, mas este abaixo-assinado merece figurar na vitrine dos grandes passos em falso, ao lado do manifesto de Julho contra o livro de Riccardo Marchi.

Vamos entender-nos. A razão pela qual o PSD e o CDS, para governarem, têm todo o direito de contarem com o voto do Chega não é apenas porque o PS, para governar, conta com os votos do PCP e do BE. É porque o Chega não é – nem os manifestantes da lista branca, aliás, o afirmam claramente — um partido anti-democrático, nem uma ameaça à democracia. André Ventura quer uma “IV República”, mas reconhece no 25 de Abril um “acto de libertação”. Vale o que vale, claro. Mas o Chega não se propõe derrubar as instituições representativas e o Estado de Direito, nem defende a violência como meio de atingir os seus fins. O Chega é um partido populista e nacionalista, e é preciso alguma má fé ou ignorância para o amalgamar com partidos fascistas. Algumas das suas atitudes ou propostas são repelentes para muita gente? Também algumas das atitudes e propostas do PCP ou do BE o são. Mas temos de ser justos: o Chega nem sequer está no mesmo plano do PCP e do BE, para quem ditaduras como a da Coreia do Norte ou da Venezuela são os regimes ideais. Mais: o Chega não dirigiu nenhuma campanha para impedir a democracia em Portugal, como o PCP e os antecessores do BE fizeram em 1974-1975. Depois de derrotados, comunistas e neo-comunistas renunciaram à tomada violenta do poder. Foram, nessa condição, aceites na vida pública. O mesmo critério – que já foi o de Fontes Pereira de Melo no século XIX (há acções ilegais, mas não há ideias proibidas) — deve servir para todos os partidos.

Aceitar que certos partidos participem na vida pública, desde que respeitem a legalidade, não é, porém, o mesmo que aceitá-los como parte de governos ou de apoios a governos. Como é óbvio, isso já não deve depender da lei, mas das forças políticas. Até 2015, em Portugal, existiu um “arco da governação”, isto é, um entendimento entre o PS, o PSD e o CDS de que só eles, os partidos que apoiaram o Grupo dos Nove em 1975, a integração europeia em 1977 e as revisões constitucionais de 1982 e 1989 podiam governar. Foi António Costa quem pôs termo à tradição, quando percebeu que o PS, com a divisão dos votos à esquerda, nunca mais poderia governar em Portugal contando apenas com os seus deputados. Ora, PSD e CDS estão na mesma situação. Jamais chegarão ao governo se excluírem o eventual apoio da Iniciativa Liberal por ser demasiado “liberal” ou do Chega por ser demasiado “populista”. Se o fizessem, estariam a entregar indefinidamente o poder ao PS, mesmo quando a direita estivesse em maioria no parlamento. Seria condenar à menoridade política pelo menos metade do país. E esse absurdo, mais do que o voto de um deputado do Chega, é que é daquelas coisas que, para além de desacreditar a direita partidária, talvez comprometesse o regime. Porque quem pode subverter a democracia é quem está no poder há vinte e cinco anos, colonizando o Estado, segmentando a sociedade e arrumando quem quer que os incomode na devida lista negra.

direito ao contraditório

Entrevista a Mons. Carlo Maria Viganò: “Relatório McCarrick”


Posted: 13 Nov 2020 02:58 AM PST



Depois de, há alguns dias, ter emitido uma breve nota sobre o relatório da Santa Sé relativo ao predador sexual Theodore McCarrick, o Arcebispo Carlo Maria Viganò, denunciante dos escândalos sexuais na Igreja norte-americana, concede uma muito esclarecedora entrevista a Raymond Arroyo, que o portal Dies Iræ, a pedido de Sua Excelência Reverendíssima, traduziu e apresenta aos leitores de Língua Portuguesa.

Excelência, o relatório afirma que «não se apresentou» para mostrar provas para esta investigação vaticana: foi-lhe pedido que fornecesse informações? Alguém o contactou?

Descubro com surpresa que um dossier, em que sou mencionado 306 vezes, me acusa de não me ter apresentado para testemunhar nesta investigação sobre Theodore McCarrick. Mas a convocação das testemunhas, nos termos da lei, cabe ao instrutor do processo, com base nas provas recolhidas na fase de instrução.

A minha primeira intervenção sobre McCarrick, como Delegado para as Representações Pontifícias na Secretaria de Estado, remonta a 6 de Dezembro de 2006, na sequência de um relatório do então Núncio nos Estados Unidos, Mons. Pietro Sambi. Sucessivamente, em 2008, apresentei um segundo memorando que relatava factos de tal gravidade e tão detalhados que me levaram a recomendar a deposição de McCarrick como Cardeal e a sua redução ao estado laical. É conhecido de todos o meu testemunho de Agosto de 2018 e as minhas sucessivas declarações.

É completamente incompreensível e anómalo que não tenha sido considerado apropriado convocar-me para testemunhar, mas é ainda mais desconcertante que essa omissão deliberada tenha sido usada, posteriormente, contra mim. E não me digam que me tornei indisponível: o meu e-mail pessoal está na posse da Secretaria de Estado e ainda está activo.

Por outro lado, assim como não fui interpelado para a redacção do Relatório McCarrick, também, em 2012, os três Cardeais, designados por Bento XVI, não me chamaram para as investigações sobre Vatileaks 1, que também me viu pessoalmente envolvido. Só no seguimento de um explícito pedido meu é que o Card. Julian Herranz, que presidia à Comissão, me permitiu testemunhar, com estas palavras: «Se queres mesmo…!».

De outra parte, parece-me significativo que mesmo James Grein, a única vítima dos abusos sexuais de McCarrick que teve a coragem de denunciá-lo publicamente, não apareça no dossier e que não haja nenhum vestígio do seu depoimento, no qual também deveria ter referido a viagem feita, com McCarrick, a São Galo, no final dos anos cinquenta.

Das declarações públicas de James Grein, fica claro que o início da ascensão de McCarrick – então um neo-sacerdote – coincidiu com aquela visita à Suíça, a um mosteiro que, mais tarde, foi o local dos encontros dos conspiradores da chamada “máfia de São Galo”. Segundo as declarações do defunto Card. Godfried Danneels, aquele grupo de Prelados teria decidido favorecer a eleição de Bergoglio, seja depois da morte de João Paulo II, seja durante o Conclave que se seguiu à controversa renúncia de Bento XVI.

Lembro-me que, durante uma conferência na Villanova University, a 11 de Outubro de 2013, o então Card. McCarrick admitiu que era favorável à eleição do Card. Bergoglio no início das Congregações Gerais do Conclave, realizadas alguns meses antes.

