16 agosto 2025

Cimeira histórica no Alasca:

muito mais do que parece

(Carlos Fino, Agostinho Costa, Tiago André Lopes,16/08/2025)


Correu tudo bem. Grande encenação, dois grandes actores. A União Europeia continua em negação, a rilhar a língua despeitada. Os próximos capítulos da novela só podem ser positivos. O palhaço de Kiev está sem pinta de sangue e ontem snifou a sua cocaína em dose tripla… 

Segue excelente texto de Carlos Fino sobre a Cimeira e vídeo com as opiniões do Major-general Agostinho Costa e de Tiago André Lopes.

Estátua de Sal, 16/08/2025

(Carlos Fino, in Facebook, 16/08/2025)


Asensação, à primeira vista, é de frustração: só isto? Afinal, tanto barulho para nada?! Mas, olhando melhor, por detrás da aparente inocuidade, está uma enorme mudança – Trump e Pútin viraram a página do confronto total à beira do abismo, retomando a via do confronto regulado. Parecendo pouco, é enorme -verdadeiramente histórico.

O grande vencedor imediato é Pútin, que, de vilipendiado e ostracizado, voltou,

em passadeira vermelha, pela mão (e o aplauso!) de Trump, ao grande palco da política mundial. De onde, na realidade, apesar da hostilidade ocidental, nunca chegou a sair graças aos BRiCS, engenhosa e paciente construção da diplomacia russa. Mas uma coisa é lidar com a versão contemporânea dos antigos Não Alinhados do tempo da Guerra Fria, outra falar de igual para igual com o líder da maior potência mundial, em encenação mediática de repercussão universal, prendendo as atenções de todo o mundo.

Trump, por seu turno, a coberto de uma nuvem de ameaças e zigzagues para confundir e despistar os seus poderosos adversários neoconservadores, consegue a proeza de restabelecer as relações com a Rússia praticamente contra tudo e contra todos. Compreendendo que a guerra na Ucrânia está perdida, teve a sagacidade de se colocar de fora ainda a tempo, agindo como se fosse parte neutra e evitando dessa forma para os EUA mais uma retirada sem honra nem glória como aconteceu no Vietname e no Afeganistão. Em compensação, vê abrirem-se-lhe as portas de acesso às riquezas da Sibéria e do Ártico, em cooperação com Moscovo. Não é um mau negócio.

A paz eterna está finalmente estabelecida? Não, de modo nenhum, infelizmente! Em declínio, mas ainda maior potência do planeta, os EUA continuarão a contrariar a emergência de potências rivais, em particular a China, que já se perfila no horizonte como seu principal desafio. Mesmo em relação à Rússia, não terminarão amanhã os esforços de a conter, sempre e onde puderem – do Báltico ao Cáucaso, passando pela Ucrânia. Mas, neste último caso, parece haver vontade de uma progressiva retirada, agora que a Rússia está em vias de ganhar.

Os grandes perdedores são manifestamente Zelensky e os europeus, que insistiram na guerra, totalmente alinhados com a administração Biden, primeiro, e não sabendo depois distanciar-se a tempo quando Trump sinalizou que ao excessivamente caro intervencionismo externo dos seus antecessores, preferia virar-se para dentro, a fim de Make America Great Again. É triste olhar para os protagonistas da UE neste cenário.

Obtida a certeza de que não haverá Nato na Ucrânia nem Ucrânia na Nato, os russos vão continuar a avançar até que Kíev aceite as realidades no terreno. Ou que, por força das contradições internas que tendem a acentuar-se com as derrotas, haja eventualmente uma mudança de regime naquela que foi “a primeira de todas as cidades russas”.

Ou seja, de imediato, não haverá cessar-fogo. Mas o tom já mudou na relação entre Moscovo e Washington. E esse é o grande resultado desta aparentemente vazia cimeira histórica no Alasca.

Alasca: mesa dos grandes:

Trump e Putin discutem a paz 
e o futuro do mundo.


(Estátua de Sal, Dmitri Orlov, Agostinho Costa, 15/08/2025)



Hoje pode ser um dia histórico para o mundo, por boas ou por más razões. Aguardemos. Mas subscrevo a posição do Major-general Agsotinho Costa que defende – ver no vídeo abaixo uma antevisão possível dos resultados da cimeira -, que os líderes das duas maiores potências nucleares se encontrarem cara a cara já é, só por si, uma positiva e boa notícia. Sobre o que pode estar em jogo, de parte a parte, e em discussão no encontro, publico também o excelente texto de Dmitri Orlov.

A Estátua fica com a parte cínica da análise. A subalternidade patética das lideranças europeias. Os cães ladram mas a caravana passa… Macron e Von der Leyen? Nem sequer foram relegados para o fundo da sala… permanecem na Europa, a comentar pela televisão. A UE sonhava em ser um «ator estratégico»; acabou por se tornar um espectador mudo, arruinado e dependente da boa vontade dos outros. Anos de postura belicosa para não conseguir nem mesmo um lugar secundário quando é importante. Chama-se a isso: ser expulso do jogo sem sequer ter tocado na bola.

Estátua de Sal, 15/08/2025

Políticos à beira de um ataque psicótico

(Dmitri Orlov, in Resistir, 15/08/2025)



Na sexta-feira, 15 de agosto, Vladimir Putin e Donald Trump têm uma reunião marcada em Anchorage, no Alasca. Estas são todas as notícias até o momento: os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos se reunirão pessoalmente; os detalhes da conversa não são conhecidos antecipadamente e, em qualquer caso, são confidenciais.

https://resistir.info/russia/orlov_14ago25.html 
Dmitri Orlov

Na sexta-feira, 15 de agosto, Vladimir Putin e Donald Trump têm uma reunião marcada em Anchorage, no Alasca. Estas são todas as notícias até o momento: os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos se reunirão pessoalmente; os detalhes da conversa não são conhecidos antecipadamente e, em qualquer caso, são confidenciais.

Se se interessa por este tipo de assunto, provavelmente convém começar a prestar atenção na sexta-feira aos comunicados oficiais da Rússia e dos Estados Unidos que provavelmente serão publicados após o evento. Talvez você possa assistir à coletiva de imprensa conjunta, se houver. E depois, se quiser manter uma boa higiene informativa, recomendamos que se desconecte por pelo menos uma semana para que analistas competentes possam fazer suas análises.

