29 março 2022

D. Duarte Pio

Duarte Pio, Duque de Bragança pretendente à Chefia da Casa Real Portuguesa tem *ADN de Dom João VI ?
 
Nasceu no estrangeiro pode ser o sucessor do último Rei de Portugal, Dom Manuel II ?


De acordo com a tradição monárquica o último Príncipe Real de Portugal fora D. Luís Filipe, e fora também ele o último Duque de Bragança em tempo de vigência da Monarquia. Por esse motivo, o título de "Duque de Bragança" jamais poderia passar para a linhagem do ramo Miguelista do qual Duarte Pio descende, não só porque essa linhagem havia sido banida perpetuamente por Carta de Lei da rainha D. Maria II de Portugal, datada de 19 de dezembro de 1834, e reforçada pela Constituição Monárquica Portuguesa de 1838, mas também porque foi liderada apenas por primos estrangeiros em 5º grau (e até graus mais distantes) do último monarca português, e, por esse motivo, nem sequer representavam parentes válidos à luz da Lei. É que o facto de não deter-se nacionalidade portuguesa originária constitui um factor imediato de exclusão da sucessão ao trono em Portugal. Por esse mesmo motivo, ainda que não houvesse outros, os pretendentes Miguelistas ficaram de imediato sem direitos dinásticos: Miguel Januário de Bragança nasceu em Kleinheubach, na Alemanha; Duarte Nuno de Bragança nasceu em Seebenstein, na Áustria; e Duarte Pio nasceu em Berna, na Suíça, fora da Legação de Portugal.


*DNA (ácido desoxirribonucleico) é um ácido nucleico que apresenta todas as informações genéticas de um indivíduo. O DNA (ácido desoxirribonucleico) é um tipo de ácido nucleico que possui papel fundamental na hereditariedade, sendo considerado o portador da mensagem genética.
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Pretendente
Duarte Pio de Bragança




Duarte Pio discurso no Jantar Real dos Quarenta os conjurados em 2008.
Reivindicação
Título Príncipe Real de Portugal e Duque de Bragança
Predecessor Duarte Nuno de Bragança
Último monarca D. Manuel II de Portugal
Ligação com o último monarca 9.º grau de parentesco pela linha colateral (Código Civil e Código de Direito Canónico)

Vida
Cônjuge Isabel de Herédia
Descendência
Afonso
Maria Francisca
Dinis
Nome completo Duarte Pio de Bragança
Casa Casa de Bragança
Pai Duarte Nuno de Bragança
Mãe Maria Francisca de Orléans e Bragança
Nascimento 15 de maio de 1945 (77 anos)
Berna, Suíça
Religião Catolicismo


Assinatura.

Duarte Pio de Bragança[1] GMNSC (Berna, Suíça, 15 de maio de 1945) é, na atualidade, pretendente à Coroa de Portugal e ao título de duque de Bragança.[2]

Duarte Pio de Bragança é filho de Duarte Nuno de Bragança, por sua vez neto de D. Miguel I, e de sua esposa Maria Francisca de Orléans e Bragança, trineta de D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil, no casamento que uniu os dois ramos, miguelista e liberal, da Casa de Bragança.

Casou a 13 de maio de 1995 com Isabel de Herédia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sob a presidência de D. António Ribeiro, Cardeal-Patriarca de Lisboa. Em 1996 nasceu o seu filho primogénito e herdeiro, Afonso de Santa Maria de Bragança.

Primeiros anos

Duarte Pio de Bragança nasceu em Berna, na Suíça, fora da Legação de Portugal,[3] a 15 de maio de 1945. Foi o primeiro filho do pretendente Duarte Nuno de Bragança e da princesa Maria Francisca de Orléans e Bragança. Os seus padrinhos de batismo foram, por representação, o Papa Pio XII, a rainha-viúva Amélia de Orleães e a princesa Aldegundes do Liechtenstein.[4]

Os descendentes do ramo Miguelista da Família Bragança foram autorizados a regressar a Portugal pela Lei n.º 2040, de 27 de maio de 1950.[5]

A família fixou residência na Quinta da Bela Vista, em Canidelo, Vila Nova de Gaia, propriedade de Maria Manuela Borges de Quental Calheiros, condessa da Covilhã, e do seu consorte, Dr. Miguel Gentil Quina, conde consorte da Covilhã. Posteriormente, mudou-se para o Palácio de São Marcos, uma propriedade em São Silvestre, nos arredores de Coimbra,[6] que foi parcialmente cedida pela Fundação da Casa de Bragança para servir de residência à família. Sem fortuna e "sem meios financeiros para sustentarem a propriedade",[7] a família retornada pagava as suas despesas com donativos de apoiantes da Causa Monárquica. Mais tarde, foi em Santar que Duarte Pio conseguiu a sua primeira residência pessoal em Portugal.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

D. JOÃO VI «O fugitivo» …


«Clemente» na descendência legitimada?

Em sua época correram muitos boatos duvidando da sua paternidade de vários filhos, pois à sua esposa foram atribuídos vários amantes. Alberto Pimentel, por exemplo, disse que "passa como certo que dos nove filhos que D. Carlota Joaquina dera à luz, apenas os primeiros quatro tiveram por pai D. João VI", e Laura Junot ironizou a situação alegando que os irmãos não tinham semelhança entre si. De qualquer forma o rei reconheceu a todos como legítimo

1_ D. Maria Teresa de Bragança (1793-1874), casada em primeiras núpcias com D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, Infante de Portugal e de Espanha, e pela segunda vez com Carlos de Bourbon, Conde de Molina, também Infante de Espanha e seu cunhado; com descendência.