Pergunto-me que confiabilidade pode ter um órgão judicial num claro conflito de interesses devido às suas relações anteriores com o acusado. Como podem Bergoglio e a Secretaria de Estado, que dele depende, fingir parecer imparciais quando McCarrick ia ao Vaticano com uma anómala frequência; quando, em Junho de 2013, foi encarregado de uma viagem diplomática à China? E como podem pensar que reiteradas tentativas de encobrir e de negar as suas responsabilidades não sejam a causa da sistemática tentativa de me desacreditar como testemunha, para não trazer à luz a cumplicidade e a conivência entre eles e o próprio McCarrick?

De acordo com o relatório, o Papa afirma que não foi por si informado das actividades ou das restrições de McCarrick em Junho de 2013. Qual é a sua resposta?

Esta afirmação é absolutamente falsa. Em primeiro lugar, foi o próprio Bergoglio, a 23 de Junho de 2013, a pedir expressamente a minha opinião sobre McCarrick. Como testemunhei no meu memorando de 2018, «respondi-lhe com toda a franqueza...:“Santo Padre, não sei se conhece o Cardeal McCarrick, mas se perguntar à Congregação para os Bispos, há um dossier muito grande sobre ele. Corrompeu gerações de seminaristas e de sacerdotes, e o Papa Bento forçou-o a retirar-se para uma vida de oração e de penitência”. O papa não fez o menor comentário sobre as minhas palavras tão graves e não mostrou nenhuma expressão de surpresa no rosto, como se já o soubesse há algum tempo, e mudou imediatamente de assunto. Mas, então, com que propósito é que o papa me fizera aquela pergunta: “Como é o Cardeal McCarrick?”. Evidentemente, queria saber se eu era aliado de McCarrick ou não».

Devo observar que soube pelo próprio McCarrick que Bergoglio o recebera quatro dias antes da minha audiência e que o autorizara a ir à China. De que adiantou pedir-me uma opinião, quando Bergoglio demonstrava que tinha a maior estima por McCarrick?

Enquanto isso, McCarrick vinha tranquilamente a Roma, recebia tarefas do Vaticano, inclusive oficiais, e continuava as suas actividades como se nada tivesse acontecido. Em Maio de 2014, soube, pelo Washington Times, de uma viagem de McCarrick, em nome do Departamento de Estado (o Secretário de Estado era, à época, John Kerry), à República Centro-Africana; também é mencionado no relatório. Estamos a falar de 2014; mas Bento XVI, desde 2008, tinha ordenado ao Cardeal americano que se retirasse para a vida privada, que não celebrasse ou interviesse em eventos públicos, que não viajasse.

Por este motivo, dada a forma como era tratado McCarrick, perguntei ao Card. Parolin se as sanções contra ele ainda deviam ser consideradas válidas. Mas não obtive resposta. A essa altura, depois de ter comunicado pessoalmente ao Papa, não tendo recebido resposta do Secretário de Estado, o que poderia ainda fazer? A quem apelar?

Pelo relatório, fico a saber que as tarefas e viagens contínuas de McCarrick ao exterior eram consideradas, pelo Arcebispo Wuerl e até pelo Núncio Sambi (falecido em 2011), como uma «forma suficiente de afastamento» (cf. nota 1013 do relatório). E fico sinceramente chocado ao saber que «as indicações não eram “sanções”; não foram impostas pelo Papa Bento XVI; McCarrick nunca foi proibido de celebrar Missa em público; McCarrick não foi proibido de proferir conferências. O Cardeal Re não impôs a McCarrick a “obrigação” de se dedicar a uma vida de oração e penitência; e McCarrick permaneceu livre para conduzir actividades, incluindo as viagens, com a permissão da Santa Sé, compreendido o Núncio» (cf. nota 1006, ibidem). Se assim é, significa que, apesar da conduta reprovável do Cardeal, a Santa Sé não considerou oportuno tomar medidas disciplinares contra McCarrick, o que confirma a minha denúncia sobre a corrupção da Cúria.

O relatório faz de tudo para tentar retratá-lo como inadimplente na investigação das alegações do Padre 3. (Menciona apenas o facto de que tenha sido Vossa Excelência a trazer estas preocupações à Santa Sé em primeiro lugar). Evitou colocar-se «na posição de verificar a credibilidade do Padre 3»?

É evidente qual foi o meu papel ao trazer à luz os escândalos de McCarrick e que sempre tomei medidas para relatar à Santa Sé qualquer informação chegada à minha posse. Recordo que estamos a falar de 2012, quando tinha sido recentemente nomeado Núncio nos Estados Unidos.

O relatório acusa-me de não ter dado seguimento ao pedido de informação sobre as acusações do «Padre 3» contra McCarrick. Algo absolutamente falso! São os mesmos redactores do relatório a fornecer as provas do engano que planearam para me atingir e desacreditar. Com efeito, afirma-se, noutro ponto do relatório, que, a 13 de Junho de 2013, escrevi ao Card. Ouellet, enviando-lhe a carta que o bispo Bootkoski me tinha dirigido e a carta enviada ao «Padre 3». Informei-o de que a denúncia civil do «Padre 3» havia sido encerrada sem possibilidade de recurso. O bispo Bootkoski qualificava as acusações do «Padre 3» como falsas e caluniosas.

Gostaria de enfatizar um aspecto em particular. Aqueles que me acusam de não ter enviado uma comunicação escrita a Mons. Bootkoski, Ordinário do «Padre 3» e Bispo de Metuchen, sabem bem que isso depende das indicações precisas da Secretaria de Estado. E sabem igualmente bem – como confirma o relatório – que houve uma comunicação telefónica entre mim e o bispo Bootkoski, da qual, no que me diz respeito, informei o Cardeal Ouellet.

Não se deve esquecer que naqueles anos havia advogados que não se contentavam em chamar em juízo as Dioceses por crimes cometidos por sacerdotes, mas queriam demonstrar que a própria Santa Sé – como quartel-general de uma multinacional – tinha a responsabilidade última nas indemnizações por abusos. Sabe algo sobre isso o advogado Lena, que conseguiu, em dois distintos processos, evitar que a responsabilidade do encobrimento dos abusos recaísse sobre o Papa Bento XVI.

E o que pensa do facto de o relatório atribuir a João Paulo II e a Bento XVI a maior parte da culpa pela promoção e confirmação de McCarrick na Igreja?