Em vez dessa higiene informativa, muitas pessoas estão sujeitas a uma histeria generalizada. Os meios de comunicação e blogueiros ocidentais estão a espalhar um bombardeio assustador de comentários e notícias falsas (já que há poucas notícias reais para contar). Esse bombardeio centra-se principalmente em quem disse o quê, ignorando o facto de que quem disse não é relevante e o que foi dito não tem importância. Em particular, qualquer frase que contenha o nome «Zelensky» é garantia de disparate.

A histeria em massa nos meios de comunicação ocidentais é perfeitamente justificável: existe um desespero crescente por parte dos líderes (duvido em chamá-los assim) europeus e ucranianos para manter a sua relevância numa situação em que o que está em jogo é incalculável. Níveis semelhantes de desespero são palpáveis entre o setor anti-Trump na costa ocidental do Atlântico.

Trump e os seus apoiantes também estão desesperados:A economia americana está a entrar em colapso, o desemprego está a aumentar, os mercados financeiros estão sobrevalorizados três ou quatro vezes e estão prontos para uma queda vertiginosa.
Até dois terços do custo das criativas tarifas de Trump recairão sobre o consumidor americano e toda a estratégia de tentar corrigir os desequilíbrios comerciais através da imposição de tarifas começa a parecer uma péssima ideia.
Os défices orçamentais e os pagamentos de juros dos EUA estão em máximos históricos...

... E não há êxitos a relatar. No entanto, há alguns fracassos a apresentar. Para começar:A Gronelândia continua dinamarquesa, o Canadá continua canadiano e o Canal do Panamá continua panamenho, e Trump continua a tagarelar sobre isto e aquilo.
O esforço para controlar os gastos federais dos EUA através da mobilização de Elon Musk e do seu DOGE não surtiu qualquer efeito, gerando poupanças insignificantes.
A Guerra dos Doze Dias com o Irão foi, em última análise, uma derrota para Israel, que não conseguiu defender o seu território nem mesmo com a ajuda dos Estados Unidos, estupidamente ficou sem mísseis de defesa aérea e acabou implorando aos EUA para que por favor o parassem. Felizmente para Trump, cada vez mais americanos não se lembram do que se tratava tudo isso.
A tentativa de infligir uma derrota estratégica à Rússia lançando a Ucrânia contra ela é um desastre absoluto e irremediável.

Diante desse cenário de fracasso, é bastante compreensível que Trump tenha aceite a tábua de salvação oferecida por Putin através do seu amigo Steve Witkoff. Afinal, esta é a oportunidade de Trump mostrar-se presidencial no cenário mundial, pois há vários temas de conversa muito importantes que os líderes russos e americanos deveriam ter abordado há anos, impedidos primeiro pelo escândalo da falsa intromissão russa e, depois, pela falsa presidência de Biden e sua autopen (caneta que assina automaticamente em substituição de quem não consegue empunhar uma caneta, instrumento utilizado nas sombras sob a fachada de um ancião moribundo e demente colocado no lugar da presidência dos Estados Unidos, NT). Há uma acumulação de questões bilaterais importantes a resolver e apenas os dois presidentes, reunidos cara a cara, podem impulsionar o processo.

A tentar ser exaustivo, permitam-me repassar a lista de pontos, infelizmente atrasados, da agenda desta cúpula:

1. Prevenção da guerra nuclear

Um ponto óbvio para encabeçar a lista são os dois tratados de limitação de armas estratégicas (Novo START, Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas; ABM, Tratado sobre Mísseis Antibalísticos, NT), que expiraram ou estão prestes a expirar, mas que devem ser renegociados. Os Estados Unidos e a Federação Russa concordaram com uma prorrogação de cinco anos do Novo START para mantê-lo em vigor até 4 de fevereiro de 2026. O Tratado INF (Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermédio, NT) está praticamente obsoleto; Trump retirou-se unilateralmente em 2019, mas Moscovo continuou a aderir, até 4 de agosto de 2025, a uma proibição autoimposta contra a sua violação.

É fundamental que a Rússia e os Estados Unidos, de longe as maiores potências nucleares do planeta, renegociem esses tratados, uma vez que a Rússia possui um novo conjunto de armas que invalida todos os cálculos estratégicos anteriores. Entretanto, os Estados Unidos mantiveram-se praticamente estagnados ou recuaram, e as suas armas mais recentes deram um passo para trás. Por exemplo, o seu suposto hipersónico Dark Eagle atinge, em primeiro lugar, Mach 5, pelo que não é hipersónico, mas sim supersónico e, em segundo lugar, ainda se encontra em fase experimental e muito longe da produção em massa.

Como resultado, em caso de um confronto nuclear entre a Rússia e os EUA, a destruição completa e total dos EUA está agora garantida, enquanto as forças estratégicas americanas já não podem garantir a destruição total da Rússia devido aos sistemas antibalísticos e de defesa aérea russos, que são muito superiores. Além disso, a Rússia já tem, ou em breve terá, a capacidade de dissuadir adequadamente os EUA sem recorrer a armas nucleares.

Por último, tanto os EUA como a Rússia enfrentam ameaças crescentes de atores essencialmente terroristas que utilizam drones novos e avançados, incluindo aqueles que empregam inteligência artificial para localizar alvos e evitar a deteção. Durante o conflito na antiga Ucrânia, a Rússia aprendeu a lidar com essa ameaça utilizando vários novos sistemas de armas, como guerra de radiofrequência, sistemas automatizados de defesa aérea em várias camadas, defesas passivas para veículos e rotas e drones antirrobôs.

Entretanto, os cartéis de droga mexicanos começaram a enviar os seus membros para a antiga Ucrânia para receber treino e em breve estarão prontos para utilizar drones para importar droga para os Estados Unidos (o maior mercado mundial de droga ilegal) e para assassinar funcionários americanos que tentem interferir com estas operações lucrativas. Os Estados Unidos encontram-se atualmente indefesos perante esta nova ameaça e beneficiariam da assistência russa nesta matéria.