2 _ D. Francisco António Pio de Bragança (1795-1801), Príncipe da Beira; sem descendência.

3 _ D. Maria Isabel de Bragança (1797-1818), casou-se com Fernando VII de Espanha; uma filha natimorta.

4 D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, Imperador do Brasil e Rei de Portugal (1798-1834), casado em primeiras núpcias com Maria Leopoldina de Áustria e em segundas com Amélia de Leuchtenberg; com descendência.

5 _ D. Maria Francisca de Assis de Bragança (1800-1834), casou com Carlos de Bourbon, Conde de Molina; com descendência.

6 _ D. Isabel Maria de Bragança (1801-1876); sem descendência.

7D. Miguel I de Portugal (1802-1866), com duas filhas naturais legitimadas, casou posteriormente com Adelaide de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg e teve descendência do casamento.

8 _ D. Maria da Assunção de Bragança (1805-1834); sem descendência.

9 _ D. Ana de Jesus Maria de Bragança (1806-1857), casou com Nuno José Severo de Mendoça Rolim de Moura Barreto, 1º duque de Loulé; com descendência.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_VI_de_Portugal

25 março 2022

ESPERO QUE NÃO SEJA PRECISO FAZER UM DESENHO

"Os grandes beneficiários com a Guerra e com as sanções são os EUA: a estratégia americana para eliminar o concorrente russo e para dominar a Europa, utilizando como peão a Ucrânia, e o seu povo, e a emoção sincera dos europeus, para assim fortalecer o seu poder para enfrentar a China…"











Eugénio Rosa, 19/3/2022 – edr2@netcabo.pr



24 março 2022

A Origem e Declínio dos Estados Papais


Os Estados Papais eram territórios na Itália central que eram governados diretamente pelo papado - não apenas espiritualmente, mas em um sentido temporal e secular. A extensão do controle papal, que começou oficialmente em 756 e durou até 1870, variou ao longo dos séculos, assim como os limites geográficos da região. Geralmente, os territórios incluíam a atual Lazio (Lácio), Marche, Umbria e parte da Emilia-Romagna.

Os Estados Papais também eram conhecidos como República de São Pedro, Estados da Igreja e Estados Pontifícios; em italiano, Stati Pontifici ou Stati della Chiesa.

Origens dos Estados Papais

Os bispos de Roma adquiriram terras ao redor da cidade no século 4; essas terras eram conhecidas como Patrimônio de São Pedro. A partir do século V, quando o Império Ocidental oficialmente chegou ao fim e a influência do Império Oriental (Bizantino) na Itália enfraqueceu, o poder dos bispos, que agora eram frequentemente chamados de "papai" ou papa, aumentou como a população voltou-se para eles em busca de ajuda e proteção. O Papa Gregório, o Grande , por exemplo, fez muito para ajudar os refugiados dos invasores lombardos e até conseguiu estabelecer a paz com os invasores por um tempo. Gregório é creditado por consolidar as propriedades papais em um território unificado. Embora oficialmenteas terras que se tornariam os Estados Papais eram consideradas parte do Império Romano Oriental, em sua maior parte, eram supervisionadas por oficiais da Igreja.

O início oficial dos Estados Papais ocorreu no século VIII. Graças ao aumento da tributação do império oriental e à incapacidade de proteger a Itália e, mais especialmente, às opiniões do imperador sobre a iconoclastia, o papa Gregório II rompeu com o império, e seu sucessor, o papa Gregório III, manteve a oposição aos iconoclastas. Então, quando os lombardos tomaram Ravenna e estavam prestes a conquistar Roma, o papa Estêvão II (ou III) voltou-se para o rei dos francos, Pippin III (o "Short"). Pippin prometeu devolver as terras capturadas ao papa; ele então conseguiu derrotar o líder lombardo, Aistulf, e o fez devolver as terras que os lombardos haviam capturado para o papado, ignorando todas as reivindicações bizantinas ao território.
A promessa de Pippin e o documento que a registrou em 756 são conhecidos como a Doação de Pippin e fornecem a base legal para os Estados Papais. Isso é complementado pelo Tratado de Pavia, no qual Aistulf oficialmente cedeu as terras conquistadas aos bispos de Roma. Os estudiosos teorizam que a doação forjada de Constantino também foi criada por um clérigo desconhecido por volta dessa época. Doações e decretos legítimos de Carlos Magno , seu filho Luís, o Piedoso, e seu neto Lotar I confirmaram a fundação original e acrescentaram ao território.

