20 março 2025

Defesa da Europa, por: D. Quixote de La Mancha e Sancho Pança

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 20/03/2025)

“Precisamos de uma mentalidade de defesa europeia a todos os níveis na Europa”, disse Costa durante a 164.ª sessão plenária do Comité das Regiões Europeu. repetiu o “mantra” da Europa ameaçada pela Rússia para justificar as colossais despesas em material de guerra previstas para os próximos anos e que, na verdade, servem para compensar a perda de lucros dos grandes grupos resultantes da perda de competitividade dos produtos europeus no mercado mundial, resultante em boa parte da política de substituição da energia barata importada da Rússia pela energia cara importada dos EUA, e da perda de mercados do antigo Terceiro Mundo para a China. “A guerra da Rússia contra a Ucrânia tem sido um ato de agressão, causando sofrimento humanitário. Mas também ameaçador para a segurança europeia”, alertou, ao defender que “nada sobre a guerra contra a Ucrânia pode ser decidido sem a Ucrânia” e que é necessário “intensificar os esforços para construir uma Europa da Defesa”, acrescentou.

O sr. Costa considerou que é necessária a “confiança dos cidadãos*” na capacidade de a Europa os defender. (*pagantes)

Mas defender de quem?

Este mantra assenta num conjunto de sofismas — isto é, de deturpações grosseiras. O primeiro é o da ameaça russa. A Rússia nunca atacou a Europa, e Europa é um conceito muito plástico e utilizado segundo as conveniências do pregador. A Rússia faz parte da Europa e da sua história e esteve envolvida nos conflitos europeus como todas as outras potências, da Suécia aos império austro-húngaro, e franco-prussiano, da França à Espanha e à Polónia.

A nova Europa é uma entidade criada pelos dirigentes europeus perdidos entre o final da administração Biden e o início da administração Trump e que ficaram na situação das moscas que caíram numa mancha de óleo se agitam muito sem sair do mesmo sitio. Esta Europa sem formas definidas é Bruxelas e é um produto dos funcionários de Bruxelasque andam em palpos de aranha para justificarem a existência e, mais difícil ainda, a sua utilidade.

Em desespero de perdas, a oligarquia europeia recorreu à velha solução da guerra e dos armamentos e colocou os seus agentes nos mais altos cargos da União Europeia a vender a ideia da invasão russa, da reconversão das fábricas de automóveis em tanks e das de latas de conserva em cartuchos dos operários em soldados.

A ideia seria boa, se não obrigasse os europeus a comprar um pacote de burlas tão valiosas como garrafas de ar de Fátima e a assumirem serem mentecaptos ou peregrinos chegados a um santuário de realidade virtual. 

Em Dom Quixote de La Mancha, Cervantes antecipou este delírio de ver castelos em moinhos, legiões em procissões, mas não chegou à desfaçatez de impor o pagamento do Rocinante, nem da lança de combate!

Na realidade, a Rússia, após três anos de invasão da Ucrânia, avançou 200 quilómetros e segundo informações ocidentais está próxima de atingir o máximo de potencial militar sustentável pela sua economia. A distância de Kiev a Paris é de 2400 quilómetros. O que significa que a este ritmo a Rússia necessitaria de 36 anos para atingir o centro da Europa. É evidente que esta contabilidade apenas serve para realçar o absurdo do tipo de argumentos dos armamentistas.

A desonestidade dos dirigentes europeus revela-se no que omitem e manipulam: a Ucrânia deixou de ter interesse enquanto objetivo militar e económico. Para a Rússia não serve de corredor de ataque à “Europa”, como revelam as dificuldades em avançar, mas também não serve para a “Europa”, mesmo rearmada, invadir a Rússia e conseguir o que nem Napoleão nem Hitler conseguiram, como o falhado contra ataque ucraniano apesar do maciço apoio ocidental demonstrou. Economicamente, as matérias-primas, os terrenos valiosos e infraestruturas já foram negociados pelo Reino Unido e principalmente pelos EUA. A Rússia, pelo seu lado, possui em quantidade todas as matérias-primas existentes na Ucrânia e basta-lhe o controlo dos portos do Mar Negro. O saque da Ucrânia está negociado entre os EUA e a Rússia. Assistimos apenas a cenas de disfarce que permitam à Ucrânia e à nova Europa saírem de cena sem humilhação. O anúncio do rearmamento da Europa faz parte da comédia de enganos com que os dirigentes europeus estão a iludir os europeus. Acontece que é um caríssimo número de ilusionismo.

Também não se vislumbra o interesse da Rússia em “invadir” a nova Europa que não dispõe de matérias-primas, que é um anão nuclear, que não domina tecnologias exclusivas, caso da Inteligência Artificial*, que não tem presença significa no espaço nem nas redes de informação e comunicação, que é vista pelo resto do mundo como uma antiga potência colonial, um anexo dos EUA ou um resto abandonado por estes, o que ainda é mais humilhante, o que ainda torna mais absurda a despesa em armamento para se defender de quem não vê vantagens na sua conquista, a Rússia, que compraria um saco de gatos historicamente causadores de perturbações locais e mundiais.

O rearmamento da Europa faz tanto sentido como comprar uma armadura e um arreio de prata para um burro velho e convencer os pagantes de que têm ali um cavalo de batalha que os defenderá de um inimigo imaginário. O Dom Quixote de La Mancha antecipou este cenário

* que não é inteligência mas um mecanismo informático em modelos de linguagem de grande escala.(Large Language Model ou LLM) 

RÚSSIA PARA AUMENTAR TERRITÓRIO PODE INVADIR AS BERLENGAS ! 

"... e as aldrabices da Ursula" 

16 março 2025

UCRÂNIA: Cessar-fogo?

Sim, mas com as condições da Rússia

(Miguel Castelo Branco, in Facebook, 13/03 de 2025, Revisão da Estátua)



Sentado à mesa da sala a trabalhar desde as 8 horas, vou seguindo a frenética ciranda de propagandistas, cada um mais macambúzio que os outros, uns de asa caída, outros ainda agarrados à tábua de salvação que anima os fantasistas. Particular nota para o desespero de Ferro Gouveia que vê o seu mundo de Alice desfazer-se e já nem disfarça.

Esta gente estava à espera que o dia terminaria com a submissão de Putin aos caprichos da delegação norte-americana enviada ao Kremlin, consubstanciada numa insólita cessação das hostilidades que era, obviamente, uma armadilha para a Rússia triunfante.

Elegantemente, disseram-lhes que nem pensar e que não haverá qualquer interrupção das hostilidades até que todos se sentem à volta da mesa onde será firmado o tratado reconhecido internacionalmente, pelo qual a Ucrânia será um Estado neutral, cederá pelo menos quatro oblasts e reconhecerá a soberania russa sobre a Crimeia. Além do mais, a Rússia retirará as suas armas nucleares da Bielorrússia e em contrapartida não haverá na Polónia, nos países bálticos, na Finlândia, na Noruega na Suécia quaisquer vetores nucleares.

Talvez, a firmeza russa resida no conhecimento que a administração americana possuirá do iminente colapso militar ucraniano, da incapacidade de os europeus ocidentais poderem dar seguimento à transferência de armas e de os EUA estarem à beira de uma grave crise de reservas em munições.

Os russos sabem-no, esperaram pacientemente e há dias ofereceram um singelo vislumbre do seu potencial ao derrotarem num movimento imparável e vertiginoso a frente norte ucraniana.