Esses assuntos devem ser discutidos em segredo pelos líderes russos e americanos, já que o establishment de defesa americano prefere se afundar na negação enquanto gasta grandes somas em brinquedos de alta tecnologia cada vez mais inúteis e muito caros. Os contratantes de defesa americanos são poucos e poderosos, e eles e os seus numerosos aliados no Congresso americano frustrarão qualquer tentativa de diálogo produtivo. Portanto, seria necessário estabelecer novos canais privados para trabalhar neste assunto.

2. Energia

Os Estados Unidos são atualmente o maior produtor e consumidor mundial de petróleo, com mais de 13 milhões de barris por dia, seguidos de perto pela Arábia Saudita e pela Rússia. No entanto, existem alguns problemas importantes com a produção de petróleo dos EUA, uma vez que a maior parte da produção de gás natural no país é concomitante com a produção de petróleo, com uma quantidade relativamente pequena de perfurações direcionadas especificamente para a extração de gás.

O primeiro problema é que a maior parte do petróleo produzido pelos EUA não é petróleo, mas sim gás natural condensado produzido a partir de poços de petróleo de xisto obtidos através de fraturação hidráulica. O condensado é um líquido, mais do que um gás, mas é muito mais leve do que a maioria dos tipos de petróleo bruto. Portanto, não é diretamente útil para produzir gasóleo para motores de ciclo diesel, nem combustível para aviões ou combustível para bancas (bunker), o combustível utilizado em navios. Consequentemente, os Estados Unidos são em simultâneo tanto exportadores como importadores de petróleo, sendo obrigados a importar petróleo mais pesado a fim de que as suas refinarias produzam o mix necessário de combustíveis para transportes.

O segundo problema é que os Estados Unidos têm as reservas mais baixas de todos os grandes produtores de petróleo. A sua relação reservas-produção é atualmente inferior a 10 anos. No entanto, isso não significa que tenha 10 anos de produção a 13 milhões de barris/dia e, de repente, reduza para zero. Em vez disso, resta-lhe um período incerto, mas possivelmente bastante curto, próximo do nível de produção atual, seguido de um declínio acentuado. Ao contrário dos poços convencionais, que ao se esgotarem tornam-se poços de extração que produzem talvez uma dúzia de barris de petróleo por dia durante muitos anos, atendidos por um simples peão numa carrinha, os poços fraturados (fracking) simplesmente deixam de produzir e devem ser refraturados, com um custo elevado e incerto, ou simplesmente tapados e abandonados. Deste facto, deduz-se que, dentro de alguns anos, grande parte da produção de petróleo dos EUA (ou seja, condensado de gás natural) começará a esgotar-se e, dado que não há outra fonte de petróleo no mundo que compense este declínio repentino, o pico petrolífero voltará a mostrar a sua cara feia.

Atualmente, dado que o esforço para substituir os combustíveis fósseis e a energia nuclear pelas chamadas «renováveis» falhou rotundamente (não são necessariamente renováveis pelos seus fabricantes chineses), os Estados Unidos têm duas opções para mitigar a iminente escassez energética: o petróleo e o gás do Ártico e a energia nuclear. Ambas exigiriam uma preparação enorme e também a assistência russa.

A exploração e produção de hidrocarbonetos no Ártico requer tecnologias que apenas a Rússia possui, como uma frota numerosa e crescente de quebra-gelos atómicos, uma frota cada vez maior de petroleiros projetados para operar no Ártico e muita experiência e tecnologia relevante para projetos energéticos no Ártico. Os Estados Unidos não têm a tecnologia, o tempo nem as competências necessárias para a desenvolver, mas talvez possam iniciar alguns projetos petrolíferos no Ártico com a ajuda da Rússia no pouco tempo que lhes resta. A energia nuclear é também o principal domínio da Rússia. A Rússia é o único exportador em grande escala de tecnologia nuclear. Os seus projetos atuais incluem centrais nucleares na China (centrais de Tianwan e Xudabao), Índia (Kudankulam), Turquia (Akkuyu), Egito (El Dabaa), Bangladesh (Rooppur), Hungria (Paks II) e Irão (Bushehr), que representam aproximadamente 60% da carteira mundial de reatores nucleares. A China constrói numerosas centrais nucleares no seu território. As iniciativas de energia nuclear de todos os outros países podem ser descritas, generosamente, como boutique.

Ao contrário das empresas americanas e europeias, a russa Rosatom tem a capacidade de construir e operar centrais nucleares dentro do prazo e do orçamento, oferecendo uma solução integral que inclui não só a construção do reator, mas também o combustível para os seus 100 anos de vida útil, o reprocessamento do combustível usado e a formação do pessoal local. A Rússia possui o maior e mais avançado conjunto de centrifugadoras de gás do mundo para o enriquecimento de urânio e o único ciclo fechado de combustível nuclear do mundo, o que lhe permite reprocessar e neutralizar o combustível usado dos reatores nucleares. Enquanto isso, os Estados Unidos permitem que o combustível usado se acumule em piscinas de armazenamento em usinas nucleares, transferindo-o eventualmente para um armazenamento próximo em contêineres secos, já que não há onde depositá-lo.

Os Estados Unidos poderiam compensar parcialmente a iminente queda abrupta de sua produção de petróleo ampliando seu parque de reatores nucleares, mas não conseguiriam fazê-lo sem a ajuda da Rússia. Mesmo assim, o êxito de um projeto deste tipo estaria longe de ser garantido devido ao regime regulatório hostil dos Estados Unidos e aos custos gerais exorbitantes de operação devido aos preços excessivos dos cuidados médicos, habitação, custos legais, baixo nível de educação da força de trabalho, dificuldades em encontrar trabalhadores que não sejam alcoólicos ou toxicodependentes, e outros fatores que tornam os Estados Unidos cada vez menos competitivos.