As intenções dos redactores do relatório são claras: descarregar as responsabilidades das promoções de McCarrick sobre os Predecessores, um defunto e canonizado (João Paulo II), o outro idoso e débil (Bento XVI). O primeiro não pode se defender do túmulo, o segundo é brando demais para repudiar abertamente o seu sucessor, chamando-o de mentiroso e desacreditando, com ele, também a função que exerce. O que é desconcertante é que dentro do mesmo relatório – elaborado por várias mãos, naturalmente – existem inúmeras contradições, a ponto de tornar pouco credíveis os argumentos apresentados.

Pergunto-me então: quem convenceu João Paulo II e Bento XVI a não levar em conta as graves acusações sobre McCarrick? Quem tinha interesse em fazer com que McCarrick fosse promovido, de modo a tirar vantagens em termos de poder e de dinheiro?

Provavelmente, alguém fez João Paulo II acreditar que as acusações contra McCarrick tinham sido feitas propositalmente, segundo o modelo das operações de descrédito que a Polónia comunista já havia realizado contra bons bispos ou sacerdotes que se opunham ao regime.

No caso de João Paulo II, o principal interesado na promoção de McCarrick era, certamente, o Cardeal Sodano. Foi Secretário de Estado até Setembro de 2006: todas as informações chegavam-lhe. Em Novembro de 2000, o Núncio Montalvo enviou-lhe o seu relatório e as denúncias de graves abusos cometidos por McCarrick.

Não esqueçamos que, naquele período, estourou o escândalo do padre Maciel, que Sodano tentou encobrir, chegando a falsificar um comunicado de Bento XVI em que se dizia que o Papa considerava o caso encerrado. Bento XVI convocou uma plenária da Congregação para a Doutrina da Fé e o Cardeal Arinze conseguiu que Maciel fosse condenado, não obstante a oposição do Secretário de Estado.

O nome do Card. Sodano também apareceu envolvido numa escandalosa especulação imobiliária. Em 2003, o sobrinho do Purpurado, o engenheiro Andrea Sodano, com cartas de recomendação do tio Secretário de Estado e na qualidade de consultor da imobiliária Follieri (em alguns actos oficiais é também indicado como Vice-Presidente do grupo), adquiriu, ao desbarato, bens das Dioceses americanas condenadas a indemnizar os danos dos processos civis por abusos sexuais, obtendo para si uma enorme vantagem económica em detrimento dos danos da Igreja. Raffaello Follieri, dono da holding, foi condenado por fraude e lavagem de dinheiro, justamente por operações imprudentes na comprova e venda desses imóveis. Desnecessário dizer que Follieri tinha estreitas relações com a Clinton Global Initiative e a família Clinton, assim como com os Democratas: «O ex-presidente e a senadora Hillary são nossos amigos», vangloriou-se Follieri.

Repetem-se as estreitas relações, as mesmas cumplicidades, as mesmas frequentações. McCarrick, Clinton, Biden, os Democratas, os Modernistas. Com um não indiferente cortejo de homossexuais e abusadores em série.

Quanto a Bento XVI, quem tinha um acesso diário e directo ao Papa eram o Secretário de Estado, Bertone, e o Substituto, Sandri, que conseguiam controlar e filtrar as informações sobre McCarrick e exercer pressão sobre ele.

Também neste caso, o relatório fala por si. A apresentar a questão directamente ao Papa Bento XVI foi o Card. Bertone, que, ao contrário do que eu havia proposto repetidamente – isto é, que as acusações muito graves e detalhadas contra McCarrick exigiam um procedimento canónico exemplar até à sua remoção do Colégio Cardinalício e à sua redução ao estado laical –, induziu o Papa Bento XVI a decidir que não fosse instruído um processo, nem prescritas sanções canónicas, mas que simplesmente se apelasse à «consciência e ao espírito eclesial» de McCarrick.

E aqui aparece evidente mais uma flagrante contradição: como se concilia um simples apelo à consciência com as instruções formais que foram dadas ao Núncio Sambi e a mim, segundo as quais McCarrick não podia residir no Seminário onde estava hospedado, não poderia participar em actividades públicas, não podia viajar e tinha que levar uma vida retirada de oração e de penitência?

A corrupção dos vértices do Vaticano é tão evidente que é possível considerar este relatório como uma indigna tentativa de fazer Bergoglio parecer absolutamente alheio às manipulações da Cúria, mais, uma espécie de perseguidor implacável dos corruptos, enquanto a evidência dos factos demonstra o contrário. Eu diria que Bergoglio está para a deep church como Biden está para o deep state...

Permito-me observar que o facto de culpar João Paulo II pela nomeação de McCarrick, malgrado o parecer negativo da Congregação dos Bispos e do seu Prefeito, Card. Re, também poderia aplicar-se ao próprio Jorge Mario Bergoglio, sobre o qual o Geral dos Jesuítas expressara fortes reservas. Se Wojtyla se enganou com McCarrick e, por isso, é implicitamente considerado responsável pelos escândalos verificados, o que impede que este julgamento se estenda também à promoção de Bergoglio como Arcebispo de Buenos Aires e, depois, como Cardeal? Recordo que, naquele Consistório de 2001, para além de McCarrick e de Bergoglio, receberam o barrete expoentes da Máfia de São Galo...

Há mais alguma coisa que devamos abordar?

Para terminar, gostaria de citar um artigo recente de Riccardo Cascioli, fazendo meu o seu lúcido juízo: «Embora emerja do relatório a figura de um McCarrick predador em série, a grande reacção é desencadeada apenas quando, em 2017, chega a primeira denúncia de abusos de um menor [...] Na prática, dizem-nos que os “comportamentos imorais com adultos” não são, certamente, uma coisa boa, mas, no final, são tolerados; o alarme real, aquele que também prevê sanções pesadas, só é accionado com a menor idade do abusado. Como se as dezenas e dezenas de futuros padres que partilharam a cama com McCarrick e, portanto, em grande parte condenados a uma vida sacerdotal, no mínimo, desequilibrada, não contassem muito. Como se a devastação moral e de fé provocada por um bispo predador – vocações perdidas, sacerdotes que, por sua, vez repetirão os abusos, nomeações episcopais distorcidas por laços mórbidos – fossem um problema menor. [...] É duvidoso, acima de tudo, porque se ignorou, deliberadamente, que o que permitiu a irresistível ascensão de McCarrick foi um sistema de poder também chamado de lobby gay, que favorece a nomeação e a carreira de bispos com determinadas características. [...] Não, não há, realmente, um sinal de que a Igreja tenha aprendido com o caso McCarrick; pelo contrário, há a sensação de que se faz pagar um para poderem continuar tranquilamente os outros. E, enquanto isso, promover a ideia de que, para um padre, ter tendências homossexuais não é um problema».