 Com o passar das horas, as fotos a que vamos acedendo mostram a extensão do desastre. Cerca de 700 peças – de artilharia, morteiros pesados, carros blindados, viaturas de transporte de infantaria, carros de combate e veículos de engenharia militar – caíram intactas em mãos russas.

Foi uma debandada tão manifesta que tudo se inclina para a possibilidade de dezenas de milhares terem simplesmente abandonado os seus postos, armas, munições e até reservas de combustível e fugido. Entre essas centenas de troféus passeiam-se despreocupados os jornalistas russos.

15 março 2025

Como fazer com que as dívidas astronómicas dos EUA

.. sejam pagas por outros

(Juan Manuel Olarieta, in Resistir, 15/03/2025)



Os acontecimentos estão a acelerar-se. Trump chegou à Casa Branca com um plano debaixo do braço, o mesmo que não conseguiu implementar em 2017. Trata-se exatamente de tornar a “América” grande de novo. Para isso, tem de pôr de lado o resto do mundo e concentrar-se apenas nisso:   nos seus próprios problemas internos.

Ler artigo completo aqui.

Necropolítica

Ucrânia e as negociações mediadas por Trump

(Constantin von Hoffmeister, in ArktosJournal, 13/03/2025, Trad. Estátua)


(Aqui deixo a moral que, pessoalmente, retirei deste excelente texto e que se aplica como uma luva à Ucrânia: “Quem não pode ser lobo mas lhe veste a pele, acaba a ser tratado como cordeiro a caminho do matadouro”.

Estátua de Sal, 14/03/2025)


O homem ocidental, o homem faustiano, perdido nas suas próprias ilusões, debatendo-se contra o destino enquanto finge que ainda pode esculpi-lo. O ciclo está travado, o Ocidente está no seu estágio final, onde as suas guerras se tornam rituais, e os seus líderes figuras vazias repetindo erros antigos com novas tecnologias.


O Congresso de Berlim de 1878 — onde os triunfos da Rússia no campo de batalha foram desfeitos por uma emboscada diplomática orquestrada pela Grã-Bretanha, Áustria-Hungria e um Bismarck friamente calculista — repete-se hoje, enquanto Trump interpreta o papel do “pacificador imparcial”, garantindo que o destino da Ucrânia seja determinado não pela guerra, mas pelo cálculo necropolítico do Império, onde a sobrevivência é racionada, a soberania é uma ilusão e o poder pertence apenas àqueles que decidem quem deve perecer e quem tem permissão para persistir.

Um século e meio atrás, o sangue derramava-se no Oriente como uma maré inchada que não sabia como recuar. A Guerra Russo-Turca (1877-78) havia atingido o seu clímax, e o exército russo, endurecido por batalhas brutais nos Bálcãs, estava a uma distância impressionante de Constantinopla — Tsargrad, o sonho imperial do mundo ortodoxo. As forças otomanas sofreram uma derrota devastadora em Pleven, na Bulgária, os seus domínios europeus rapidamente a escorregarem para as mãos de rebeldes eslavos e baionetas russas. Restava apenas uma curta distância antes que as tropas russas pudessem levantar as suas bandeiras sobre o Corno de Ouro — o porto natural estratégico de Constantinopla que havia salvaguardado as defesas navais da cidade por séculos — e, ainda assim, como a história frequentemente dita, a marcha da espada foi interrompida pelo esquema da diplomacia. A vitória estava próxima, mas a diplomacia, como nos lembra o teórico político alemão Carl Schmitt (1888-1985), nunca é neutra. É uma guerra por outros meios, um campo onde os vencedores muitas vezes são aqueles que não lutam.

A Grã-Bretanha, alarmada com a perspetiva do domínio russo nos Balcãs e uma potencial frota russa no Mediterrâneo, agiu rapidamente. A Frota Britânica do Mediterrâneo entrou nos Dardanelos, sinalizando que qualquer avanço russo seria recebido com guerra. A Rússia, militarmente exausta após anos de conflito brutal e pesadas baixas, viu-se incapaz de arriscar outro confronto. A Áustria-Hungria, temerosa da crescente influência russa nos Balcãs, também ameaçou uma intervenção militar. A Alemanha, que a Rússia esperava que apoiasse a sua posição, em vez disso jogou o jogo frio de equilíbrio de Bismarck, aliando-se à Grã-Bretanha e à Áustria para garantir que nenhuma potência dominasse a Europa. A Rússia, diplomaticamente isolada e sem aliados para apoiá-la, teve pouca escolha a não ser submeter-se ao Congresso de Berlim de 1878, onde as suas vitórias foram divididas como despojos através de um acordo secreto.

O Tratado de San Stefano, que havia garantido à Bulgária independência quase total e expandido maciçamente a influência russa, foi reescrito sob pressão britânica e austríaca. O novo Tratado de Berlim restringiu a autonomia da Bulgária, devolveu grande parte do território otomano que a Rússia havia libertado e reduziu o domínio da Rússia sobre os Balcãs. A Grã-Bretanha, não tendo feito nada além de ameaçar, foi-se embora com o Chipre, enquanto a Áustria-Hungria recebeu o controlo da Bósnia e Herzegovina. A Rússia, embora humilhada diplomaticamente, aceitou esse retrocesso por necessidade: a guerra com a Grã-Bretanha e a Áustria teria sido suicida, a agitação revolucionária estava a formar-se em casa e o czar calculou que os interesses russos poderiam ser promovidos por meio da paciência em vez do confronto imediato. Schmitt teria rido da ingenuidade daqueles que ainda acreditavam na justiça como algo diferente de uma expressão de força. O político é sobre decidir, e aqueles que estavam sentados à mesa já haviam decidido: a Rússia podia lutar, mas não podia governar.

A distinção amigo-inimigo de Schmitt revela que a verdadeira luta pelo poder não é decidida no campo de batalha, mas no rescaldo, onde os vencedores definem a nova ordem política determinando quem mantém a legitimidade e quem deve ser contido. Até mesmo o sucesso militar pode ser fútil se uma nação for reclassificada de potencial “amigo” em “inimigo” restrito aos olhos dos poderes dominantes, como a Rússia experimentou quando os seus triunfos no campo de batalha foram minados pela contenção diplomática no Congresso de Berlim, provando-se que o controlo sobre a tomada de decisões políticas — não apenas a força militar — dita, em última análise, a forma da História.

O passado coagula e endurece, mas permanece inacabado, e agora está a repetir-se com um novo elenco de jogadores imperiais. Desta vez, o papel da Alemanha pertence aos Estados Unidos, uma nação que finge odiar o Império enquanto se amarra ao mastro da guerra perpétua. A Grã-Bretanha ainda é a Grã-Bretanha, sempre aquele chacal gorduroso e sorridente, sussurrando nos ouvidos dos seus aliados enquanto barganha os destinos de outros povos.

O exército da Ucrânia — apodrecendo em tempo real, perdendo terreno, perdendo homens, perdendo a esperança — manca pelos campos dos mortos, e cada nova derrota sublinha o inevitável. Então agora, em nome da ordem, ou da paz, ou de qualquer outra palavra que os tecnocratas usem para fazer a aniquilação parecer civilizada, a Rússia é chamada à mesa. Não para vencer. Nunca para vencer. Mas para “resolver” as coisas, o que no léxico do poder global significa diluir e atrasar.

O presidente Trump tropeça no espetáculo, envolto numa máscara de carnaval de diplomacia, um guru de negociação de reality show, como se o capitalismo tivesse dado à luz um acordo que não foi uma fraude desde o início. Mas essa também é a lógica da soberania que Schmitt descreveu — a exceção define a regra, o soberano é aquele que decide sobre o estado de exceção, e Trump, desempenhando o seu papel absurdo, detém esse poder agora.