3. O fiasco da Ucrânia

O fiasco em câmera lenta que atualmente se desenrola na ex-Ucrânia é o resultado de um erro estratégico maciço, nascido de um nível igualmente maciço de ignorância sobre a Rússia no seio do establishment americano, cada vez mais degenerado mental e moralmente. O plano original era forçar a Rússia a intervir militarmente para deter o genocídio dos falantes de russo na região de Donbass, no leste da Ucrânia, e depois impor sanções enquanto apoiava militarmente os ucranianos a fim de infligir-lhe uma derrota estratégica. Três anos depois, a economia russa cresce a um bom ritmo, embora não tão rápido quanto poderia se não fosse pela Ucrânia, nem tão rápido quanto a China ou a Índia. Enquanto isso, o exército ucraniano está à beira do colapso e a sociedade ucraniana ultrapassou seu ponto crítico e se aproxima de uma guerra civil. Entretanto, os objetivos da Rússia para a sua Operação Militar Especial na antiga Ucrânia (que não é uma guerra, claro) permanecem inalterados: desmilitarização, desnazificação, neutralidade, estatuto de não bloqueio (não mais expansão da NATO!) e ausência total de tropas estrangeiras (não russas).

Os comentaristas e políticos ocidentais estão desesperadamente a tentar negar que a Rússia está a ganhar. Falam com entusiasmo sobre o possível acordo que Trump e Putin poderiam alcançar quanto à Ucrânia, mas o seu entusiasmo parece infundado. Em primeiro lugar, os acontecimentos recentes demonstraram que Trump não tem impacto sobre a Rússia: a Índia e a China rejeitaram ameaças vazias de impor sanções secundárias aos compradores de petróleo russo, ao passo que o Brasil sugeriu suspender completamente o comércio com os Estados Unidos. Em segundo lugar, o que Trump parece disposto a oferecer (pelo menos é o que se afirma, embora a experiência demonstre que tais afirmações não são de todo verdadeiras, mesmo que sejam feitas pelo próprio Trump) é bastante insignificante.

O que parece apresentar-se é o seguinte:A Rússia mantém a Crimeia, que é realmente temporária como ucraniana (já não é necessário discutir isso), a totalidade das regiões temporariamente ucranianas de Donetsk e Lugansk, mas apenas as partes das terras temporariamente ucranianas de Zaporozhye e Kherson que as forças russas ocupam atualmente, o que essencialmente congela o conflito ao longo da linha de contacto.
Em troca, a Rússia teria de se retirar das regiões de Sumy, Kharkiv e Dnipropetrovsk, que ocupa parcialmente para impedir que as forças ucranianas ataquem as suas regiões vizinhas de Kursk, Bryansk e Belgorod.
Além disso, este seria um acordo de facto sem reconhecimento oficial dos territórios que agora são russos, e qualquer mudança repentina na liderança dos EUA poderia invalidá-lo subitamente, colocando a Rússia numa situação desvantajosa.
Por último, após uma longa série de promessas não cumpridas por parte dos Estados Unidos e do resto da NATO, um acordo deste tipo exigiria um nível de confiança por parte da Rússia que esta não possui de todo.

Estará Trump disposto a admitir que todo o fiasco da Ucrânia é um fracasso por culpa dos Estados Unidos? Talvez não; admitir isso tornaria ainda mais estridentes as negações já estridentes de Kiev, da União Europeia, da NATO e de grande parte da classe dirigente norte-americana. Afinal, Trump está disposto a corrigir-se? Para começar, ele poderia:Ordenar que os EUA restaurem os gasodutos Nord Stream, que são propriedade russa e foram destruídos pelos EUA.
Descongelar os 300 mil milhões de dólares em ativos estatais russos que foram congelados, cujos juros foram canalizados para os ucranianos.
Levantar todas as sanções contra a Rússia (já que agora é evidente que foram impostas por erro).

Isso é o que seria necessário para, pelo menos, iniciar o longo processo de restauração da confiança russa nos Estados Unidos. Mas, como nada disso parece provável, o que estão os russos dispostos a aceitar? Uma pista disso foi dada durante a recente viagem de Steve Witkoff a Moscovo, na sequência da qual foi subitamente acordada a cimeira do Alasca. Deram-lhe um passeio pelo parque Zaryadye de Moscovo, que é bastante bonito, mas isso é apenas um passeio pelo parque. Depois, levaram-no a um restaurante de fast food e ofereceram-lhe um cheburek, uma empada frita recheada com carne picada e cebola, um popular prato russo que custa a exorbitante quantia de 500 rublos (6,24 dólares). Estes detalhes foram apresentados com bastante precisão na cobertura mediática russa da sua visita, para criar expectativas não apenas baixas, mas muito, muito baixas. A continuação adequada de tal prelúdio seria Putin e Trump partilharem uma Coca-Cola Light e conversarem sobre desporto, os seus filhos e o tempo.

Outra pista foi dada pelo presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, durante uma entrevista com um jornalista norte-americano: «[Trump] deve ter sempre em mente que podem mandá-lo para o inferno». Ou seja, se Trump tentar usar algum truque do seu livro A Arte da Negociação, ou tentar pressionar a Rússia, ou lançar ultimatos ou começar a comportar-se como um idiota, Putin poderia facilmente recusar-se a negociar com ele. É preciso entender que há um lado que está a ganhar – e não é o de Trump. Os russos estão bem cientes disso, enquanto os americanos estão envolvidos em seus assuntos e se mostram histéricos a respeito.

Tendo em vista tudo isso, o melhor que se pode esperar da cúpula do Alasca é uma troca de ideias que abranja muitos temas importantes para as relações entre os Estados Unidos e a Rússia, como energia, armas estratégicas e conflitos geopolíticos (que sem dúvida continuarão como até agora). Seria então um excelente prelúdio para a próxima cimeira russo-americana, que se realizará do outro lado do estreito de Bering, no Extremo Oriente russo, se tudo correr bem; e se não, como prelúdio a mais balbucios incoerentes de Trump perante um coro de comentadores ocidentais histéricos. Mas talvez Putin e Trump façam alguns anúncios, como a formação de grupos de trabalho para atuar em projetos energéticos conjuntos, encarregar-se dos preliminares para negociar novos tratados de limitação de armas estratégicas e propor o levantamento de certas sanções à Rússia a fim de facilitar o comércio entre os dois países.