Nesta grotesca farsa, agora envolta numa falsa aparência de legalismo, não se hesita em arrastar para a lama toda a Igreja, o seu prestígio perante o mundo, a sua autoridade em relação aos fiéis, para salvar a imagem, agora comprometida, de Prelados corruptos, indignos e perversos. Limito-me a observar que, no Vaticano, Bergoglio ainda se rodeia de homossexuais conhecidos e de personagens com reputação seriamente comprometida. Esta é a mais flagrante negação da alegada obra moralizadora de Bergoglio.

Agora, os países malditos

Judit Varga: "Os fundos europeus não podem depender de questões ideológicas"


Marisa Matias considera que o chumbo aos fundos comunitários por parte da Hungria e da Polónia - países que para a bloquista seguem linhas políticas "racistas e xenófobas" -, tem "imensas consequências" (Observador, de 18.11.2020).

Os grandes meios de comunicação social, aqui e “lá fora”, os partidos de esquerda claro mas também os liberais e do centro e da direita “civilizada” consideram o mesmo.

Os lobbies dos LGBTkwyxz, do cancel culture, os subsidiados do Soros (ou da Sonae de cá de casa), os entusiastas do MERCADO que tem nos olhos cifrões do Tio Patinhas e querem incentivar as migrações sul-norte e oriente-ocidente para captar mão de obra barata e acabar com as identidades nacionais europeias, vêem em Varsóvia e em Budapeste um empecilho.

De que se trata afinal?

Nas próximas semanas este será um dos temas na mesa, a tentativa de encurralar a Hungria e a Polónia como os ”vilões” que, recusando-se a ceder à chantagem, estarão a empatar as ajudas financeiras para combater o Covid e suas consequências trágicas na economia.

Que querem e quem são afinal esses vilões?


Para começar leia-se esta entrevista à ministra da Justiça da Hungria, publicada no diário espanhol ABC de há poucos dias.

Judit Varga: "Os fundos europeus não podem depender de questões ideológicas"

ABC, Internacional, 20.11.2020

Entrevista a Judit Varga, ministra de Justicia de Hungria

«A Europa tem raízes cristãs»

-O que é "orbanismo"?

- Não existe "orbanismo". O governo húngaro assume os valores da democracia cristã e dos conservadores e representa os interesses da Hungria e dos húngaros.
-Na sua opinião, quais devem ser os valores da UE?
- A Europa tem uma cultura e raízes cristãs. Há um ditado que diz que na Europa mesmo aqueles que se declaram ateus são cristãos. E isso faz sentido, uma vez que os nossos costumes e a cultura que nos rodeia, mas também os valores europeus e o conceito de direitos humanos têm raízes na tradição cristã.
A ministra da Justiça, Judit Varga, é uma das negociadoras do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, para assuntos da UE. Especialmente agora, quando seu governo bloqueia o novo orçamento europeu e o fundo de recuperação para fazer frente à crise do covid-19 por uma questão de Estado de direito. A Polónia é o outro país que exerceu o seu direito de veto.
Em conversa telefônica ontem com o ABC, Varga defende que "a concessão desse fundo não pode estar ligada a questões ideológicas ou ao Estado de Direito". Ele acredita que esta nova imposição foi criada para impedir o avanço de políticas e posições conservadoras sobre a imigração ilegal.
- A posição do seu governo não é uma chantagem completa para a UE?
-Na Hungria, é uma questão de honra cumprir a palavra. E em julho, após árduas negociações, os líderes da UE chegaram a um grande acordo: os fundos europeus não podem estar sujeitos a condições políticas e ideológicas. Ou seja, eles não podem ser uma ferramenta para buscar políticas que estão fora da corrente dominante da opinião progressista. Agora, esse acordo foi quebrado em Bruxelas. A presidência rotativa alemã da UE, com a qual mantivemos negociações constantes, também estava ciente disso. Sabendo de tudo isso, em vez de considerar isso uma chantagem, acho que é uma questão de honra cumprir o acordo. Ou eu diria que a chantagem é contra países como a Hungria. No fundo, há um problema: eles querem influenciar nossa família ou políticas de imigração.

- A Espanha deve temer a chegada desse fundo de recuperação?

-A Hungria, num espírito de solidariedade, está disposta a pedir empréstimos aos seus parceiros europeus para apoiar os países membros que hoje enfrentam desafios económicos e financeiros. Esta é uma concessão importante por parte da Hungria, pois, em nossa opinião, não é a melhor forma de lidar com a crise. Precisamos de trinta anos para sair da grave situação econômica gerada pelo endividamento do regime comunista. Ora, se os espanhóis receberem a ajuda necessária não depende de nós, mas de quem quer condicionar os orçamentos europeus com questões ideológicas.

-Por que você teme que os mecanismos do Estado de Direito sejam aplicados contra a Hungria?
-Com o comunismo aprendemos que o que está fora da linha ideológica oficial é punido, mesmo que não tenha violado a lei. Hoje em dia, essa ideologia globalista é o que eles querem impor e se alguém não o faz, eles colocam sanções sobre eles. É isso que eles querem impor à nossa frente agora. Às vezes abertamente e às vezes escondido em palavras ambíguas. Se alguém não acredita em mim, basta ler as declarações de diferentes líderes nas quais pedem para punir a Hungria. E o aspecto mais sério e preocupante do projeto de condicionalidade do Estado de direito é que nem as condições para impor medidas, nem as condições para iniciar o processo estão definidas, o que dá à Comissão uma ampla margem para uma avaliação subjetiva. Acima, a proposta é contrária aos Tratados europeus. Hoje já temos um mecanismo de defesa do Estado de direito, que regula o artigo 7º do Tratado da UE. Hoje a mídia e as chamadas ONGs podem acusar qualquer país a qualquer momento de que o Estado de Direito não é respeitado naquele país. Se introduzirmos agora um novo mecanismo sem margens definidas, sem definições exatas e sem garantias processuais, isso significaria que mais tarde, os fundos europeus de qualquer país poderiam ser retidos por qualquer motivo. A Hungria partilha todos os valores do artigo 2.º do Tratado da UE e tivemos de lutar pela liberdade e pela democracia.