O colapso de Kiev não é apenas uma questão militar. É uma crise existencial para a ordem liberal, que prospera apenas na presença de um inimigo externo que pode manter perpetuamente meio morto. Então Trump montou o teatro perfeito: primeiro, espremer Zelensky, colocá-lo de pé, garantir que ele assine um contrato que retire da Ucrânia quaisquer recursos que ela ainda finja possuir. Mas o consentimento não é real na necropolítica, onde os fracos assinam tratados não por vontade, mas porque as suas cabeças já estão submersas. As últimas duas semanas foram um longo exercício para afogar Kiev antes de lhe dar um canudo para respirar. Moscovo, desempenhando o seu papel com distanciamento clínico, emite o seu ultimato. A delegação americana retransmite-o. Kiev, sobrecarregada pela pressão, capitula instantaneamente. O roteiro desenrola-se.

A lógica da necropolítica, como teorizada pelo historiador camaronês Achille Mbembe (n. 1957), é exposta na coreografia destas negociações. Não se trata apenas de guerra, mas da gestão da morte em si, do controle estratégico de quem pode viver e quem é deixado para perecer. Para a Ucrânia, a existência depende da sua utilidade para poderes maiores, um peão cujo sofrimento não é uma tragédia, mas uma necessidade calculada. A retenção de armas, o racionamento de inteligência, a oferta de um cessar-fogo – não como salvação, mas como uma forma de prolongar um estado de limbo entre a sobrevivência e a destruição — isso é a necropolítica em ação.

Os EUA não precisam que a Ucrânia vença. Só precisam que a Ucrânia não morra depressa demais. O verdadeiro horror é que os decisores já aceitaram o eventual fim da Ucrânia. O que está sendo negociado é o ritmo de sua morte.

Isso não é guerra no sentido clausewitziano de dois atores soberanos competindo pela vitória. É uma guerra no sentido schmittiano, onde um lado é um objeto em vez de um sujeito, um campo de batalha em vez de um comjpetidor. Os EUA não usam meramente a Ucrânia. Eles governam as condições da vida dela e da sua inevitável extinção.

O que Trump oferece? Um cessar-fogo — uma coleira. Trinta dias. Uma pausa, que na realidade não o é porque uma pausa só importa se o sujeito for capaz de se movimentar de forma independente. E a Ucrânia não é. Uma breve janela para se rearmar, não porque a América se importe com a vitória ucraniana (não se importa), mas porque ainda precisa do país como um porrete contra a Rússia. As armas, que foram retidas como comida de um cão vadio, retomarão o seu fluxo, um gota-a-gota controlado projetado para manter o cadáver a contorcer-se, e para estender o sofrimento por tempo suficiente para servir à sua utilidade. A inteligência também será restabelecida porque um exército cego perante o seu inimigo já está morto. Até a América já está a começar a interrogar-se sobre se essa experiência catastrofica em câmara lenta pode acabar mais cedo do que o esperado. O sujeito pode expirar antes que o ato final seja escrito. O rato de laboratório pode não conseguir passar pelo labirinto. E então o que acontecerá? O que acontecerá quando não houver mais ninguém para lutar em nome da “ordem baseada em regras”?

E há a Europa, o grande império moribundo disfarçado duma coleção de estados-nação, tentando abrir caminho na conversa. Trump, com sua indiferença habitual, encolhe os ombros e diz, claro, deixe-os entrar. Mas a Rússia — a velha sobrevivente da História — já jogou esse jogo antes. Ela rejeitará o cessar-fogo. Deve. Isso não é diferente de Minsk, não é diferente de toda paz que não é paz, mas um meio de garantir que a guerra continue sob condições diferentes. A Rússia vê a armadilha e ignora-a. Ela recusará o acordo, e Trump levantará as mãos. Um gesto para as câmaras, um movimento vazio, um encolher de ombros da história. E no fundo, o fantasma de Schmitt murmura: “Política é sobre decidir, e vocês, pequena nação da Ucrânia, não têm o direito de decidir.”

O pensador histórico alemão Oswald Spengler (1880-1936) viu isso. Spengler escreveu com a tinta dos condenados, uma profecia vestida de análise, dizendo-nos que a história não é progresso, mas declínio, uma grande decomposição civilizacional fingindo ser movimento.

O homem ocidental, o homem faustiano, perdido nas suas próprias ilusões, debatendo-se contra o destino enquanto finge que ainda pode esculpi-lo. O ciclo está travado, o Ocidente está no seu estágio final, onde as suas guerras se tornam rituais, e os seus líderes figuras vazias repetindo erros antigos com novas tecnologias.

Spengler chamou a isso o inverno da civilização, o momento em que as decisões se tornam reações, quando os impérios se alimentam de sua própria decadência. As negociações na Arábia Saudita são outra cena da tragédia, outro embaralhamento das cadeiras do convés no Titanic do Império. O jogo, no sentido mais grandioso, foi decidido há muito tempo.

Quanto à colonização da Roménia



(Joseph Praetorius, in Facebook, 12/03/2025, Revisão da Estátua)



A questão das presidenciais romenas 
tornou-se problema comum 
dos povos da Europa.

A questão fundamental está perfeitamente colocada. É a de um país a quem prometeram a prosperidade e a paz, ao mesmo tempo que o encaminham para a guerra, querendo assenhorear-se dos seus recursos e compensando-o com míseras subvenções – a minhoca na ponta do anzol – o que se projeta como um negócio do outro mundo. Querem retirar tudo o que naquela terra há. O gás, o petróleo, o oiro serão evidentemente outras tantas razões para tornar, pela pilhagem, os romenos mais pobres.

Não falando já das próprias vidas, neste insulto supremo da transformação do país em fornecedor de carne barata para canhão.

Colonialismo puro e duro. De modelo arcaico. Capaz de transformar um povo antigo e nobre em novos negros-brancos. E a sua amada Pátria em colónia nova.

Em número crescente, os romenos começaram a notar mais do que o projeto, a sua execranda concretização. É tão desleal! Os romenos olhavam com evidente afeto para esta gente “ocidental”, como ainda dizem, aí admirando a liberdade, a prosperidade, o desenvolvimento, a elegância, a arte, a música, as literaturas… E esta infecta escumalha faz-lhes isto. Transforma-lhes a Pátria em testa-de-ponte para o ataque à Rússia.

Os romenos – os contemporâneos, pelo menos – não morrem de amores pela Rússia, em razão das questões da Bessarábia e do correspondente desfecho após a Segunda Grande Guerra. Esquecem-se que a Bessarábia foi libertada pela Rússia, em guerra contra os turcos. E pelo anseio de unidade com aquele território, fizeram muitos sentirem-se como se tivessem herdado a posição turca no conflito local… E pegando nessa antipatia, acrescida pelo desfecho da guerra da Roménia com os vizinhos – sem esperança de socorro, ou sequer decência, dos simpáticos ocidentais, o que atirou a Roménia para a aliança com a Alemanha -, pegando nessa antipatia, queriam e querem, agora, atirar a Roménia contra a Rússia, consumando a sua transformação em alvo militar, na perspetiva da defesa russa.

Era o que faltava…

E os romenos reagem, dir-se-ia, inesperadamente. Votaram contra o sistema colonial já implantado. Votaram pela paz. E os cabos cipaios anularam as eleições. E vedam ao candidato qualquer nova candidatura, a quatro dias do prazo para as apresentações de candidaturas. Absoluta ignomínia.