Seria conveniente evitar completamente falar da antiga Ucrânia, uma vez que o tema é controverso e relativamente pouco importante. Uma vez que o regime de Kiev se opõe veementemente à oferta provisória de Trump e parece desesperado para prolongar a guerra o máximo possível, por que mencioná-la? Afinal, os Estados Unidos já não pagam essa guerra; a União Europeia paga, mas o complexo militar-industrial americano receberá o dinheiro da venda de armas de qualquer maneira. Como empresário inflexível, Trump deveria estar satisfeito com este acordo, e a única razão que tem para tentar resolver a situação na antiga Ucrânia é que se considera um grande pacificador e anseia pelo Prémio Nobel da Paz. Teremos de esperar para ver quão forte é essa motivação para ele. Por sua vez, a paz na Ucrânia chegará assim que o Ocidente deixar de a alimentar com dinheiro e armas.

A pergunta é simples:
Trump está disposto a abrir mão das receitas com a venda de armas para tentar ganhar o Prémio Nobel da Paz ?

03 agosto 2025

Os indigentes




A Europa é chefiada por indigentes e Trump perdeu-lhes o respeito, se é que alguma vez o teve. Além de despedaçar a Europa, Trump mostra o seu desprezo pelo projeto europeu que poderia vir a desafiar o poder norte-americano.

Há uns tempos escrevi um texto sobre as vulnerabilidades estratégicas da União Europeia (UE) e como elas condicionam a sua autonomia. Parece que os dirigentes europeus ainda não as interiorizaram. Para que a UE possa sobreviver e tenha margem de manobra política, faz sentido que os seus dirigentes em Bruxelas identifiquem essas vulnerabilidades e o impacto que possam provocar no seu relacionamento com as grandes potências ou blocos comerciais.

Em tempos sugeri que, para nosso bem, a União deveria funcionar como um mediador das divergências geopolíticas entre os EUA e a Rússia e entre os EUA e a China. Isso poderá ser agora demasiado tarde. Tal opção permitiria à Europa afirmar-se como um ator relevante na cena internacional, em vez de se eternizar no papel de deputy sheriff, esvaziando de sentido as suas pretensões de autonomia estratégica por que tanto tem pugnado.

A inabilidade diplomática de Bruxelas levou aos deploráveis espetáculos que começaram em Pequim e se prolongaram na Escócia. Pequim e Washington não respeitam a União Europeia. Em Pequim, Ursula von der Leyen, António Costa e Kaja Kallas foram transportados do avião em que chegaram por um autocarro do aeroporto, como se fossem passageiros de uma companhia aérea económica. Na Escócia, von der Leyen foi recebida no clube de golfe de Donald Trump, e teve de esperar que este terminasse o “último buraco”.

O comportamento destes inefáveis dirigentes recorda-me aqueles que tiveram de recorrer aos fundos europeus e ao alojamento local para manter a mansão de família, mas que ainda procuram impressionar quem os ouve recorrendo insistentemente a um passado que já não existe.

A reunião em Pequim, no dia 24 de julho, com o objetivo de marcar os 50 anos do estabelecimento de relações bilaterais entre a União e a China, saldou-se por um tremendo fiasco. Os pigmeus foram explicar a Pequim como se devia comportar com a Rússia. Não perceberam que a sua vulnerabilidade estratégica não aconselha a falar com voz grossa, e que o atual estado de coisas é, em grande parte, o resultado dos indigentes terem elevado a Ucrânia ao estatuto de principal prioridade da política externa da UE: um estado não-membro tornou-se o principal fator determinante de todas as decisões e respetivas consequências relativamente aos 27 Estados-membros. A cimeira que deveria originalmente ter tido lugar em Bruxelas e durar dois dias reduziu-se a um só, terminando em nada.

Ainda atordoados com o que lhes tinha acontecido em Pequim, foram confrontados, na Escócia, com a segunda humilhação em três dias. Esta continuaria quando cederam em toda a linha às imposições de Trump. Von der Leyen aceitou tudo o que lhe foi imposto. Os EUA estabeleceram uma tarifa única de importação de 15% para a maioria dos produtos da UE, e de tarifa de 0% para alguns produtos estratégicos. Neste pacote de 15% incluem-se os automóveis, o principal motor da indústria alemã e da economia europeia. As tarifas aduaneiras sobre o aço e o alumínio europeus permaneceram em 50%, embora esteja em discussão a possibilidade de se avançar para um sistema baseado em quotas (volume) de exportações, depreende-se.

Simultaneamente, a União comprometeu-se a investir US$ 600 mil milhões nos EUA, a comprar US$ 750 mil milhões de energia norte-americana nos próximos três anos e a aumentar as aquisições de equipamento militar americano. No final von der Leyen descreveu o tratado como um grande sucesso: “Foi difícil para nós. Mas agora conseguimos”, ficando por esclarecer o que foi que conseguiu.

Disse sem se rir, que “as compras de produtos energéticos dos EUA diversificarão as nossas fontes de abastecimento e contribuirão para a segurança energética da Europa. Substituiremos o gás e o petróleo russos por compras consideráveis de gás, petróleo e combustíveis nucleares dos EUA”. O facto de serem significativamente mais caras do que as russas não a incomoda. Terá aderido à tese do então secretário da energia Rick Perry quando este afirmou, em 2019, a superioridade do gás natural norte-americano por ser o gás da liberdade.

Em troca de todas as concessões feitas, a UE não recebeu qualquer contrapartida. Foi um jogo de soma zero. Recorrendo à terminologia de Carlo Cipolla, na sua “Teoria Geral da Estupidez”, os EUA fizeram o papel de “maus” e os dignitários europeus o de “ingénuos”. Segundo alguns especialistas, a UE sofrerá um prejuízo líquido de cerca de 1,4 triliões de dólares sem receber garantias ou benefícios. Depois desta “grande vitória” europeia – conseguiram uma tarifa de 15% em vez dos iniciais 30% -, Trump veio vangloriar-se deste ser o “maior acordo de sempre”, melhor do que os celebrados com o Japão e com o Reino Unido.