Os Estados Papais durante a Idade Média

Ao longo da instável situação política na Europa nos séculos seguintes, os papas conseguiram manter o controle sobre os Estados Pontifícios. Quando o Império Carolíngio se desfez no século 9, o papado caiu sob o controle da nobreza romana. Foi uma época sombria para a Igreja Católica, pois alguns dos papas estavam longe de ser santos; mas os Estados papais permaneceram fortes porque preservá-los era uma prioridade dos líderes seculares de Roma. No século 12, os governos das comunas começaram a se erguer na Itália; embora os papas não se opusessem a eles em princípio, aqueles que foram estabelecidos em território papal mostraram-se problemáticos, e a contenda levou a revoltas na década de 1150. No entanto, a República de São Pedro continuou a se expandir. Por exemplo, o Papa Inocêncio III capitalizou o conflito dentro do Sacro Império Romano para pressionar suas reivindicações, e o imperador reconheceu o direito da Igreja a Spoleto.

O século XIV trouxe sérios desafios. Durante o papado de Avignon , as reivindicações papais ao território italiano foram enfraquecidas pelo fato de que os papas não viviam mais na Itália. As coisas pioraram ainda mais durante o Grande Cisma, quando papas rivais tentaram administrar as coisas tanto de Avignon quanto de Roma. Por fim, o cisma acabou e os papas se concentraram em reconstruir seu domínio sobre os Estados papais. No século XV, eles viram um sucesso considerável, mais uma vez devido ao foco no poder temporal sobre o espiritual demonstrado por papas como Sisto IV. No início do século XVI, os Estados Papais viram sua maior extensão e prestígio, graças ao papa-guerreiro Júlio II .

O Declínio dos Estados Papais

Mas não foi muito depois da morte de Júlio que a Reforma sinalizou o início do fim dos Estados Papais. O próprio fato de que o chefe espiritual da Igreja deveria ter tanto poder temporal era um dos muitos aspectos da Igreja Católica que os reformadores, que estavam em processo de se tornar protestantes, objetaram. À medida que os poderes seculares ficaram mais fortes, eles foram capazes de destruir o território papal. A Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas também causaram danos à República de São Pedro. Eventualmente, durante o curso da unificação italiana no século 19, os Estados Papais foram anexados à Itália.

A partir de 1870, quando a anexação do território papal pôs fim oficialmente aos Estados papais, os papas estavam em um limbo temporal. Isso acabou com o Tratado de Latrão de 1929, que estabeleceu a Cidade do Vaticano como um estado independente.
https://www.greelane.com/pt/humanidades/hist%c3%b3ria--cultura/the-papal-states-1789449/

“Guerra à Guerra”

(Raquel Varela, 23/03/2022)


(Mais uma vez a lucidez de Raquel Varela. Este conflito só pode resolver-se com negociações sérias entre a Rússia e os EUA porque a UE e a Ucrânia não passam de atores secundários. Mas isso Biden e quem o apoia não quer. Business is business. E a unanimidade da NATO/EUA/UE nas cimeiras de hoje assusta: nem uma palavra pela paz! Querem guerra e derrotar com “fisgas” uma potência militar que em 10 minutos, se tanto, tem poderio para destruir várias vezes o Planeta!! Está tudo demente!

Por este andar, talvez nem as formigas nem as moscas cá fiquem para contar a história do suicídio da espécie humana.

Estátua de Sal, 24/03/2022

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Hoje perguntei a um grupo de jovens o que fariam se fossem mobilizados para a guerra, a resposta foi “já combinámos todos, partimos um braço no skate para não ir”. Estes dias tenebrosos, para onde os líderes dos impérios nos levaram, normalizaram a guerra como um acto viril, de coragem, em que os homens fortes ficam a combater e as “pobres mulheres e crianças são refugiadas”. Sempre me impressionou, antes desta guerra, quando se referia que as mulheres eram as principais vitimas da guerra, porque eram a maioria dos refugiados. Evidentemente, são mulheres porque os homens ficam nas guerras a praticar, assistir e ser alvo das maiores atrocidades!

Eles, os homens, são as principais vítimas da guerra e sempre foram. Não são todos os homens, são os pobres que vêem no exército profissional a única forma de sobrevivência, são os mantidos na ignorância de um sistema económico que usa e abusa da pobreza de espírito, e são os filhos das classes médias/trabalhadoras, porque filhos de empresários, generais e accionistas nunca estiveram em risco.

Esta guerra – mesmo contra a mais básica mistificação e propaganda – não é diferente de todas as outras. Vende-se muita coragem, entrevistam-se voluntários, mas fazem-se leis para para mobilizar os homens à força, com leis de conscrição, que os proíbem de fugir. E cria-se um ambiente de perseguição aos que não querem ir para a guerra, acusando-os de cobardia ou traição à pátria. A pátria, esta ou qualquer outra, o que deu aos homens que morreram por ela? Com sorte, o nome num passeio, ao lado de uma estátua gigante de um General ou Presidente.

Um cadastrado por homícidio tatuado com uma suástica vai em missão “humanitária” para a Ucrânia, e os milhares que queiram de lá fugir não podem, não são entrevistados, não existem. E ainda lhes chamarão, sem pudor, “traidores à pátria”. Sem surpresa regressou neste mês, pela mão de democratas que ostentaram 30 anos pombas da paz, a necessidade urgente de “um exército europeu”, pago com a nossa saúde e educação, “ir para a Ucrânia combater”, regresso do “serviço militar obrigatório”. É só gritos de guerra, aqui e na Rússia, de quem nunca suja as mãos e mandam os outros lavarem-se em sangue. O cinismo encarregar-se-á de encontrar uma justificação para o injustificável.