A corja de Bruxelas assume o protagonismo de tal coisa, chegando a dizer que, sendo necessário, fariam o mesmo na Alemanha. Os embaixadores da UE em Bucareste tomam posição pública apoiando os cipaios do Tribunal Constitucional, enquanto o tribunal de Soros – o TEDH – rejeita a análise da queixa de Georgescu.

No segundo episódio, o embaixador francês reúne com os cipaios do “Tribunal Constitucional” antes da rejeição da candidatura. Ora, nem a anulação das eleições, nem a rejeição da candidatura têm qualquer fundamento legal. Georgescu não foi condenado, nem há motivo para qualquer condenação, muito embora, com o aparelho judicial neste estado, tudo pareça ao alcance de qualquer encomenda do poder colonial…

Atentas as percentagens eleitorais e a indignação dos romenos – a ampliar consideravelmente o apoio a Georgescu – o poder colonial rompeu qualquer influência dos seus cipaios entre o povo romeno. E apenas lhe resta a força. Tornaram-se odiosos e isso não se dissiparia em menos de duas gerações, se acaso pudessem estar sossegados tanto tempo. E não vão poder.

Assim sendo, é preciso esperar os três dias que faltam para o fim do prazo de apresentação de candidaturas. Há um plano B? Há assinaturas já reunidas que possam sustentar outra candidatura com o mesmo propósito de emancipação nacional? Se houver, tudo pode ser salvo e os cipaios serão remetidos ao seu lugar, preferencialmente no cárcere.

Se não houver essa possibilidade, a vida política romena entrará em fase de (muito) perigosa turbulência, quanto à qual talvez seja de relembrar a conclusão de Tomás de Aquino, no tema da insurreição contra os tiranos. “Não será desprovido de êxito, o que se comete com o favor da multidão” (devendo lembrar-se, também, que multidão é ali uma das aceções de povo, que Aquino define como “multidão racional, organizada na comunhão concorde das coisas que ama“.

Aguardemos.

Segue vídeo abaixo sobre a Roménia, a ver no Youtube.

27 fevereiro 2025

Os Ocidentais e o conflito na Ucrânia



Os Presidentes Donald Trump e Vladimir Putin (foto de 2018).

A paz na Ucrânia poderá acabar por nada resolver. Esta guerra não foi provocada por uma vontade expansionista da Rússia, como afirma a propaganda atlantista, mas por questões reais. Contentarem-se em reconhecer uma alteração das fronteiras, não vai resolver o fundo do problema.
Esta guerra é a resultante da expansão da OTAN desprezando a palavra dada ; uma expansão que ameaça directamente a segurança da Rússia, cujas fronteiras são demasiado grandes para poderem ser defendidas. Para avançar na Ucrânia, a OTAN apoiou grupos neo-nazis que ela colocou no Poder e que aplicaram as suas leis nesse país. A isso juntaram o ressurgimento de um pretenso conflito de civilizações entre valores europeus e asiáticos.
Não haverá uma paz verdadeira enquanto os Ocidentais não respeitarem a sua própria palavra.

Os Presidentes norte-americano, Donald Trump, e russo, Vladimir Putin, iniciaram oficialmente negociações para por fim à guerra na Ucrânia. Quaisquer que sejam as soluções territoriais, elas não irão resolver o conjunto do contencioso. Este irá persistir provavelmente para lá da paz.

Nesta questão, há três problemas que se sobrepõem :
1— A expansão da OTAN para o Leste e a doutrina Brzeziński

Quando os Alemães do Leste derrubaram o Muro de Berlim ( 9 de Novembro de 1989), os Ocidentais, apanhados de surpresa, negociaram o fim das duas Alemanhas. Durante o ano de 1990 colocou-se a questão de saber se a reunificação alemã significaria que a Alemanha Oriental, juntando-se à Ocidental, entraria ou não na OTAN.

Ora, quando o Tratado de Aliança Atlântica foi assinado, em 1949, ele não incluía certos territórios de alguns signatários. Por exemplo, não faziam parte os territórios franceses do Pacífico ( a Reunião, a Mayotte, Wallis e Futuna, a Polinésia e a Nova Caledónia ). Portanto, teria sido possível que, numa Alemanha unificada, a OTAN não tivesse permissão para se estabelecer na Alemanha de Leste.

Esta questão é muito importante para os Países da Europa Central e Oriental, que foram atacados pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Aos olhos das suas populações, ver armas sofisticadas a ser instaladas na sua fronteira era preocupante. Muito mais para a Rússia, cujas imensas fronteiras ( 6.600 quilómetros ) são indefensáveis.

Durante a Cimeira (Cúpula-br) de Malta (2 e 3 de Dezembro de 1989) entre os Presidentes norte-americano e russo, George Bush (o pai) e Mikhail Gorbachev, os Estados Unidos argumentaram que não tinham agido para levar à queda do Muro de Berlim e que não tinham então nenhuma intenção de actuar contra a URSS [1].

O Ministro alemão-ocidental dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Hans-Dietrich Genscher, declarou : « que as mudanças na Europa de Leste e o processo de unificação da Alemanha não deviam levar a um ataque aos interesses de segurança soviéticos ». Por conseguinte, a OTAN deveria excluir uma «expansão do seu território para o Leste, quer dizer, uma aproximação às fronteiras soviéticas».

As três potências ocupantes da Alemanha, os Estados Unidos, a França e o Reino Unido, multiplicaram portanto os compromissos de não expandir a OTAN para Leste. O Tratado de Moscovo (12 de Setembro de 1990) implica que a Alemanha reunida não reivindicará território na Polónia (linha Oder-Neisse) e que nenhuma base da OTAN será colocada na Alemanha de Leste [2].
Durante uma conferência de imprensa conjunta na Casa Branca, em 1995, o Presidente Boris Ieltsin qualifica a reunião que acabavam de ter como « desastrosa », provocando a hilariedade do Presidente Bill Clinton. Realmente, vale mais rir do que chorar.

No entanto, os Russos ficaram a saber que o Secretário de Estado adjunto Richard Holbrooke dava a volta às capitais para preparar a adesão dos antigos Estados do Pacto de Varsóvia à OTAN. O Presidente Boris Ieltsin deu, pois, um sermão ao seu homólogo, Bill Clinton, aquando da Cimeira de Budapeste (5 de Dezembro de 1994) da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE). Declarou : « a nossa atitude face aos planos de alargamento da OTAN e, nomeadamente, da possibilidade que as infraestruturas progridam para Leste, é e irá continuar a ser invariavelmente negativa. Os argumentos do tipo : o alargamento não é dirigido contra nenhum Estado e constitui um passo para a criação de uma Europa unificada, não resistem à crítica. Trata-se de uma decisão cujas consequências determinarão a configuração europeia para os próximos anos. Ela pode conduzir a um deslizar para a deterioração da confiança entre a Rússia e os países Ocidentais. […] A OTAN foi criada no tempo da Guerra Fria. Hoje, não sem dificuldades, procura o seu lugar na Nova Europa. É importante que essa abordagem não crie duas zonas de demarcação, mas que, pelo contrário, ela consolide a unidade europeia. Este objectivo, para nós, está em contradição com os planos de expansão da OTAN. Porquê lançar as sementes da desconfiança ? Afinal de contas, já não somos mais inimigos ; agora somos todos parceiros. O ano de 1995 marca o quinquagésimo aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. Meio século depois, estamos cada vez mais conscientes do verdadeiro significado da Grande Vitória e da necessidade de uma reconciliação histórica na Europa. Não deveria aqui haver mais inimigos, vencedores e derrotados. Pela primeira vez na sua história, o nosso continente tem uma hipótese real de chegar à unidade. Falhar isso, é esquecer as lições do passado e pôr em questão o próprio futuro».