Os EUA obtêm receitas significativas pela importação de bens da UE e podem ganhar ainda mais, pois o acordo deixa a porta aberta para Washington aumentar as tarifas se a Europa não cumprir com as compras com que se comprometeu. E, como veremos, muito provavelmente assim será.

A Reuters e a Bloomberg consideram irrealista a possibilidade de Washington exportar energia para a UE no valor de US$750 mil milhões. “A promessa da UE importar US$250 mil milhões de dólares de energia dos EUA [anualmente] é um disparate”, escreve a Reuters. De acordo com os seus dados, os produtores americanos não serão capazes de satisfazer esse nível de importação. O valor total das importações de petróleo bruto da União a partir dos EUA, gás e carvão de coque, em 2024, foi de apenas US$64,55 mil milhões, o que representa 26% dos prometidos US$250 mil milhões, com que a UE se comprometeu a gastar anualmente. Isto significa que a UE não os conseguirá atingir.

Perante tremenda capitulação, as reações nalguns países da União não se fizeram esperar. “É um dia negro quando uma aliança de povos livres, unidos para afirmar os seus valores e defender os seus interesses, se resigna à submissão”, escreveu no X o primeiro-ministro francês centrista François Bayrou. Na manhã de 28 de julho, Viktor Orbán comentava no seu podcast que “não foi um acordo que o Presidente Donald Trump fez com Ursula von der Leyen. Foi o Donald Trump a comer a Ursula von der Leyen ao pequeno-almoço”.

Pelo seu lado, o chanceler alemão Friedrich Merz afirmou não estar satisfeito com o resultado do acordo e reconheceu que a economia alemã iria sofrer danos “significativos”, mas de modo condescendente, afirmou que “simplesmente não era possível fazer mais”. Com a aquisição de equipamento militar aos EUA, o sonho da reindustrialização alemã à custa da revitalização da indústria do armamento poderá estar comprometido.

Os problemas começaram a alastrar, com a agenda verde europeia a entrar em colapso. Segundo o Welt, o Qatar, um dos principais fornecedores de gás natural liquefeito (GNL) da UE, poderá vir a suspender as exportações de GNL para a Europa, a menos que o bloco flexibilize as principais regulamentações climáticas previstas na sua Diretiva da Cadeia de Abastecimento. O Ministro da Energia do Qatar Saad Sherida Al-Kaabi disse ” que as empresas [do Qatar] não devem ser forçadas a escolher entre cumprir as políticas climáticas e as regulamentações da UE”. Parece não serem apenas os chineses a estar cansados das lições e do “paternalismo” da UE.

Estes desenlaces só vêm provar a justeza daquilo que dizemos há anos. A Europa é chefiada por indigentes e Trump perdeu-lhes o respeito, se é que alguma vez o teve. Trump está a conseguir despedaçar a Europa e a mostrar o seu desprezo pelo projeto europeu que poderia vir a desafiar o poder norte-americano.

O acontecimento da Escócia foi uma tremenda vitória político-económica dos EUA e uma clara derrota da UE. Por outras palavras, um embaraço. Trump está a tentar fazer com o Brasil algo semelhante, mas sem sucesso. O Brasil tem uma margem de manobra que a Europa não dispõe. O Brasil tem parceiros, tem opções.

A exímia diplomacia europeia conduziu-nos para um beco sem saída onde não temos aliados. Para onde é que se vai a UE virar? Seguramente que não será para o sul global. Bruxelas tem medo da sua própria sombra. Ao não ter ensaiado uma retaliação conjunta com a China aos EUA cavou a sua própria sepultura. Fraqueza só traz mais exploração.

Depois de impor aos aliados 5% dos orçamentos nacionais em gastos com a Defesa, na Cimeira da NATO, em Haia, e agora este “acordo comercial”, ainda há quem continue a achar que Trump é errático, inconstante, e que não sabe o que quer. Entretanto, campeiam os comentadores mansos e fofinhos, ou se preferirmos, cobardes, a defenderem a TINA (“There Is No Alternative”) e a darem cobertura à humilhação. Talvez se deva aplicar aqui o que rei D. Juan Carlos disse ao presidente venezuelano Hugo Chávez numa cimeira latino-americana. Parece estarmos condenados ao século da humilhação da Europa.
(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 31/07/2025)

Guerra na Ucrânia: Oficiais britânicos capturados pelas forças especiais russas

(Elias Richau, in Facebook, 01/08/2025, Revisão da Estátua)


AGrã-Bretanha está furiosa: os seus oficiais foram capturados em Ochakov pelas forças especiais russas – os nossos combatentes penetraram na retaguarda ucraniana em barcos.

Durante a operação, batizada como “Skat-12”, oficiais britânicos que ajudaram as Forças Armadas Ucranianas a guiar mísseis e drones, bem como a realizar ataques cibernéticos, foram capturados.

Canais militares (Militarista, Frente Krymsky e vários outros) relatam que a operação Skat-12 das forças especiais russas foi realizada recentemente em Ochakov. Ela foi preparada durante quase dois meses, incluindo a vigilância do objeto por meios técnicos e canais de inteligência. Como resultado, sob comando, os nossos caças desembarcaram em vários barcos e penetraram no centro de comando das Forças Armadas Ucranianas. Lá, capturaram militares britânicos que coordenavam o uso de mísseis e drones britânicos. É possível que eles também estejam relacionados com os maiores ataques cibernéticos à nossa infraestrutura, em particular à Aeroflot. A Grã-Bretanha exige furiosamente o retorno de seus cidadãos, alegando que são simples turistas interessados em história naval.

Entre os prisioneiros estavam o Coronel Edward Blake, oficial da Unidade Especial de Operações Psicológicas, o Tenente-Coronel Richard Carroll e outro oficial não identificado, presumivelmente um agente de inteligência do MI6 que era consultor de segurança cibernética.

Não se passou mais de meia hora entre o momento em que nossas forças especiais desembarcaram na costa até que carregaram os prisioneiros num barco e seguiram à base.

No mesmo dia, o Ministério das Relações Exteriores britânico, por meio de canais não oficiais, contactou o Ministério da Defesa russo com um pedido de devolução dos oficiais britânicos que haviam sido “perdidos” na Ucrânia. Londres alega que os seus militares estavam de férias e tinham vindo à Ucrânia para fins turísticos. Eles acabaram em Ochakov por acidente: estavam interessados na história da Marinha e queriam visitar a costa onde ocorreram batalhas durante a Segunda Guerra Mundial.