As guerras são coisas de ricos, não as faremos por vós, dizia um cartaz de uma manifestação nos EUA. Que os jovens europeus vão todos andar de skate, e que sobretudo organizem a resistência ao militarismo, e renunciem a ser carne para canhão da economia de guerra é o meu desejo sincero. Guerras combatem-se com resistência política organizada democraticamente contra os reais fautores da guerra, foram assim as resistências na I e na II Guerra, uma guerra política e social contra a guerra económico-militar.


Guerras não se combatem até ao último homem dos filhos dos outros. Os homens, filhos de quem vive do trabalho, são as principais vítimas da guerra. Esperemos que sejam também, como tantas vezes foram no passado, os que lutarão contra as guerras.

Viril não ir à guerra, é desertar, viril e corajoso é fazer greves que doam a quem faz a guerra, nobre é, como na II Guerra, parar fábricas e transportes; corajoso é lutar por saúde e educação contra orçamentos militares. É aí que reside todo o humanismo radical – é na luta contra as guerras, pela humanidade como pátria, entre iguais, que nos tornamos dignos de respeito dos outros. Trair a humanidade, embarcando no militarismo, aceitando o negócio da destruição, é um acto cobarde, de quem não se quer enfrentar com quem tem realmente poder.

13 março 2022

A coragem está na paz, não nos falsos heroísmos

 (Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 11/03/2022)





Quero dar os meus parabéns ao Miguel Sousa Tavares pela coragem que demonstra, neste e noutros textos que tem produzido sobre a guerra na Ucrânia. É quase o único comentador que consegue pensar pela sua cabeça sem ser submerso pelo unanimismo maniqueísta que faz furor na comunicação social. O Ocidente está a espezinhar os seus valores mais emblemáticos, como a liberdade de expressão, a liberdade de opinião, a liberdade de comércio, a liberdade de investir, o próprio direito à propriedade privada, valor alicerce das economias de mercado, ditas livres, em nome de sanções inconsequentes que irão destruir o nosso modo de vida. É por isso que, qualquer que seja o desfecho que as armas ditem no conflito ucraniano, Putin já ganhou a guerra.

Estátua de Sal, 11/03/2022


1O herói não é, não pode ser nunca, quem invade o vizinho mais fraco à míngua de outros argumentos e leva a morte, a destruição e o terror a terra alheia. Não pode ser, pois, Vladimir Putin, que diz que russos e ucranianos são um mesmo povo e que, todavia, bombardeia e põe em fuga esse “mesmo povo”. As razões que tinha ou que julgava ter por força da história ou do direito perdeu-as por força dos canhões e dos tanques. E o resto fazem-no as imagens que todos os dias chegam às casas do mundo inteiro: porque se qualquer guerra tem como consequência cidades bombardeadas, crianças e velhos mortos ou em fuga, esta tem a diferença de ser filmada de perto e a cores, dia a dia e à medida que vai acontecendo.

Mas o herói também não é o celebrado Volodymyr Zelensky, com a sua T-shirt militar e os seus discursos “patrióticos”, usando com mestria os seus dotes de actor e com indisfarçada vaidade (e sucesso, dos Comuns ao Facebook) a sua veleidade de ser tomado pelo Churchill do século XXI. Até agora, enquanto as mulheres e crianças fogem e os homens, civis e militares, tentam deter as tropas russas, ele, entrincheirado no seu bunker, a fazer tweets e vídeos e a apelar à terceira guerra mundial, tem sido um herói à medida destes tempos sem heróis verdadeiros e com heróis instantâneos. Mas, a menos que muito me engane, não me espantaria que, se a guerra for para continuar e os russos entrarem em Kiev, o herói Zelensky será capaz de desiludir muitos corações. Não é Churchill quem quer.

Zelensky parece agora finalmente disposto a negociar com Putin e a negociação, se não foi entretanto cancelada, irá já a nível de ministros dos Estrangeiros.

Devemos a Israel, à Turquia e, em parte, à China esse esforço de intermediação capaz de sentar as partes à mesa. Nada o devemos aos Estados Unidos, à União Europeia ou à ONU, como eu sempre o escrevi: nem antes nem agora. Isto merece ficar registado: temos uma guerra na Europa com um potencial de alastramento como nunca antes em 70 anos, com efeitos económicos devastadores sobre o continente, com talvez uns cinco milhões de refugiados que tudo perderam, e, apesar disso, a Europa, enquanto tal, não mexeu uma palha para evitar o conflito ou para tentar pará-lo, uma vez iniciado. As melhores cabeças pensantes da Europa escrevem rios de tinta sobre o recomeço da História e da Guerra Fria, sobre a nova realidade geopolítica, sobre a necessidade de uma verdadeira política de rearmamento europeu, sobre a urgência em asfixiar a Rússia (e os russos) com sanções económicas e banir da face visível do planeta todos os russos — e não apenas os oligarcas ou os íntimos de Putin, mas também músicos, artistas, desportistas, cientistas. Mas sobre uma estratégia de paz e segurança mútua que envolva todos e inclua a Rússia nada, nem uma consideração, nem uma palavra.