Bill Clinton respondeu-lhe : « A OTAN não excluirá automaticamente nenhuma nação da adesão. […] Simultaneamente, nenhum país exterior será autorizado a colocar o seu veto à expansão» [3].

Durante esta cimeira, três memorandos foram assinados, entre os quais um com a Ucrânia independente. Em troca da sua desnuclearização, a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos comprometiam-se a abster-se de recorrer à ameaça ou ao emprego da força contra a integridade territorial ou a independência política da Ucrânia.

No entanto, durante as guerras da Jugoslávia, a Alemanha interveio, como membro da OTAN. Ela treinou os combatentes kosovares numa base da Aliança em Incirlik (Turquia) e, depois, colocou os seus homens no terreno.

Também, na Cimeira da OTAN de Madrid (8 e 9 de Julho de 1997), os Chefes de Estado e de Governo da Aliança anunciaram estarem a preparar-se para a adesão da República Checa, da Hungria e da Polónia. Além disso, encaram também as da Eslovénia e da Roménia.
Consciente que não pode impedir Estados soberanos de subscrever alianças, mas inquieta pelas consequências para sua própria segurança daquilo que se prepara, a Rússia intervém na Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), durante a Cimeira de Istambul (18 e 19 de Novembro de 1999). Ela faz adoptar uma declaração estabelecendo o princípio da livre adesão de qualquer estado soberano à aliança da sua escolha e a este de não tomar medidas de segurança em detrimento da dos seus vizinhos.

No entanto, em 2014, os Estados Unidos organizaram uma revolução colorida na Ucrânia, derrubando o presidente democraticamente eleito (que queria manter o país a meio caminho entre os Estados Unidos e a Rússia) e instalando um regime neo-nazi publicamente agressivo à Rússia.

Em 2004, a Bulgária, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Roménia, a Eslováquia e a Eslovénia aderem à OTAN. Em 2009, foram a Albânia e a Croácia. Em 2017, o Montenegro. Em 2020 a Macedónia do Norte. Em 2023, a Finlândia, e em 2024, a Suécia. Ou seja, todas promessas foram violadas.

Para compreender muito bem como se chegou a isto, é preciso saber o que pensavam os Estados Unidos.

Em 1997, o antigo Conselheiro de Segurança Nacional do Presidente Jimmy Carter, o polaco-americano, Zbigniew Brzeziński, publica O Grande Tabuleiro (no sentido de xadrez mundial-ndT). Nele, ele disserta sobre «geopolítica» no senso original, quer dizer, não da possível influência dos dados geográficos sobre a política internacional, mas de um plano de dominação do mundo.

Segundo ele, os Estados Unidos podem permanecer a primeira potência mundial aliando-se aos Europeus e isolando a Rússia. Então aposentado, este democrata oferece aos seguidores de Leo Strauss — “straussianos” (vulgo neo-cons, ndT) — uma estratégia para manter a Rússia em baixo, sem no entanto lhes dar razão. Com efeito, ele apoia a cooperação com a União Europeia, enquanto os “straussianos” desejam, pelo contrário, frenar o seu desenvolvimento (Doutrina Wolfowitz). Seja com for, Brzeziński tornar-se-á Conselheiro do Presidente Barack Obama.
2- Nazificação da Ucrânia
Monumento à glória de Stepan Bandera, criminoso contra a Humanidade, em Lviv

No início da “Operação Especial” do Exército russo na Ucrânia, o Presidente Vladimir Putin declarou que seu primeiro objectivo era desnazificar o país. Os Ocidentais fingiram então ignorar o problema. Eles acusaram a Rússia de salientar alguns factos marginais muito embora estes tenham sido observados em larga escala durante uma década.

É que os dois geopolíticos norte-americanos rivais, Paul Wolfowitz e Zbigniew Brzeziński, haviam feito aliança com os « nacionalistas integralistas » (ou seja com os discípulos do filósofo Dmytro Dontsov e do chefe da milícia Stepan Bandera) [4], durante uma conferência organizada por estes últimos em Washington, em 2000. Foi nesta aliança que o Departamento da Defesa apostou, em 2001, quando deslocalizou as suas pesquisas de guerra biológica para a Ucrânia, sob a autoridade de Antony Fauci, então conselheiro de Saúde do Secretário Donald Rumsfeld. Continuou a ser nesta aliança que o Departamento de Estado apostou, em 2014, com a revolução colorida do Euromaidan.

Os dois Presidentes ucranianos, Petro Poroshenko e Volodymyr Zelensky, de origem judaica, deixaram desenvolver por todo o lado no seu país memoriais prestando homenagem aos colaboracionistas dos nazis, particularmente na Galícia (junto à Polónia-ndT). Eles deixaram a ideologia do Dmytro Dontsov tornar-se a referência histórica. Por exemplo, hoje, a população ucraniana atribui a grande fome de 1932-1933, que provocou entre 2,5 e 5 milhões de mortos, a uma imaginária vontade da Rússia em exterminar os Ucranianos ; um mito fundador que não resiste à análise histórica [5], com efeito, esta fome atingiu em cheio outras regiões da União Soviética. Além disso, foi com base nesta mentira que Kiev conseguiu fazer crer à sua população que o Exército russo queria invadir a Ucrânia. Actualmente várias dezenas de países, entre os quais a França [6] e a Alemanha [7], adoptaram, por esmagadoras maiorias, leis ou resoluções a validar esta propaganda.

A nazificação é mais complexa do que se crê : com a implicação da OTAN nesta guerra por procuração, a Ordem da Centuria, quer dizer, a Sociedade Secreta dos “nacionalistas integralistas” ucranianos, infiltrou as forças da Aliança. Em França, ela estaria já presente na gendarmaria (que, diga-se de passagem, nunca tornou público o seu relatório sobre o massacre de Butcha).

O Ocidente contemporâneo vê, erradamente, os nazis como criminosos que massacraram principalmente judeus. É absolutamente falso. Os seus principais inimigos eram os eslavos. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazis assassinaram muita gente, primeiro a tiro e depois, a partir de 1942, em campos. As vítimas civis eslavas da ideologia racial nazi foram muito mais numerosas do que as vítimas judias (cerca de 6 milhões se adicionarmos as pessoas mortas por balas e as mortas nos campos). Além disso, algumas vítimas eram eslavas e judias, sendo contabilizadas em cada uma das duas contagens. Após os massacres de 1940 e 1941, cerca de 18 milhões de pessoas, de todas as origens, foram internadas nos campos de concentração, das quais 11 milhões, no total, foram aí assassinadas (1.100.000 só no campo de Auschwitz-Birkenau) [8].

A União Soviética, que se dilacerou durante a Revolução bolchevique, só refez a sua unidade em 1941 quando Joseph Staline fez aliança com a Igreja Ortodoxa e pôs fim aos massacres e aos internamentos políticos (os «gulags») para lutar contra a invasão nazi. A vitória contra a ideologia racial fundou a Rússia actual. O povo russo vê-se como exterminador do racismo.
3— O rejeitar da Rússia para fora da Europa

O terceiro pomo de discórdia entre o Ocidente e a Rússia foi criado, não antes, mas durante a guerra da Ucrânia. Os Ocidentais adoptaram várias medidas contra aquilo que simbolizava a Rússia. Tomaram-se, é certo, medidas coercivas unilaterais (qualificadas abusivamente de «sanções») ao nível de Estado, mas também se tomaram medidas discriminatórias a nível da cidadania. Muitos restaurantes foram proibidos aos Russos nos Estados Unidos ou espectáculos russos foram anulados na Europa.