No entanto, em vez de mapas históricos de Ochakov, os “turistas” detidos possuíam mapas de objetos estratégicos em território russo, planos de defesa aérea russa, instruções secretas sobre interação com operadores de drones ucranianos, bem como discos com dados criptografados e registros de conversas com o Estado-Maior Britânico.

Portanto, o Ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, teria respondido aos britânicos que os seus oficiais não estavam sujeitos à troca: o Ocidente não os devolveria em aviões da Cruz Vermelha.

A Rússia não tolerará mais intervenções secretas e provocações híbridas. Em vez disso, pretende processar os oficiais britânicos por participação em ações militares contra o seu território.

Reuniões fechadas de emergência estão a ocorrer atualmente na Grã-Bretanha para desenvolver uma estratégia de ação.

Especialistas observam que a Operação Skat-12 tornou-se parte da nova doutrina militar russa, que caminha “para o controle proactivo do campo de batalha”:

“Os primeiros ataques são realizados sem aviso prévio, a estratégia ofensiva é em todas as direções”. A Diretoria Principal de Inteligência (GRU) recebeu uma nova diretriz: “A Rússia não está mais à espera, estamos agindo primeiro”. A tarefa das forças especiais é atuar de forma secreta e eficaz, causando medo entre os oficiais da NATO, desmotivando-os na questão de prestar assistência às Forças Armadas da Ucrânia.

Quanto aos oficiais britânicos, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia declarou repetidamente a sua participação no treino dos militares ucranianos. Em particular, em Ochakov, região de Nikolaev – estão treinando sabotadores subaquáticos para operações nas águas dos Mares Negro e Azov. O trabalho está a ser realizado com base no centro de operações especiais “Sul”, em homenagem a Ataman A. Golovaty, das forças de operações especiais das Forças Armadas da Ucrânia em Ochakov. Além disso, de acordo com dados russos, instrutores militares britânicos treinaram as Forças Armadas Ucranianas. Forças para operar drones projetados para destruir navios.

Fonte adiconal aqui e ver ainda o vídeo abaixo.

25 julho 2025

EM DIRECTO: TENTATIVA DE CENSURA POR UM "COMENTADEIROZECO"

O Major-general Carlos Branco deixa a CNN

(Major-General Carlos Branco, in Facebook, 24/07/2025)


(Foram muitas as patifarias que fizeram ao Major-general Carlos Branco os pivôs da CNN e outros comentadores ignorantes, avençados e insolentes. Uma atuação orquestrada de bullying mediático com – pelo menos – o beneplácito da estação. Mas atingiram o objetivo: calar uma voz informada, isenta e desmistificadora da parcialidade e da propaganda disfarçada de notícia, que é a especialidade da CNN.

Uma perda para a livre liberdade de expressão independente e para a democracia. Bem haja, Major-general Carlos Branco. Os verdadeiros democratas estão consigo.

Estátua de Sal, 24/07/2025)


No seguimento da minha “entrevista” com Pedro Bello Moraes (PBM), no dia 10 de julho, na CNN Portugal, pelas 13 horas, em que este ultrapassou todos os limites da ética e da deontologia jornalística, sem posteriormente se retratar ou admitir o erro pela sua prestação vergonhosa, não me restava outra alternativa que não fosse a de cessar a minha colaboração com a CNN Portugal. Ficou evidente uma assimetria de papéis que tem de ter consequências e que eu não posso consentir.

Criou-se uma situação insustentável em que foram transpostas todas as linhas vermelhas que a paciência sem limites pode tolerar. Foi um péssimo exemplo, um caso daquilo que o jornalismo não pode nem deve ser. O desempenho medíocre e desastrado de PBM vai tornar-se num estudo de caso nas escolas de jornalismo, para se mostrar aos iniciados na carreira o que não se deve fazer, e como não se devem comportar quando se é ignorante e impreparado numa matéria.

O meu agradecimento ao Nuno Santos pelo convite que me fez há três anos para colaborar na análise do conflito ucraniano. A CNN foi pioneira em Portugal no convite a militares para analisarem/comentarem de forma continuada e sistemática situações de conflito, algo que já se fazia noutros países, em particular nos EUA, mas que foi mal recebido num meio que se julga “prá frentex” onde, infelizmente, ainda prevalece alguma inveja e provincianismo. Na altura, isso criou azia a muita gente. Primeiro estranhou-se, mas depois entranhou-se. Agora vários canais, copiando a CNN, recorrem a militares. O que há três anos era considerado, por alguns, um crime de lesa-pátria tornou-se normal, até mesmo incontornável para quem quiser estar no topo das audiências.

Gostaria de sublinhar que a CNN Portugal é a única cadeia de televisão que ainda permite diversidade de opiniões, num panorama nacional onde os laivos censórios se tornam cada vez mais evidentes, no qual se incluem os canais públicos.

O pensamento não alinhado com a propaganda imposta pelo mainstream corre o risco de se tornar delito.

Desejo votos de sucesso à CNN Portugal e aos que nela trabalham com afinco, elevado profissionalismo e dedicação. Não confundo a CNN com a mediocridade de PBM, colocado em horários em que ninguém vê televisão. Os períodos da grande audiência estão destinados a jornalistas com menos de metade da sua experiência profissional, mas indiscutivelmente com mais talento, algo que manifestamente falta a PBM.

A ausência nesta fase do comentário televisivo não significa o abandono da análise dos acontecimentos, que continuarei a fazer noutras plataformas, lembrando sempre que há mais marés do que marinheiros.

28 junho 2025

A guerra dos 12 dias

(Major-General Carlos Branco, in Jornal Económico, 27/06/2025)

Não deixa de ser insólito, no meio disto tudo, que os EUA tenham avançado rapidamente e do nada com o cessar-fogo, sem exigirem a celebração de qualquer acordo no âmbito nuclear.