-A Lei de Emergência da Hungria foi criticada por seu autoritarismo no Parlamento Europeu. O governo de Viktor Orbán é acusado de governar por decreto, também por causa de suas leis contra a comunidade LGTB. O mesmo é verdade na Polônia. Qual é a sua avaliação dessas acusações?
-A lei húngara sobre o estado de alarme não difere de outras leis europeias, exceto que concede mais poderes ao parlamento. Reúne-se fisicamente e exerce seu poder de controlar o governo sem impedimentos. Na verdade, o Primeiro-Ministro, Viktor Orbán, comparece regularmente para prestar contas da situação pandêmica e das medidas do Governo. Mas, fora isso, o parlamento mantém seu funcionamento normal e processa leis e até mesmo reformas da Constituição. Uma delas é o projeto de declarar na Constituição que a mãe é mulher e o pai é homem. Isso simplesmente tenta declarar o óbvio e os fatos da natureza. Vivemos em um mundo muito estranho se formos criticados por isso.

-Você acha que há dois pesos e duas medidas com os países "pequenos" e "mais jovens" na UE para essas questões?

-Se você estudar o relatório da Comissão Europeia sobre o Estado de Direito publicado recentemente, verá claramente os padrões duplos. O relatório se concentra em países selecionados, previamente selecionados. Esses países são precisamente a Polónia e a Hungria e, no caso de outros Estados-Membros, esquecem-se de denunciar várias violações de direitos. Portanto, os critérios da Comissão para avaliar os países membros não são objetivos nem iguais para todos. Basta ver a escolha dos temas e, principalmente, as fontes utilizadas.

02 novembro 2020

“...DISCRIMINAÇÕES CONTRA CRISTÃOS…”




Jaime Nogueira Pinto


Dos Fiéis Defuntos
ao “Luto Nacional”



Com a Covid 19 e as necessidades de confinamento, quem decide aproveitou para dar mais um passo nas discriminações contra os cristãos.
«Proudhon tinha razão escrevendo: Deus é o mal. Laplace tanto ou mais tinha razão ainda, escrevendo também: a hipótese de Deus é inútil. Mas, acima de todos, a apóstrofe exacta, indispensável, urgente de realizar, vibrou-a Bakunine: “Deus! Mas é preciso suprimi-lo.”»
O autor destas palavras foi um dos chamados “vultos republicanos”, de seu nome Fernão Botto Machado. Quem folheie o Almanaque Republicano e dê com ele, de jaquetão e bigodes retorcidos, mais depressa dirá estar perante um galã da Vizinha do Lado, de André Brun, que de um ferrabrás do ateísmo. Mas engana-se.
Nascido em 1865, autodidacta (não fez exame da instrução primária), Botto Machado entrou para a Maçonaria em 1893, na Loja “Cavalheiros da Verdade” e circulou depois por outras Lojas com nomes igualmente ambiciosos em termos programáticos, como a “Renascença” e a “Razão Triunfante”. De resto, grande parte dos dirigentes republicanos de há 90 anos, quando proclamaram a Primeira República, pertencia à Maçonaria. Eram maçons os dois líderes desaparecidos nas vésperas da vitória, Cândido dos Reis e Miguel Bombarda; era maçon Machado Santos, o herói da Rotunda; eram maçons Bernardino Machado, Sebastião de Magalhães Lima, Afonso Costa e António José de Almeida. E todos tinham expressivos nomes de guerra – Afonso Costa, por exemplo, era “Platão”.
Para a maçonaria francesa do Grande Oriente, a versão dominante e triunfante em Portugal, a Igreja era o inimigo a abater, devendo os maçons, amantes da Razão, da Ciência e do Progresso, seguir o conselho do irmão Voltaire, iniciado na loja das Nove Irmãs de Paris, e “Écrasez l’Infâme”. Além das questões teológicas de fundo, não seria, pois, de estranhar que sucessivos papas e encíclicas condenassem a Maçonaria e proibissem aos católicos qualquer filiação maçónica.
A primeira vez que os maçons tiveram verdadeiro poder temporal foi com a Revolução Francesa. Então, milhares de sacerdotes e religiosos foram mortos. E como os camponeses vendeanos, católicos, monárquicos e fiéis à pequena nobreza local, estragavam o cenário revolucionário (saindo da categoria de “sábio povo em armas pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade” e entrando directamente na de “deplorável povo ignaro”), a “Razão, a Ciência e o Progresso” ditaram o genocídio.
Em França, este anticlericalismo activo marcou, depois, a modalidade revolucionária da Comuna de Paris, que fuzilou vinte e quatro eclesiásticos, entre eles o Arcebispo de Paris, Monsenhor Darboy. E políticos da época, como Jules Ferry e Léon Gambetta, não deixaram de perseguir as ordens religiosas, de prender padres e, sobretudo, de lançar as mais absurdas calúnias sobre a Igreja.
Em Portugal, em 1910, os activistas mais zelosos entre os correligionários de Botto Machado, não podendo matar Deus – invisível mesmo ao olho vivo da Loja –, liquidaram dois padres Lazaristas, o Padre Bernardino Barros Gomes, ilustre cientista botânico, e o Padre Alfredo Fragues, confessor da Rainha, morto à coronhada e a tiro.
Seguiram-se a expulsão dos Jesuítas (após científicas medições cranianas indiciadoras de anomalias anatómicas que sinalizavam inequívocas tendências criminais) e uma série de medidas laicizantes, como o fim dos feriados religiosos. O Natal, mais difícil de abolir, foi esvaziado e reformulado como “Festa da Família Portuguesa”.
E como era também necessário higienizar a História, o Primeiro de Janeiro passou a Dia da Fraternidade Universal e o 31 de Janeiro a Dia dos Precursores e Mártires da República. O Primeiro de Dezembro escapou como feriado, mas deixou de ser Dia da Restauração para passar a ser, mais correctamente, o Dia da Autonomia da Pátria Portuguesa. Deu-se também o habitual saneamento da toponímia e multiplicaram-se os nomes de ruas e praças 5 de Outubro e República, como, décadas depois, as 25 de Abril.
As esquerdas (liberais maçonizantes, anarco-progressistas e comunistas) promoveram, em todas as revoluções do século XX, uma encarniçada perseguição à Igreja e aos cristãos, prendendo, torturando e matando padres, religiosos e leigos – na Revolução Bolchevique, na Revolução Mexicana, nos regimes comunistas implantados na Europa Oriental, na China, no Vietname e em Espanha, na Guerra Civil, onde os frente-populistas mataram mais de sete mil bispos, padres, religiosos e freiras, e milhares de católicos, apenas por o serem. Mais que Diocleciano, que não fora meigo com os seguidores de Cristo. Tal como os primeiros séculos da Era Cristã até Constantino, o século XX foi também um século de mártires.
Mas porque se tornaram impossíveis as revoluções bolcheviques – com o ataque armado e a ocupação das centrais telefónicas, das estações de comboios, dos Palácios de Inverno –, e porque Lenine e a sua teoria da revolução foram sendo, no ocidente euroamericano, substituídos por Gramsci e pelas revoluções culturais, a guerra à Igreja, às Igrejas cristãs e a toda a transcendência monoteísta (cristã, judaica ou islâmica) foi mudando de forma.
Hoje já não se trata de expulsar ordens religiosas, de matar padres, de queimar igrejas, como fizeram os democráticos de Afonso Costa em 1910 ou os frente-populistas madrilenos na Primavera de 1936. Trata-se de descristianizar a sociedade mansamente, em suaves prestações, de modo politicamente correcto, indolor, através de leis passadas com ar inocente e distraído, como grandes conquistas da liberdade e do progresso ou já nem isso.
O que se está a fazer entre nós é uma progressiva e estratégica descaracterização da sociedade para cumprir agendas radicais internacionais, através de leis pretensamente libertadoras, passadas “à candonga”, que vêm, não só descristianizando mas desnaturalizando o país: leis inspiradas nas mais delirantes quimeras que oferecem a possibilidade (financiada pelo Estado) de mudar o corpo e moldá-lo, com hormonas, mutilações e enxertos, ao género apetecido; leis que transformam o casamento, mesmo o casamento civil, num contrato entre dois seres, quaisquer que sejam, agora dois homens ou duas mulheres, qualquer dia, quem sabe que mais; leis contrárias à geração de vida numa sociedade que já está há muito com taxas negativas de reprodução; leis que são negociadas e passadas sem qualquer respeito pelo debate público, como a da Eutanásia, aprovada ignorando o parecer negativo da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Enfermeiros, da Ordem dos Advogados, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, da Associação Portuguesa dos Cuidados Paliativos e um abaixo-assinado de cerca de cem mil cidadãos.
Leis que uma esquerda dita moderada, que aceita os pressupostos do capitalismo europeu, vai levianamente negociando por conveniência momentânea com os esquerdistas do marxismo cultural, perante a sonolência geral e acomodada dos que assistem tranquila e resignadamente a estas mudanças – talvez sem se aperceberem que são estas as mudanças que verdadeiramente importam.
Com a Covid 19 e as necessidades de confinamento, quem decide aproveitou para dar mais um passo nas discriminações contra os cristãos. Controles para a Páscoa, mas não para o 25 de Abril; para o 13 de Maio em Fátima, mas não para o 1º de Maio na Alameda; 27 mil pessoas com luz verde para acorrerem à Fórmula 1 em Portimão, mas proibição de deslocações para que os cristãos – e os não cristãos – possam visitar e honrar os seus mortos nos cemitérios no Dia de Fiéis Defuntos. Muitos não puderam sequer acompanhar os seus familiares e amigos mortos recentemente e os cemitérios são ao ar livre, com acessos que poderiam ser controlados com facilidade para evitar aglomerações, mas pouco importa.
Como todos os regimes que, no passado, quiseram regular e imprimir a sua marca nas coisas da Vida e da Morte, ainda que contra a liberdade, o sentimento e as convicções do “povo ignaro”, o poder político resolveu agora esvaziar uma celebração cristã, o Dia dos Fiéis Defuntos, e impedir uma prática enraizada, dando-nos magnanimamente em troca uma bandeira a meia-haste e um asséptico e socialmente distante “Dia de Luto Nacional por Todos os Falecidos, em Especial as Vítimas da Pandemia da Doença Covid-19”.
Mas o povo e a Igreja, por mais adormecidos que aparentemente estejam, têm acabado sempre por acordar. E por resistir.
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Nota extra:
Entre as medidas que o Governo está a tomar para nos “proteger”, algumas trazem um cunho ideológico que vem de longe.
Enquanto em França a degola prossegue, bárbara, por aqui seguimos na mesma direcção em modo soft, regulando, condicionando e tentando esvaziar de significado datas incómodas.
Faz recordar o calendário da Revolução Francesa ou calendário republicano de 1792, criado para simbolizar a quebra com a ordem antiga e o início de uma nova era na história. Com características marcadamente anticlericais, baseava-se no ciclo da natureza. Atravessamos agora, Brumário, tempo de brumas, nevoeiro