Simbolicamente, aceitou-se a ideia segundo a qual a Rússia não é europeia, mas asiática (o que ela também é parcialmente). Redesenhou-se a dicotomia da Guerra Fria, que opunha o mundo livre (capitalista e crente) ao espectro totalitário (socialista e ateu), para uma oposição entre os valores ocidentais (individualistas) e os da Ásia (comunitários).

Por trás desta derrapagem, ressurgem as ideologias raciais. Há três anos, salientei que o 1619 Project do New York Times e a retórica woke (iluminada-ndT) do Presidente Joe Biden era na realidade, talvez à sua revelia, uma reformulação invertida do racismo [9]. Observo que hoje o Presidente Donald Trump partilha a mesma análise que eu e revogou sistematicamente todas as inovações woke do seu predecessor. Mas o mal está feito : no mês passado, os Ocidentais reagiram ao aparecimento do Deepseek chinês, negando que os Asiáticos tenham podido inventar, e não copiar, um tal software. Certas agências governamentais proibiram-no mesmo aos seus empregados naquilo que não é mais do que uma sugestão de denuncia do «perigo amarelo».
Será preciso censurar Léon Tolstoi (1828-1910), o autor de « Guerra e Paz », como faz a Ucrânia, e onde se queimam os seus livros só porque era russo?
4- Conclusão

As negociações actuais focam-se naquilo que é directamente visível pelas opiniões públicas : as fronteiras. Ora, o mais importante está noutro lado. Para viver juntos, precisamos de não ameaçar a segurança dos outros e temos de os reconhecer como nossos iguais. É muito mais difícil e não envolve apenas os nossos governos.

De um ponto de vista russo, a origem intelectual dos três problemas examinados acima reside na recusa anglo-saxónica do Direito Internacional [10]. Com efeito, durante a Segunda Guerra mundial, o Presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, e o Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill, durante a Cimeira do Atlântico, acordaram que, após a sua vitória comum, eles imporiam a sua lei ao resto do mundo. Só sob pressão da URSS e da França é que aceitaram os estatutos da ONU, mas não cessaram de os desprezar, forçando a Rússia a boicotar a organização quando recusaram à China popular o direito de aí ter assento. Mas, o exemplo que grita a duplicidade ocidental é dado pelo Estado de Israel, o qual pisa com os dois pés uma centena de Resoluções do Conselho de Segurança, da Assembleia Geral e de ditames do Tribunal Internacional de Justiça. Foi por isso que, em 17 de Dezembro de 2021, quando a guerra da Ucrânia se aproximava, Moscovo propôs a Washington [11] de a evitar subscrevendo um Tratado bilateral que estabelecesse garantias para a paz [12].

A ideia deste texto era, nem mais, nem menos, que os Estados Unidos renunciassem a um «mundo baseado em regras» e se colocassem ao lado do Direito Internacional. Esse Direito, imaginado pelos Russos e pelos Franceses justamente antes da Primeira Guerra Mundial, consiste unicamente em manter a sua palavra perante o escrutínio das opiniões públicas.

Notas
1] «NATO Expansion: What Gorbachev Heard», National Security Archibves, November 24, 2021.

[2] «NATO Expansion: What Yeltsin Heard», National Security Archives, March 16, 2018.

[3] «NATO Expansion – The Budapest Blow Up 1994», National Security Archives, November 24, 2021.

[4] “Quem são os nacionalistas integralistas ucranianos ?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 17 de Novembro de 2022.

[5] « L’Holodomor, nouvel avatar de l’anticommunisme “européen” » (extrait de Le Choix de la défaite), Annie Lacroix-Riz (2010). Famine et transformation agricole en URSS, Mark Tauger, Delga (2017).

[6] «Proposition de résolution portant portant sur la reconnaissance et la condamnation de la grande famine de 1932 1933, connue sous le nom d’ » holodomor », comme génocide »», Assemblée nationale, Texte adopté, le 28 mars 2023.

[7] Tendo os serviços do Bundestag realizado, em 2008, um estudo sobre esta aldrabice. Fragen zur ukrainischen Geschichte im 20. Jahrhundert. Die Hungersnot in der Ukraine 1932/33 (“Holodomor”) sowie die Folgen der Resowjetisierung nach Ende des Zweiten Welkrieges.

[8] The Great Patriotic War, The anniversary statistical handbook, Rosstat (2019).

[9] “Joe Biden reinventa o racismo”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 12 de Maio de 2021.

[10] “Que ordem internacional ?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 10 de Novembro de 2023,.

[11] “A Rússia quer obrigar os EUA a respeitar a Carta das Nações Unidas”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 5 de Janeiro de 2022.

[12] « Projet de traité entre les États-Unis et la Russie sur les garanties de sécurité », Traduction Roman Garev, Réseau Voltaire, 17 décembre 2021. “Draft Agreement on measures to ensure the security of Russia and NATO”, Voltaire Network, 17 December 2021.
(in-A Estátua de Sal)



(Por Thierry Meyssan, in Rede Voltaire, 20/02/2025)

25 fevereiro 2025

A Alemanha pode confiar em Friedrich Merz?



 

O vencedor das eleições alemãs é um falso populista

(Thomas Fazi, In UnHerd.com, 22/02/2025, Trad. Miguel Brites Correia, in Facebook)

O verdadeiro vencedor das eleições alemãs não é Merz, mas sim a BlackRock. Até há poucos anos, o líder da CDU era o principal representante do megafundo norte-americano na Alemanha. Com o seu governo, o capital americano terá rédea solta para continuar a canibalizar a economia alemã.
Aos 69 anos, Friedrich Merz esperou décadas por este momento. Antes das eleições de domingo, já está à espera de ser o novo chanceler, com a sua União Democrata-Cristã (CDU) a obter 30% dos votos. Terá de reunir uma nova coligação de partidos díspares, mas Merz não se importa. Na segunda-feira de manhã, terá conseguido uma das mais notáveis reviravoltas da história política recente.

Merz juntou-se ao partido há décadas, quando era estudante. Mas, hoje, está a concorrer com uma plataforma “Tornar a Alemanha Grande de Novo” – uma tentativa calculada de ganhar votos à Alternativa para a Alemanha (AfD), deslocando o seu partido para a direita em questões como a imigração. O seu cinismo não deve ser subestimado: tal como Donald Trump na América, o milionário Merz é um rei corporativo vestido com roupas conservadoras.

Merz, não esqueçamos, há muito que representa os interesses de algumas das elites empresariais e financeiras mais poderosas do mundo, nomeadamente como representante-chave da BlackRock na Alemanha entre 2016 e 2020. De facto, se Merz for eleito, a Alemanha tornar-se-á o primeiro país a ser governado por um antigo funcionário da BlackRock. Mas as suas ligações às instituições de elite são muito mais antigas: durante mais de duas décadas, mesmo antes de entrar para a BlackRock, encarnou a porta giratória entre política, negócios e finanças.

Após as eleições federais de 2002, Angela Merkel, a então líder da CDU, assegurou a presidência do grupo parlamentar, enquanto Merz foi nomeado seu deputado. No entanto, a relação entre os dois não era nada fácil e Merz demitiu-se dois anos depois, retirando-se gradualmente da política até deixar o Parlamento em 2009. No entanto, já antes da sua saída do Parlamento, Merz tinha encontrado o ouro. Em 2004, foi contratado como advogado sénior pela firma internacional de advocacia e lobbying Mayer Brown, um peso pesado do sector com um volume de negócios anual de milhares de milhões.