Porém, não deixa de ser curioso que Zelensky aceite agora negociar, e com base nas propostas russas, o que poderia ter negociado antes da invasão. Penskov, o porta-voz do Kremlin, enumerou na segunda- -feira o que querem os russos: a NATO fora da Ucrânia e a alteração da Constituição ucraniana, que prevê expressamente essa adesão; a “desmilitarização” da Ucrânia, o que significa que ela não estacionará no seu território armas nucleares; a “desnazificação” da Ucrânia, o que equivale a expulsar das suas Forças Armadas os batalhões nazis que Zelensky lá integrou; um estatuto de independência ou similar para as regiões de maioria russa do Donbas, e o reconhecimento de jure da Crimeia como parte da Rússia, como historicamente quase sempre o foi. Sobre todos estes pontos, e a menos que entretanto tenha voltado atrás, Zelensky já aceitou ceder em parte deles e negociar noutros. A pergunta que se coloca, então, é esta: porque não o fez antes, quando era isto justamente que a Rússia propunha? Porque não o fez para evitar a invasão do seu país e não ter de assistir a tantos mortos, tanta destruição, tantas famílias em fuga? Porque diz agora que a adesão à NATO é um projecto inexequível e antes foi a Munique exigi-la imediatamente? Será porque antes ouviu todos os países da NATO repetirem que a Ucrânia tinha o direito de decidir livremente o seu destino, mesmo que isso pudesse conduzir a uma guerra com a Rússia, que se sentia ameaçada com o alastramento da NATO à Ucrânia? E será porque se sentiu confortado e iludido por essas proclamações que ele passou estes dias de guerra a apelar ao envolvimento da NATO, a reclamar o fecho do espaço aéreo da Ucrânia aos aviões russos e a queixar-se de que estava sozinho a “defender a liberdade do Ocidente”?

A pergunta que se coloca, então, é esta: porque não aceitou Zelensky negociar antes, quando era isto justamente que a Rússia propunha? Porque não o fez para evitar a invasão do seu país e não ter de assistir a tantos mortos, tanta destruição, tantas famílias em fuga?

2“A liberdade tem um preço”, disse Joe Biden, e tem toda a razão. Mas o preço da liberdade não pode ser o fim de tudo, que fatalmente incluiria também o fim da liberdade: não há liberdade quando tudo estiver morto. Por isso o Ocidente teve o bom senso mínimo de não ceder aos apelos de intervenção de Zelensky, que teriam, com toda a probabilidade, conduzido, por descontrole, por escalada ou por acidente, a uma guerra nuclear. Na crise dos mísseis em Cuba, em 1962, Fidel Castro também apelou a Moscovo para que desencadeasse um ataque nuclear contra os Estados Unidos, mas, felizmente, também o bom senso prevaleceu entre os russos. A lição é que há sempre loucos disfarçados de heróis de ambos os lados, que acham que o seu lugar na história é mais importante do que o destino dos outros — mesmo que depois não sobrem muitos para contar a história. É por isso, entre outras coisas, que isto de ver as situações a preto e branco — nós somos o Bem e eles o Mal — é o caminho mais certo para o desastre. É curioso observar que no meio desta unanimidade quase religiosa como esta crise tem sido analisada do lado de cá (do lado dos Bons), por analistas, historiadores, jornalistas, comentadores, quem mais destoa da opinião formatada são os militares, tradicionalmente vistos como os mais pró-guerra. O exemplo mais visível, porque mais exposto, foi o do Chefe do Estado-Maior da Armada alemã, quando ousou dizer que Putin tinha razões que deviam e mereciam ser ouvidas, e, portanto, foi imediatamente demitido.

Em Lisboa já vi bandeiras da Ucrânia hasteadas nas janelas dos prédios, como outrora, a pedido de Scolari e a propósito do futebol, se hastearam bandeiras portuguesas. O presidente do Benfica fez a capa da “Bola” embalando caixas de conservas para a Ucrânia, numa acção de solidariedade das muitas que, e ainda bem, estão em curso. Em Bruxelas, na sede da UE, as bandeiras dos 27 foram substituídas por 27 bandeiras da Ucrânia e imagino que as contas das redes sociais das celebridades estejam infestadas das ditas, vestidas de azul e amarelo. É tudo muito bonito, muito fácil e absolutamente ineficaz para o que interessa. Alguém, que tinha obrigação de estar informado, perguntava-me há dias se a subida vertiginosa do preço dos combustíveis tinha mesmo que ver com a guerra na Ucrânia ou se era uma manobra do Governo. Deixem que passe a fase dos gestos bonitos e fáceis e vão ver o que aí vem. Deixem que a guerra continue, que a paz falhe, e vão perceber quem é que vai sair arrasado desta guerra, para além dos ucranianos, e quem é que vai sair a ganhar biliões. Mais uma vez, porém, não precisamos de uma explicação a preto e branco, mas apenas de aproveitar uma oportunidade de reflexão, a benefício de tempos vindouros.

3E depois da guerra e da poeira assente haveremos também, espero, de ter ocasião de reflectir sobre a mais parcial, incompetente e prejudicial cobertura noticiosa e analítica de um conflito a que alguma vez assisti do lado a que chamam as “democracias liberais”. Desde o sagrado “The Guardian” até à nossa imprensa.


Pela primeira vez, e pacificamente aceite, o Conselho Europeu estabeleceu a censura sobre órgãos de informação do “outro lado” (as TV russas), com o argumento de que divulgavam informação enganosa que nos podia desinformar.

