30 maio 2021

Michael Shellenberger foi um dos autores do “New Apollo Project”

Em 2003, o ambientalista norte-americano Michael Shellenberger foi um dos autores do “New Apollo Project”, um apelo à aposta nas energias renováveis e um roteiro para um Green New Deal nos Estados Unidos. Ele e Ted Nordhaus haviam fundado, naquele ano, o Breakthrough Institute, um dos mais importantes think-tanks ambientais dos EUA. Quatro anos depois, o projeto serviu de base à proposta de política climática do candidato presidencial Barack Obama, subsequentemente implementada através de investimentos milionários em energias renováveis. Em 2008, a defesa de uma abordagem alternativa à luta climática, sobretudo baseada na noção de que o ativismo ambiental não conseguira atingir as metas que se propusera, valeu-lhe o título de “herói do ambiente” para a revista Time.
Mas, ao longo das últimas duas décadas, Shellenberger mudou gradualmente de ideias. Cansado daquilo a que chama o “ambientalismo apocalíptico”, criou uma nova instituição, a Environmental Progress, e dedica-se atualmente à defesa da energia nuclear enquanto solução para as alterações climáticas. Ao fim de vinte anos de viagens e investigações sobre as dinâmicas sociais que guiam o modo como olhamos para as alterações climáticas, Michael Shellenberger escreveu o livro que diz que gostava de ter lido quando era criança: Apocalipse Nunca. Como o Alarmismo Ambiental nos Prejudica a Todos chegou esta semana às livrarias portuguesas através da Leya.
No livro, um extenso ensaio sobre o clima do planeta, Shellenberger escreve que as alterações climáticas são reais, mas não são o fim do mundo — e rejeita todo o tipo de linguagem apocalíptica, visando sobretudo grupos radicais como o Extinction Rebellion (de que o movimento Climáximo é o elo de ligação em Portugal) ou a ativista sueca Greta Thunberg. Para Shellenberger, as repetidas promessas de que o mundo vai acabar dentro de uma década têm prejudicado aquilo que devem ser os esforços para, efetivamente, proteger o planeta: contribuir para o crescimento económico dos países mais pobres e optar por fontes de energia verdadeiramente limpas, designadamente a energia nuclear.
Numa entrevista ao Observador a partir da Califórnia, onde vive, o ambientalista reiterou que “a ciência não sustenta qualquer alegação apocalíptica” sobre o clima e acusou os partidos “verdes” e os ativistas de usarem alegadas preocupações ambientais para privarem os países mais pobres de se desenvolverem economicamente. Para Shellenberger, os EUA e a Europa são a prova de que, quanto mais rico e desenvolvido for um país, menos poluidor será esse território. Importa, por isso, acabar com as “lavagens cerebrais” que procuram convencer os mais novos de que o mundo está a piorar — e, simultaneamente, desfazer mitos associados à energia nuclear e expor o lado negro, muitas vezes oculto, das energias renováveis.