Aqui, Merz descobriu uma relação muito mais frutuosa. Como explica Werner Rügemer, autor de BlackRock Germany, na Mayer Brown, Merz ajudou a facilitar negócios que promoviam os interesses do capital americano na Alemanha, encorajando os investidores americanos a comprar empresas na República Federal. O resultado foi a venda e reestruturação de milhares de empresas alemãs, o que implicou a redução de postos de trabalho e o congelamento de salários – uma abordagem abertamente elogiada por Merz no seu livro Dare to Be More Capitalist. Sem dúvida, para dar corpo à tese do seu livro, Merz também fez parte, durante este período, dos conselhos de administração e de supervisão de várias grandes empresas. Foi então que a BlackRock, provavelmente uma das empresas mais poderosas de sempre, lhe bateu à porta. Como é que Merz podia recusar? Produtos farmacêuticos, entretenimento, meios de comunicação e, claro, guerra – não há praticamente nenhum sector em que a BlackRock não tente lucrar.

O interesse em contratar Merz não é difícil de perceber. Ele facilitou reuniões entre o diretor executivo da BlackRock, Larry Fink, e políticos alemães, ajudando a moldar as políticas que beneficiariam a empresa e a sua vasta carteira de investimentos. Sob a influência de Merz, por exemplo, a BlackRock tornou-se um dos maiores acionistas não alemães em muitas das empresas mais importantes do país – do Deutsche Bank à Volkswagen, da BMW à Siemens. No entanto, o seu trabalho não se limitou a aumentar os lucros dos acionistas; tratou-se também de moldar um ambiente político em que os interesses das empresas estavam alinhados com a política governamental. Por uma feliz coincidência, também criou um clima em que alguém como Merz podia facilmente flutuar entre as grandes empresas e o Bundestag.

E foi assim que, em 2021, Merz, munido de um saldo bancário avultado e de dois jatos privados, regressou à política como líder da CDU. A sua filosofia política está firmemente enraizada no neoliberalismo. É um defensor acérrimo da privatização e da desregulamentação. Esta é muitas vezes apresentada sob a forma de promessas de redução da burocracia e de atração de investidores estrangeiros. Mas, na realidade, este duplo discurso empresarial foi concebido para mascarar a sua ênfase nas soluções do sector privado para os problemas públicos.

Merz é um forte apoiante da privatização dos sistemas de segurança social – em benefício de empresas como a BlackRock, líder em regimes de pensões privados. Tradicionalmente, tem sido também um opositor acérrimo do salário mínimo e das leis contra o despedimento sem justa causa. Sob a sua direção, é muito provável que os trabalhadores alemães vejam os seus salários estagnarem ou piorarem.

Mas é difícil acreditar que o cidadão comum alemão seja a preocupação de Merz. Uma vez homem de Davos, sempre homem de Davos – e a sua longa história de representação de indústrias poderosas, incluindo o sector químico, o financeiro e o metalúrgico, sugere que ele terá outras prioridades. Como chanceler, por exemplo, Merz poderia ser chamado a regulamentar sectores aos quais está associado há muito tempo – e que Mayer Brown, o seu antigo empregador, ainda representa.

Recorde-se, também, que, sob a liderança de Merz, a CDU recebeu milhões de euros em donativos de campanha dos mesmos interesses empresariais que ele representou no passado – mais do que qualquer outro partido. Para os lobistas alemães e mundiais, ter Merz – um antigo colega – como chanceler seria um sonho tornado realidade. Ou, como diz Rügemer: “Isto é pôr a raposa a tomar conta do galinheiro”.

Não se trata apenas de uma questão económica: As ligações empresariais de Merz também influenciam a sua política externa. No fundo, é um atlantista convicto e acredita firmemente no papel da América como garante da ordem mundial. Esta posição ideológica levou Merz a alinhar com os EUA em questões como o gasoduto Nord Stream 2, apelando ao cancelamento do projeto muito antes da escalada da crise na Ucrânia. A sua posição de falcão em matéria de política externa, nomeadamente no que se refere ao seu apoio musculado à Ucrânia, ilustrou ainda mais o seu alinhamento com as antigas prioridades geopolíticas dos Estados Unidos – mesmo à custa dos interesses fundamentais do seu próprio país. Afinal, uma das principais razões para a contração da economia alemã e a desindustrialização em curso é a sua decisão de se desligar do gás russo sob forte pressão dos EUA.

Agora, é claro, Washington tem uma política muito diferente em relação à Ucrânia. Então, será Merz forçado a abandonar as suas convicções atlantistas? Não necessariamente. Embora a sua forte posição anti-russa e as suas tendências militaristas pareçam estar em desacordo com os esforços de Trump para desanuviar o conflito, a realidade é que as suas visões estão mais alinhadas do que inicialmente poderia parecer. O que é que, afinal, Trump exige da Europa? Um aumento das despesas com a defesa e um papel significativo na assunção das responsabilidades financeiras e estratégicas pela segurança pós-guerra na Ucrânia, algo que poderia mesmo envolver o envio de uma força europeia de “manutenção da paz”.

Estas políticas estão em perfeita sintonia com a visão do próprio Merz. Desde há muito que defende o aumento do orçamento da defesa alemã, uma posição bem acolhida pelos seus aliados empresariais do complexo militar-industrial alemão. Agora, de facto, juntou-se ao coro que apela à Europa para “tomar a sua segurança nas suas próprias mãos”. Trump não podia pedir mais. Esta convergência estratégica, juntamente com as inclinações conservadoras de Merz, os laços profundos com os sectores financeiro e empresarial dos EUA e o atlantismo enraizado, fazem com que esteja bem posicionado para se tornar o “vassalo-chefe” europeu da América na nossa era pós-liberal. Isto colocaria a Alemanha de novo ao leme de uma União Europeia economicamente mais fraca e militarmente mais forte – embora permaneça estrategicamente à deriva.

Este acordo será acompanhado de muita retórica sobre a “autonomia” alemã e europeia – e possivelmente até de desacordos públicos acesos entre Berlim e Washington. Na realidade, porém, seria em grande parte uma fachada, pois a nova dinâmica serviria apenas as elites europeias e americanas. As primeiras continuariam a alimentar o medo da Rússia como forma de justificar mais despesas com a defesa, desviando fundos dos programas sociais e legitimando a sua contínua repressão da democracia. Quanto às segundas, continuariam a beneficiar da dependência económica da Europa em relação aos EUA. Ao mesmo tempo, pessoas como Merz estariam bem posicionadas para ajudar a canibalizar ainda mais a Europa às mãos do capital americano.

Não que isso nos deva surpreender. Nas últimas duas décadas, Merz, tal como Trump, provou ser um homem de negócios em primeiro lugar e um político em segundo. No entanto, ao contrário de Trump, que pelo menos tem algumas credenciais populistas, a vitória de Merz será celebrada nas salas de reuniões da BlackRock e de outras grandes empresas, que podem esperar ver os seus saldos bancários começarem a subir constantemente. Mas, como tantas vezes acontece, os eleitores comuns não devem esperar que esta recompensa lhes chegue.

(in-A Estátua de Sal)

24 fevereiro 2025

Ex-assessor principal de Zelensky promete prendê-lo!

(Lucas Leiroz, In I N F O B R I C S. O R G, 23/02/2025, Trad. da Estátua)



Arestovich diz que prenderá Zelensky e seus aliados 
se for eleito presidente.