Ocultou-se ou minimizou-se informação que podia prejudicar a imagem do “heróico” povo combatente e do Exército e autoridades ucranianas, tais como episódios de racismo ou de abusos sobre prisioneiros de guerra russos.

E foi patente um clima de intimidação sobre quem ousou questionar a verdade única ou pensar diferente, que eu próprio tive a honra de experimentar.

(Na Rádio Observador, por exemplo, o José Manuel Fernandes chamou-me “idiota útil ao serviço da propaganda de Putin”, o que em nada me afecta, porque, ao contrário dele, eu não sou nem nunca fui de direita ou de extrema-direita, nem maoista, leninista ou estalinista, e nem fui, como ele, idiota útil ao serviço da propaganda da NATO e do pateta do Bush filho, aquando da invasão do Iraque para supostamente encontrar armas de destruição maciça, de cuja existência não havia quaisquer provas. Isto de pensar pela própria cabeça incomoda sempre os idiotas que se imaginam úteis.)

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Publicação:

A ESTATUA DE SAL

https://estatuadesal.com/2022/03/11/a-coragem-esta-na-paz-nao-nos-falsos-heroismos/?fbclid=IwAR3fb-HXD8audDMhViuKeW6gjy8FY5ZWLLNoBREZmTKEEAPNt9x7zQk33e4

02 março 2022

Infografia: Os receios da Rússia em relação à NATO explicados num mapa

Posto transfronteiriço de Zhuravlivka, na Ucrânia. Esta passagem para a Rússia está encerrada desde 2020. Foto: Vyacheslav Madiyevskyy/ Ukrinform/Future Publishing via Getty Images

 17 fev, 2022

A NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é um ponto fulcral na discórdia entre a Rússia e a Ucrânia. Criada em em 1949 com 12 países, tem vindo a crescer para leste numa expansão que Moscovo sente como um cerco

1. A NATO e o Pacto de Varsóvia

Criada em 1949 por 12 países fundadores (entre os quais Portugal), a NATO nasceu como uma aliança militar. Os membros comprometeram-se a auxiliar-se mutuamente caso algum deles fosse atacado. Os países fundadores foram os Estados Unidos, o Canadá e um conjunto de países situados sobretudo no oeste e centro da Europa: Bélgica, Dinamarca, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Portugal e Reino Unido.

Poucos anos depois, em 1955, a então União Soviética fundou a sua própria aliança militar com o Pacto de Varsóvia, assinado com os países socialistas de leste: a Albânia, a Bulgária, a Checoslováquia, a República Democrática da Alemanha, a Hungria, a Polónia e a Roménia.

Ao longo dos anos, outros países foram-se juntando à NATO: Grécia, Turquia, República Federal da Alemanha e Espanha. O Pacto de Varsóvia, pelo contrário, perdeu influência com o declínio da União Soviética e acabou por se dissolver em 1991.

Este era o mapa das alianças militares na Europa antes do fim da União Soviética, no final de 1991:

Legenda: a azul estão os países pertencentes à NATO em 1991, a vermelho os países que assinaram o Pacto de Varsóvia.

2. Uma promessa quebrada

Com a queda da União Soviética, a NATO continuou a sua expansão para o leste da Europa. 14 países juntaram-se à aliança militar entretanto. Em 1999, três países que tinham feito parte do Pacto de Varsóvia juntam-se à aliança transatlântica: Checoslováquia, Hungria e Polónia. Nos anos seguintes, também se lhes juntaram a Bulgária, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Roménia, a Eslováquia, a Eslovénia, a Albânia, a Croácia, o Montenegro e a Macedónia do Norte.

Esta expansão é vista por Moscovo como a quebra de uma promessa feita no final da Guerra Fria pelo então secretário de estado norte-americano James Baker ao líder soviético, Mikhail Gorbachev. Putin alega que na altura ficou prometido que a NATO não sei ira expandir para o leste da Europa.

Não há apenas uma versão do que foi falado na altura, mas o que se sabe é que não há nenhum acordo escrito com este princípio. O acordo final assinado entre a Rússia e o ocidente em Setembro de 1990 refere apenas o território da antiga República Democrática Alemã.

Em baixo, mostramos o mapa da Europa em 1999, ano em que o último país que fazia parte do Pacto de Varsóvia, sem contar com a Rússia, se junta à NATO. A azul estão os países pertencentes à NATO, a vermelho aqueles que, embora independentes, continuavam sob influência russa.


3. A questão ucraniana

A alegada quebra de promessa tem sido referida ao longo dos anos pelos líderes soviéticos. Para além de Putin, também Yeltsin, em 1993, invocou esta falta ao então presidente norte-americano Bill Clinton. O ano passado, no entanto, a perspectiva de uma nova expansão da NATO contribuiu para esta escalada de tensão. A aliança transatlântica reconheceu oficialmente três novos aspirantes a membros, assinalados a amarelo no mapa em baixo: Bósnia, Geórgia e Ucrânia.


Pela dimensão do país e também pela sua localização, a Ucrânia é alvo de uma atenção acrescida por parte das autoridades russas. 
Já em 2014, altura em que a Rússia anexou unilateralmente a província ucraniana da Crimeia, foi uma tentativa de aproximação à União Europeia que espoletou a ação militar. 
No ano interior, a capital ucraniana, Kiev, encheu-se de manifestações pró-europeias depois do presidente Volodymyr Zelensky se ter recusado a assinar um acordo de associação com a UE.