Observador, 30.10.2020

29 outubro 2020

O secretismo é a sua imagem de marca.

Do colaborador próximo de Salazar, aos atuais líderes políticos, foram muitos os que passaram por este clube secreto. Alguns estrelas em ascensão. Outros já estrelas cadentes.




Oficialmente, o Grupo de Bilderberg é um fórum para que os cerca de 130 participantes discutam livremente e ajudem a melhorar as relações entre a Europa e a América do Norte e já existe desde 1954. Mas o secretismo é a sua imagem de marca. Os jornalistas não são convidados para cobrir o evento, os convidados podem usar a informação — desde que não identifiquem quem o disse, ou a afiliação dessa pessoa — e todos participam como cidadãos privados (o acesso é feito exclusivamente por convite), mas o desfile de personalidades inclui várias das pessoas mais influentes do mundo. Este ano, em Portugal, é a vez de Fernando Medina e Estela Barbot acompanharem o já veterano Durão Barroso à conferência na Suíça, mas há muitos políticos no ativo que já passaram por estas reuniões: como o Presidente a República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro António Costa e o líder do PSD Rui Rio. Também há outros em cargos de maior destaque, como António Guterres, atual secretário-geral das Nações Unidas, e António Vitorino, alto-comissário da ONU para os Refugiados, e alguns caídos em desgraçada, como José Sócrates e Ricardo Salgado.

O primeiro português de que há registo que participou numa reunião do Grupo de Bilderberg foi Manoel Maria Sarmento Rodrigues, que foi ministro das Colónias e do Ultramar (1950 e 1951) e, entre 1961 e 1964, foi governador-geral de Moçambique. Este não foi o único ministro do regime de Salazar que participou na reunião. Alberto Franco, ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de Salazar também participou em 1967, 1968 e 1972.

Normalmente, Portugal tem tido entre um e três representantes nestas reuniões de três dias, que se realizam todos os anos num local diferente. A grande exceção foi em 1999, quando a reunião aconteceu em Sintra. Nesse ano foram convidados 10 portugueses, entre eles Jorge Sampaio, Presidente da República, Francisco Pinto Balsemão, antigo primeiro-ministro, Ricardo Salgado, presidente do BES, Artur Santos Silva, presidente do BPI, Murteira Nabo, presidente da PT, e até Nicolau Santos, na altura jornalista e diretor do semanário Expresso (e atual presidente da Agência Lusa).