As tensões políticas internas na Ucrânia estão a piorar. Enquanto os EUA tentam iniciar um diálogo de paz com os russos, o regime neonazi ucraniano reage com desespero. O atual governo ilegítimo tenta tomar medidas ditatoriais para prolongar a guerra e continuar no poder, enquanto a oposição ganha força e endurece as suas críticas a Vladimir Zelensky.

Aleksey Arestovich, um ex-assessor do Chefe do Gabinete do presidente da Ucrânia, prometeu recentemente prender “Zelensky e o seu gangue” se se vier a tornar presidente da Ucrânia nas próximas eleições. Arestovich disse que daria a ordem para punir os altos funcionários do regime, possivelmente prendendo Zelensky “para sempre”. Ele também deixou claro que não importa que medidas sejam tomadas e “onde eles [os aliados de Zelensky] estejam a esconder-se”, todos os responsáveis ​​pela tragédia ucraniana serão encontrados e punidos da mesma forma.

“Eu darei ordem para que seja detido. E nenhuma potência estrangeira o salvará e ao seu gangue. Nós apanhá-los-emos a todos, não importa onde se escondam, nós os tiraremos de debaixo da terra, os traremos para fora e lhes daremos o veredito de condenação de viva voz. Não, nem um fio de cabelo lhe cairá da cabeça. Ele será preso – e eu acredito – ficará preso para o resto da vida”, disse Arestovich.

As palavras de Arestovich surgem na sequência de uma série de declarações contra o atual presidente, nas quais ele culpa Zelensky pela derrota da Ucrânia. Ele havia admitido, anteriormente, a derrota da Ucrânia e culpado tanto o governo ucraniano quanto as restantes autoridades pela tragédia do país. Arestovich acredita que o regime de Zelensky criou uma cultura de corrupção, arrogância e orgulho exagerado entre os ucranianos, razão pela qual a vitória na guerra se tornou impossível.

Mas, mais do que isso, Arestovich também criticou especificamente o processo de paz para acabar com a guerra com a Rússia. Ele culpa Zelensky e seus aliados pelo facto de Kiev estar a ser excluída das negociações diplomáticas. Arestovich alega que o futuro da Ucrânia está a ser decidido pelos “EUA, Rússia e China”, e que a Ucrânia não é considerada digna de discutir as suas próprias questões de interesse próprio. Ele culpa Zelensky por ter diminuído a relevância internacional do país e feito de Kiev uma parte insignificante nas negociações.

“[Rússia, China e EUA estão negociando] sem nos consultar, porque envolverem-se com quem nega a realidade é um exercício fútil (…) Perdemos a guerra devido à nossa própria estupidez, orgulho e teimosia. Na verdade, nós derrotámo-nos a nós próprios (…) Criámos uma sociedade de ódio mútuo e intolerância, na qual cada indivíduo está certo e todos coletivamente são culpados“, disse ele também.

A disputa entre Arestovich e Zelensky acontece num cenário de severa polarização interna na Ucrânia. Figuras públicas têm tentado distanciar-se do governo, já que Zelensky perde popularidade e apoio internacional. Muitos ucranianos com popularidade planeiam candidatar-se nas próximas eleições presidenciais, se o país for realmente chamado às urnas, e acreditam que as críticas ao governo podem ser um mecanismo eficaz para ganhar votos – assim como assistência internacional de países interessados ​​em substituir Zelensky.

No caso específico de Arestovich, é importante lembrar que até 2023 ele foi um dos principais aliados de Zelensky. Como conselheiro especial do gabinete presidencial, Arestovich influenciou diretamente muitas das decisões do governo e foi considerado uma figura-chave da equipa de Zelensky. Isso mudou completamente depois que Arestovich expressou repetidamente a suainsatisfação com as decisões do presidente, renunciando ao seu cargo de conselheiro após contradizer a narrativa oficial do governo sobre um incidente com mísseis.

Desde então, Arestovich tornou-se uma das principais figuras públicas da oposição na Ucrânia. Ele influencia milhões de cidadãos por meio das redes sociais e de colunas de opinião nos jornais. Ainda é muito cedo para dizer se ele tem alguma hipótese real de se tornar presidente do país, já que não há informações concretas que sugiram que as eleições irão ocorrer. Além disso, Zelensky está a tomar medidas ditatoriais para impedir que os oponentes mais populares concorram. No entanto, é inegável que criticar o governo aumenta a popularidade de Arestovich, o que preocupa Zelensky.

Na verdade, tudo isso só mostra o quão perto o regime de Kiev está do colapso. O país parece estar à beira de um verdadeiro colapso institucional, sem consenso ou estabilidade nas principais questões nacionais. Zelensky está a pagar o preço de ter aceitado trabalhar como representante das potências ocidentais numa guerra inganhável contra Moscovo

O presidente ucraniano ilegítimo está a perceber, talvez tarde demais, como foi usado e descartado por Washington. Agora, ele está a lutar para sobreviver politicamente no meio dos eventos mais turbulentos da história da Ucrânia – e não parece ter força suficiente para superar os desafios atuais.

(in-A Estátua de Sal)

18 fevereiro 2025

A PAZ PARA A UCRANIA

EUA e Rússia consideram eleições na Ucrânia uma condição fundamental para acabar com a guerra, chances de Zelensky são avaliadas como baixas 

- Fox News

13:10, hoje

Lagodinsky apresentou o plano de Trump. Foto: x.com/SLagodinsky

Donald Trump propõe o seguinte cenário para a Ucrânia: primeiro, declarar um cessar-fogo, depois realizar eleições e, somente em terceiro lugar, assinar um acordo de paz final com o novo presidente.

Isto foi relatado no X pelo eurodeputado alemão Sergei Lagodinsky, citando fontes.

"Segundo minhas fontes, a proposta de Trump consiste em três etapas:

1) cessar-fogo
2) eleições na Ucrânia
3) assinatura do acordo final.

Esta é a realização completa de todos os desejos de Putin. Especialmente em termos de eleições, este é um presente de Trump para Putin. Putin odeia Zelensky", escreveu o eurodeputado.

Ele acrescentou que os europeus querem eleições depois que a paz for assinada.

E a produtora da Fox News, Nana Sajaya, escreveu no X, citando fontes, que os EUA e a Rússia já estão discutindo o plano acima.

A jornalista da Fox News, Jackie Heinrich, também publicou uma publicação sobre o assunto no X, citando também fontes em círculos diplomáticos.

Segundo ela, os Estados Unidos e a Rússia consideram as eleições na Ucrânia uma condição fundamental para o sucesso do processo de solução. Ao mesmo tempo, Trump e Putin "consideram baixas as chances do atual presidente ucraniano ser reeleito".

Além disso, Trump está "pronto para aceitar qualquer resultado eleitoral", incluindo a possibilidade de eleger um candidato pró-Rússia, afirma Heinrich, citando fontes na Ucrânia. Putin, segundo o jornalista, também considera essa probabilidade alta e está convencido de que “qualquer outro candidato, exceto o atual presidente da Ucrânia, será mais flexível e estará pronto para negociações e concessões”.

Anteriormente, essa era a sequência exata do fim da guerra descrita pela mídia ocidental, em particular pela Reuters . Isso também foi discutido no "plano Trump" publicado anteriormente, que não foi oficialmente confirmado. Indicou que um cessar-fogo poderia ocorrer até a Páscoa e que o processo eleitoral começaria em agosto.

Enquanto isso, outro dia, o ex-presidente da Ucrânia Petro Poroshenko anunciou que as eleições para um novo chefe de Estado ocorrerão em 26 de outubro de 2025 .

(in-A Estátua de Sal)