CNN Portugal

UCRÂNIA: A GUERRA DE EUA-BIDEN

 

Joe Biden conseguiu! 
Pela irresponsabilidade do atual governo dos Estados Unidos em insistir na expansão da OTAN para as fronteiras russas, agora temos uma guerra na Ucrânia que pode escalar para um conflito de média intensidade ou até para além disto. 
Por envolver diretamente uma potência nuclear, há sempre um fantasma pairando no ar. Entretanto, é precipitado classificar este conflito como uma 3a Guerra Mundial. Seja como for, o Brasil precisa manter uma equidistância pragmática sem tomar lado. Vamos aos dados.


A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foi criada pelos Estados Unidos em 1949 com o objetivo de combater a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Após o fim da Guerra Fria em 1989 e a dissolução da URSS, a OTAN perdeu o sentido de existir. Mas, ao contrário, os Estados Unidos decidiram expandi-la para países do Leste Europeu. Nas últimas 3 décadas, a OTAN foi cercando a Rússia com a inclusão de novos membros. Entretanto, nenhum país nas fronteiras russas havia sido acrescido na aliança atlântica.

Em 1991, George H. Bush bombardeou o Iraque para mostrar ao mundo que só havia no momento uma superpotência. Bill Clinton atacou e destruiu a Iugoslávia em 1999, fragmentando o território daquele país e criando um estado postiço no Kosovo. Isto foi uma afronta direta a um aliado histórico da Rússia, que naquele momento não teve como reagir.

Com os ataques em 11 de setembro de 2001, a Doutrina de George W. Bush declarou que os Estados Unidos poderiam fazer guerras preventivas sem o consentimento da ONU e que quem não estivesse ao lado deles seria seus inimigos. Os resultados concretos foram duas grandes guerras: a do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003. A primeira foi para controlar o heartland da Eurásia e a segunda, para atender ao interesse da indústria petrolífera. Ambas visavam drenar recursos públicos para a indústria bélica.

Desde o fim da URSS, a Rússia teve que confrontar guerras em seu próprio território ou nas fronteiras, muitas das quais tendo os Estados Unidos como patrocinador. Um a um, os regimes aliados à Rússia no Leste Europeu foram sendo derrubados com as chamadas “revoluções coloridas”, que eram operações de mudança de regime empregando as modernas técnicas de guerra híbrida. Em 2014, um golpe de estado articulado pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia derrubou o governo ucraniano, então aliado a Moscou. O objetivo era retaliar a Rússia por ela ter contido a operação de mudança de regime na Síria – uma guerra criada para redesenhar o mapa geopolítico do Oriente Médio na complexa geopolítica dos hidrocarbonetos que também envolve o peso russo no comércio de gás e petróleo. Também visava impedir o acesso russo a mares quentes através do Mar Negro. Planejava ainda expandir a OTAN para as fronteiras russas e assim conter a possível retomada da sua influência na área da antiga URSS.

A subjetividade é um elemento central das modernas guerras híbridas. Assim, foi preciso construir um sentimento de desagregação da identidade eslava russo-ucraniana. Para tanto, foram financiados grupos ultranacionalistas, neonazistas e bandeiristas. Saíram do armário ideias que estavam adormecidas desde a 2a Guerra Mundial com financiamento europeu e estadunidense. Grupos como Svoboda e Setor Direita formaram bancadas no parlamento ucraniano após o golpe. Em 2 de maio de 2014, neonazistas promoveram um massacre de sindicalistas em Odessa, resultando na morte de mais de 40 pessoas e 200 feridos gravemente por terem sido queimados vivos na sede de um sindicato. Nem Estados Unidos nem União Europeia condenaram as ações dos neonazistas.

A Rússia agiu rapidamente para garantir seus interesses estratégicos: reanexou a Crimeia e o poderoso porto de Sebastopol no Mar Negro. Apoiou grupos separatistas na região fronteiriça de Donbass, das autoproclamadas Repúblicas Populares de Luganski e Donetsky. Apesar de ter uma grande população étnica russa, o idioma russo foi banido da oficialidade e sentimentos de xenofobia passaram a ser promovidos amplamente na Ucrânia. Mesmo assim, em 2014, foram estabelecidos os Acordos de Minsk, no qual a Rússia prometeria não atacar a Ucrânia e a Ucrânia deixaria em paz os russos étnicos.

Em 2019, um comediante de televisão, Volodymir Zelensky, foi eleito presidente da Ucrânia com a promessa de retomar a Crimeia, massacrar os separatistas em Donbass e solicitar o ingresso da Ucrânia na OTAN. Ou seja, sua plataforma era rejeitar os Acordos de Minsk. Logo, o conflito se escalonaria para a situação atual.

Desde a crise de 2008/2009, os Estados Unidos e a União Europeia vêm passando por um declínio relativo, enquanto a China e a Rússia vivem uma ascensão – o primeiro na economia e o segundo militarmente. Estes dois países, afastados durante a Guerra Fria, seguiram num processo de reaproximação estratégica. Grupos como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a OCX (Organização para a Cooperação de Xangai) contribuíram neste sentido. O projeto chinês da Nova Rota da Seda conta com a Rússia, que também procura retomar sua influência na região eurasiana, particularmente no estratégico Cazaquistão e nas outras antigas repúblicas soviéticas, inclusive as do Leste Europeu.