O mais experiente nestas reuniões é, de longe, Francisco Pinto Balsemão, que foi convidado para fazer parte da reunião em 33 anos dos 67 em que esta se realizou. Francisco Pinto Balsemão foi membro do conselho de diretor do grupo de Bilderberg até 2015, altura em que passou a pasta a Durão Barroso, que já participou sete vezes na reunião anual. A primeira em 1994 quando era ministro dos Negócios Estrangeiros, a segunda em 2003 quando era primeiro-ministro, e as restantes já depois de sair da Comissão Europeia e passar a chairman do Goldman Sachs International.

Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal e ex-vice-presidente do Banco Central Europeu também foi convidado por três ocasiões: em 1977 e 1978 enquanto ministro das Finanças e em 1988 quando era líder do PS.

Mas a lista é longa e inclui muitos políticos no ativo e outros já no setor privado (ou na reforma). Do lado do PS, estão por exemplo António Costa. O atual primeiro-ministro foi convidado em 2008, quando era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, juntamente com Rui Rio, o atual líder do PSD, que era à data presidente da Câmara Municipal do Porto. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Inês de Medeiros, presidente da Câmara de Almada, Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, são alguns dos nomes dos lados socialistas que já foram ao evento no passado e ainda estão no ativo.

Mas há muitos outros nomes de socialistas que já não estão na vida política ativa, que passaram pelas reuniões desse grupo envolto em secretismo:
José Sócrates foi convidado em 2004 quando era deputado do PS. Pouco depois seria eleito primeiro-ministro de Portugal duas vezes. Saiu em 2011, depois de Portugal pedir resgate e é atualmente investigado pela justiça portuguesa.
António Guterres foi em 1990 quando era líder parlamentar do PS e novamente em 2005 já depois de ser primeiro-ministro. É o atual secretário-geral das Nações Unidas.
António José Seguro foi em 2013 quando era secretário-geral do PS. Hoje está afastado da vida política.
Fernando Teixeira dos Santos foi em 2010, quando era ministro das Finanças e menos de um ano antes de Portugal pedir o resgate ao FMI e à União Europeia. É o atual presidente do BIC Portugal.
Elisa Ferreira foi convidada em 2002 quando era deputada do PS no Parlamento português. É atualmente vice-governadora do Banco de Portugal.
Manuel Pinho foi convidado em 2009 quando era ministro da Economia do Governo de José Sócrates. Atualmente é professor de economia adjunto na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. E está a braços com a Justiça no caso dos CMEC.

Do lado PSD, há menos políticos no ativo, mas há mais sociais-democratas na lista que socialistas. Desde logo, Francisco Pinto Balsemão, que foi convidado pela primeira vez em 1981 e é o português que mais vezes participou neste fórum. No ativo, estão ainda Maria Luís Albuquerque, atualmente deputada do PSD, Paulo Rangel, eurodeputado pelo PSD, e Rui Rio, o líder do partido, podendo ainda contar com Marcelo Rebelo de Sousa. O atual Presidente da República foi à reunião de 1998, na Escócia, quando era líder do PSD. Entre os políticos do PSD que já não estão politicamente ativos, além de Francisco Pinto Balsemão e Durão Barroso, estiveram ainda nestas reuniões, entre outros:
Manuela Ferreira Leite foi convidada em 2009, quando era líder do PSD, já depois de ser ministra das Finanças. Está afastada da vida política ativa.
Paulo Macedo foi à reunião em 2014 quando era ministro da saúde. Atualmente é presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Nuno Morais Sarmento foi em 2005, quando era deputado do PSD e já depois de ter desempenhado funções de ministro de Estado e da Presidência. Continua a sua atividade como advogado e é vice-presidente do PSD de Rui Rio.
Jorge Moreira da Silva foi convidado em 2012, quando era primeiro vice-presidente do PSD. Mais tarde foi ministro do Ambiente e atualmente é diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE.
Pedro Santana Lopes participou na reunião em 2004, ainda como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas pouco antes de ser nomeado primeiro-ministro em substituição de Durão Barroso, que assumiu a presidência da Comissão Europeia. Atualmente desvinculado do PSD, criou o partido Aliança.
Fernando Faria de Oliveira foi convidado pela primeira vez em 1987, quando era vice-presidente da IPE, uma holding que geria as participações do Estado (entretanto extinta), e novamente em 1993, quando já era ministro do Comércio e do Turismo de Aníbal Cavaco Silva. É o atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos, e também foi presidente da Caixa Geral de Depósitos entre 2008 e 2011.

A lista é longa e inclui outras personalidades da vida portuguesa nas últimas décadas, como Ricardo Salgado, ex-presidente do BES e agora a braços com a justiça, e o seu tio, Manuel Espírito Santo Silva, um dos primeiros portugueses a integrar estas reuniões. Também Artur Santos Silva, ex-presidente do BPI e atual presidente da Fundação La Caixa. Mas também Paulo Portas, vice-primeiro-ministro de Pedro Passos Coelho.

Na história deste evento, foram ainda convidados quatro jornalistas. Nicolau Santos, na altura diretor do Expresso e atual presidente da Agência Lusa, Margarida Marante, uma das fundadoras da SIC, Clara Ferreira Alves e José Eduardo Moniz, à data presidente da RTP. Veja aqui a lista de todos os portugueses que participaram na reunião de que há registo:

2019:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
Estela Barbot, membro da administração da REN
Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa

2018:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
Paula Amorim, chairman do Grupo Amorim
Isabel Mota, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian

2017:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
José Luís Arnaut, managing partner da CMS Rui Pena & Arnaut

2016:
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças de Portugal entre 2013 e 2015, deputada do PSD
Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp Energia

2015:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
José Manuel Durão Barroso, Chairman da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia
António Vitorino, partner da Cuetracasas Gonçalves Pereira

2014:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Paulo Macedo, ministro da Saúde (atual presidente da Caixa Geral de Depósitos)
Inês de Medeiros, deputada do Partido Socialista (atual presidente da Câmara de Almada)

2013:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
António José Seguro, secretário-geral do Partido Socialista

2012:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD (mais tarde ministro do Ambiente do Governo de Pedro Passos Coelho e atual diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE)
Luís Amado, chairman do Banif (antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates e atual membro do conselho de administração do BCP)

2011:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Clara Ferreira Alves, jornalista e escritora
António Nogueira Leite, membro da administração da José de Mello Investimentos

2010:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Paulo Rangel, eurodeputado do PSD
Fernando Teixeira dos Santos, ministro das Finanças de Portugal (atualmente presidente do BIC Portugal)