Com a eleição do republicano Donald Trump em 2017, os Estados Unidos distanciaram-se das hostilidades com a Rússia. Os democratas acusavam-no de ter recebido apoio russo nas eleições. Em 2020, Trump retirou as tropas estadunidenses do Iraque. Joe Biden foi eleito e em 2021, removeu o exército do Afeganistão. Os Estados Unidos foram derrotados nas duas guerras iniciadas na gestão Bush e que tiveram quase duas décadas de duração. Para completar, a guerra na Síria, iniciada no governo Barack Obama, foi contida pela Rússia. Ou seja, os três principais movimentos militares estadunidenses das últimas décadas fracassaram. Mas nada teve impacto tão visível quanto a retirada desesperada dos Estados Unidos de Joe Biden do Afeganistão, derrotados por um grupo de pastores de cabra fundamentalistas religiosos.

Para completar, Biden faz internamente um governo desastroso. Sem ter interesse em mexer nos interesses dos ricos, o país vem enfrentando uma crise econômica e social. A pobreza extrema cresce a olhos vistos e, ao mesmo tempo, os bilionários lucram como nunca antes na História. Com carisma inexistente, Biden precisava de algum tipo de diversionismo. Assim, passou a instar Zelensky a provocar a Rússia em direção a uma guerra que também atende aos interesses do complexo militar-industrial que, fora do Afeganistão e do Iraque, precisava de um novo conflito para receber dinheiro público. Em outras palavras, enquanto o povo dos Estados Unidos passa dificuldades na vida cotidiana, a indústria bélica se deleita com verbas federais.

A Ucrânia seria o cenário perfeito para os Estados Unidos criarem uma guerra por procuração. Biden, o alto escalão de seu governo e a grande mídia estadunidense passaram a provocar a Rússia sob a ameaça de aceitar um pedido de ingresso da Ucrânia na OTAN. Entretanto, isto fere mortalmente os interesses estratégicos russos. Caso a Ucrânia entre para a aliança atlântica, esta finalmente ficará encostada nas fronteiras russas. Isso significa que qualquer conflito que se inicie na região, colocaria todos os membros da OTAN em guerra automática contra a Rússia. Para um país que foi invadido pelas guerras napoleônicas e nas duas guerras mundiais, tal risco é inaceitável. Por isso, a Rússia tentou por todas as vias diplomáticas evitar este conflito.

Em 23/02/2022, Putin ordenou a invasão da Ucrânia. Foi uma resposta a sucessivos ataques ucranianos a russos étnicos na região de Donbass e a uma sabotagem por forças especiais na fronteira. Putin deixou claro que não irá negociar os interesses estratégicos da Rússia. Os Estados Unidos e o Reino Unido querem o conflito e estão enviando armas e dinheiro para a Ucrânia. A Rússia quer garantia de que a OTAN não alcance sua fronteira e que russos étnicos não sejam hostilizados, mas sabe os custos de uma guerra duradoura com ocupação territorial. A União Europeia está dividida. A Alemanha depende do gás russo e sua elite econômica possui grandes investimentos na Rússia. A França, que ingressou à OTAN no governo Sarkozy, não deseja uma guerra de grandes proporções na Europa. Entretanto, será difícil manterem a neutralidade num conflito que pode redesenhar as fronteiras europeias e pode ser entendido como uma onda de expansionismo russo em direção ao oeste.

Qual a posição o Brasil deve adotar? O Brasil deve agir como estado e não como governo. Uma guerra de grandes proporções não é do interesse do Brasil. Como atual membro do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil não pode tomar lado neste conflito e precisa manter uma equidistância pragmática. Mas também o país não pode fazer vista grossa ao expansionismo da OTAN. Hoje, o Brasil está cercado de bases militares dos Estados Unidos em vários países sul-americanos e em algum momento este tema terá que ser tratado. Da mesma forma, é preciso que os cidadãos brasileiros não se deixem contaminar pela propaganda de guerra estadunidense ou russa. Ter posição de torcida organizada neste conflito, independente do lado que se escolha, é um grande erro. O Brasil tem que pensar em seus próprios interesses. E o interesse do Brasil é a paz.

Por último, Putin não é santo nem demônio. Ele pode ter ações condenáveis internamente mas neste caso ele está agindo para garantir a sobrevivência da Rússia com a ameaça de expansão da OTAN. Esta guerra não se trata ainda de uma 3a Guerra Mundial, nem de um conflito termonuclear. Mas a depender das movimentações, corre o risco de escalonar para desdobramentos mais complexos. A paz precisa ser negociada. Mas este conflito jamais teria se iniciado se não fosse a sanha do governo Biden em recuperar sua popularidade e de sanar a ganância do complexo militar-industrial dos Estados Unidos. Basta os Estados Unidos cumprirem o acordo feito com a Rússia no fim da Guerra Fria de não expandirem a OTAN pras fronteiras russas e a Ucrânia cumprir os acordos de Minsk que a Rússia não terá mais motivos para seguir em guerra. Guerra e diplomacia caminham lado a lado. Por isso, só a diplomacia pode levar à paz.

Prof Thomas de Toledo