2009:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Manuela Ferreira Leite, líder do PSD
Manuel Pinho, ministro da Economia e da Inovação

2008:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (atual primeiro.ministro de Portugal)
Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto (atual líder do PSD)

2007:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
Leonor Beleza, Presidente da Fundação Champalimaud

2006:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
José Pedro Aguiar Branco, antigo ministro da Justiça e deputado do PSD
Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares (atual ministro dos Negócios Estrangeiros)


2005:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa
António Guterres, presidente da Internacional Socialista e antigo primeiro-ministro de Portugal (atual secretário-geral das Nações Unidas)
Nuno Morais Sarmento, antigo ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, deputado do PSD

2004:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa
José Sócrates, deputado do PS

2003:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Manuel Durão Barroso, primeiro-ministro de Portugal
Eduardo Ferro Rodrigues, líder do Partido Socialista e deputado do PS (atualmente presidente da Assembleia da República)

2002:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
António Borges, vice-chairman e managing director da Goldman Sachs.
Elisa Ferreira, deputada do PS e antiga ministra do Planeamento (atualmente vice-governadora do Banco de Portugal)

2001:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Guilherme d’Oliveira Martins, ministro da Presidência
Vasco Graça Moura, eurodeputado PSD.

2000:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Teresa Patrício Gouveia, deputada do PSD

1999, Sintra, Portugal:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Joaquim Freitas do Amaral, deputado
João Gomes Cravinho, ministro das Infraestruturas e do Planeamento
Eduardo Marçal Grilo, ministro da Educação
Vasco de Mello, CEO do Grupo José de Mello
Francisco Murteira Nabo, CEO da Portugal Telecom
Ricardo Salgado, CEO do Grupo Espírito Santo
Jorge Sampaio, Presidente da República
Nicolau Santos, jornalista e diretor do semanário Expresso (atual presidente da Agência Lusa)
Artur Santos Silva, presidente e CEO do grupo BPI

1998:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Vasco Pereira Coutinho, Chairman da IPC Holding
Miguel Horta e Costa, vice-presidente da Portugal Telecom
Marcelo Rebelo de Sousa, líder do PSD

1997:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
António Borges, reitor do INSEAD
José Manuel Galvão Teles, fundador da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS) e membro do Conselho de Estado de Jorge Sampaio
Ricardo Salgado, CEO do Banco Espírito Santo

1996:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Margarida Marante, jornalista e membro da equipa fundadora da SIC
António Vitorino, ministro da Presidência e ministro da Defesa

1995:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
Luís Mira Amaral, ministro da Indústria e da Energia
Maria Carrilho, professora de sociologia

1994:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Impresa e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Manuel Durão Barroso, ministro dos Negócios Estrangeiros
Miguel Veiga, advogado e fundador do PSD.

1993:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
Nuno Brederode Santos, membro do Partido Socialista e colunista do semanário Expresso
Fernando Faria de Oliveira, ministro do Comércio e do Turismo (atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos)

1992:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
António Barreto, sociólogo e antigo ministro da Agricultura
Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação e consultor do Banco Mundial

1991:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente
Carlos Pimenta, eurodeputado e antigo secretário de Estado do Ambiente

1990:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
João de Deus Pinheiro, ministro dos Negócios Estrangeiros
António Guterres, líder parlamentar do Partido Socialista

1989:
Francisco Pinto Balsemão, Chairman do Grupo Sojornal sarl e ex-primeiro-ministro de Portugal
Rui Machete, presidente da Função Luso-Americana, antigo ministro da Justiça.
Jorge Sampaio, secretário-geral do Partido Socialista

1988:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
Vítor Constâncio, líder do Partido Socialista e antigo governador do Banco de Portugal e secretário de Estado do Orçamento e do planeamento (viria a assumir novamente o cargo de governador do Banco de Portugal e posteriormente de vice-presidente do Banco Central Europeu).
Francisco Lucas Pires, eurodeputado e antigo líder do CDS-PP

1987:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Eduardo Moniz, diretor de informação da RTP
Fernando Faria de Oliveira, vice-presidente do IPE

1986:
Artur Santos Silva, presidente do BPI
Leonardo Mathias, embaixador de Portugal em Washington

1985:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
José Manuel Torres Couto, secretário-geral da UGT
Ernâni Lopes, ministro das Finanças de Portugal

1984:
Francisco Pinto Balsemão, diretor do semanário Expresso e ex-primeiro-ministro de Portugal
André Gonçalves Pereira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros (durante os governos de Francisco Balsemão)
Emílio Rui Vilar, vice-governador do Banco de Portugal

1983:
Francisco Pinto Balsemão, primeiro-ministro de Portugal
Rogério Martins, Chairman da Simopre e antigo secretário de Estado da Indústria

1982:
Rogério Martins, Chairman da Simopre e antigo secretário de Estado da Indústria
Alexandre de Azeredo Vaz Pinto, antigo ministro do Comércio

1981:
Francisco Pinto Balsemão, primeiro-ministro de Portugal

1980:
José Medeiros Ferreira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo constitucional liderado por Mário Soares até 1978. Co-fundador do Movimento Reformador.

1979:
Vítor Constâncio, ministro das Finanças de Portugal

1978:
Vítor Constâncio, ministro das Finanças de Portugal

1977:
José Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros do primeiro governo constitucional

1972:
Manuel Espírito Santo Silva, presidente do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) entre 1955 e 1973.
Alberto Franco Nogueira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de António de Oliveira Salazar

1968:
Alberto Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de António de Oliveira Salazar

1967:
Alberto Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros e colaborador próximo de António de Oliveira Salazar

1966:
Manuel Espírito Santo Silva, presidente do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL) entre 1955 e 1973.

1963:
Marcello Mathias, embaixador de Portugal em Paris (cargo que ocupou durante 24 anos) e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros

1962:
Marcello Mathias, embaixador de Portugal em Paris (cargo que ocupou durante 24 anos) e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros

1960:
Manoel Maria Sarmento Rodrigues, nomeado governador da Guiné em 1945, foi ministro das Colónias e do Ultramar (1950 e 1951). Entre 1961 e 1964 foi governador-geral de Moçambique.

1959:
Manoel Maria Sarmento Rodrigues, nomeado governador da Guiné em 1945, foi ministro das Colónias e do Ultramar (1950 e 1951). Entre 1961 e 1964 foi governador-geral de Moçambique.





Nuno André Martins
Jornalista

https://eco.sapo.pt/especiais/o-que-e-feito-da-elite-de-bilderberg-76-portugueses-foram-a-este-clube-secreto-em-51-anos/