Passados 12 dias de uma confrontação que envolveu inicialmente Israel e o Irão e, posteriormente, os EUA, chegou-se a um cessar-fogo, pelas sete horas de 24 de junho, com uma razoável probabilidade de se manter. Indicador disso é a normalização do quotidiano israelita, com a abertura do comércio e das escolas. É agora, pois, possível avaliar, com a informação já disponível, se os três objetivos políticos que Israel se propunha atingir foram alcançadas – destruição do programa nuclear, mudança do regime político e destruição da capacidade balística iraniana – e o que nos poderá reservar o futuro, decorrente desta primeira avaliação.

Tanto Israel como o Irão cantam vitória e assumem-se como vencedores. Uma leitura dos acontecimentos de maior granularidade leva-nos a outras conclusões. Podemos nesta altura afirmar, sem margem de erro, que apesar de terem sido operações taticamente brilhantes, tanto o ataque israelita como o americano foram estrategicamente inconsequentes.

Mesmo ainda sem dados para se avaliar com detalhe a gravidade dos danos, podemos afirmar que o programa nuclear iraniano foi afetado, mas não foi destruído. Contrariando as afirmações triunfalistas de Trump e de Netanyahu sobre o sucesso da operação, os serviços de inteligência dos EUA sugerem, numa avaliação preliminar, que os ataques não destruíram completamente as instalações nucleares iranianas. Parece que as infraestruturas críticas do ciclo do combustível nuclear não foram afetadas ou terão sofrido apenas danos menores. A confirmar isso, a ausência de sismos na região, provocados por explosões no subsolo. Neste sentido, alguma comunicação social hebraica veio dizer que “não foi Israel, mas os Estados Unidos, que atingiram o objetivo principal, atrasando o programa nuclear do Irão de 6 meses a 1 ano.”

No rescaldo das operações, parece que o regime dos aiatolas saiu reforçado, servindo a agressão para reunir a população em torno da sua liderança, mesmo aqueles que se lhe opunham ou lhe eram indiferentes. As mesquitas ficaram cheias como não se via há muito tempo. As minorias étnicas não se sublevaram. Falamos em particular das azeri e curda, esta última incentivada a fazê-lo pelo líder curdo iraquiano.

Confrontados com a impossibilidade de provocarem uma mudança do regime, Netanyahu e Trump vieram posteriormente dizer que isso não fazia parte do plano. Trump já não queria uma mudança de poder no Irão porque não desejava criar o “caos”. Por outro lado, o sistema balístico iraniano ficou longe de ter sido destruído.

Os EUA e Israel não pretendiam envolver-se numa guerra de atrito, que lhes iria ser desfavorável. Julgaram que o “choque e pavor” do ataque da primeira noite, ajoelharia o Irão e o levaria a sentar-se à mesa das negociações com os EUA, no dia 15 de junho, numa posição de extrema vulnerabilidade e pronto para assinar tudo o que lhe pusessem à frente.

Uma guerra prolongada daria vantagem ao Irão porque possui energia, matérias-primas, agricultura, etc., e também dimensão geográfica. Israel é um pequeno Estado de 20 mil quilómetros quadrados (mais pequeno que o Alentejo), enquanto o Irão tem cerca de 1 milhão e 650 mil. Em termos de área, Israel representa 1,2% do Irão.

Esta guerra veio provocar uma alteração qualitativa profunda no comportamento iraniano. Israel ficou a saber que futuros ataques ao Irão não ficarão sem resposta. As Forças de Defesa de Israel (FDI) destruíram a sua mística e perderam a reputação de invencibilidade que até aqui gozavam.

Apesar do seu poderoso sistema de intelligence, Israel subestimou a capacidade iraniana. Telavive julgou que o Irão estava mais fraco do que nunca a nível interno. Com base em acontecimentos anteriores, pensou que o Irão não iria responder, ou que o faria de um modo tímido, e que a guerra ia ser curta. O Irão iria ser, mais uma vez, humilhado.

Israel não só não conseguiu atingir os seus objetivos políticos como pagou caro a agressão ilegal ao Irão. Embora seja difícil ter uma noção exata dos danos causados pelo Irão, há factos indesmentíveis, como por exemplo, a destruição da capacidade portuária e aeroportuária israelita; a suspensão do comércio marítimo, as quebras generalizadas de energia elétrica, a economia devastada, etc. A Maersk suspendeu o trânsito pelo porto de Haifa, responsável por mais de 60% do comércio do país. As cidades israelitas arderam pela primeira vez. A isto junta-se a situação social no país causada pelas destruições causadas pelos mísseis iranianos.

Foi esta situação de debilidade, resultante dos ataques iranianos, que levou Telavive a pedir, mais uma vez, auxílio aos EUA. Desta vez, para negociar um cessar-fogo que terminasse com uma situação que se tinha tornado insustentável.
Os Estados Unidos

Embora não o reconheça publicamente, Israel está ciente das limitações da sua defesa aérea em deter os mísseis iranianos e da sua incapacidade em destruir o programa nuclear iraniano. O pedido de ajuda aos EUA visava envolvê-los diretamente no conflito, para fazerem aquilo que Telavive, por si só, não tinha possibilidade de realizar.

Se foram sempre claros os objetivos de Israel relativamente ao ataque ao Irão, o mesmo já não se pode dizer dos objetivos dos EUA. Descortinamos como possibilidade e em primeiro lugar, a do fim do programa nuclear iraniano, o que parece não ter corrido bem, apesar das declarações bombásticas de Trump e Netanyahu. Há rumores de que Washington teria informado Teerão antes dos ataques, o que complica ainda mais a análise, porque vem expor a falta de vontade dos EUA em defender o seu protetorado.

O ataque dos EUA às instalações nucleares iranianas foi seguido de ataques retaliatórios do Irão a várias instalações militares norte-americanas na região, em particular àquelas que se encontram sediadas no Catar, tendo sido as autoridades americanas previamente informadas. Teerão marcou, uma vez mais, a sua determinação em responder sempre que fosse atacado, ao mesmo tempo que evitou causar vítimas para não encurralar Trump e o empurrar para um maior envolvimento no conflito, algo que alegraria Netanyahu, mas em que Trump não estava nada interessado.

Com o ataque, Trump procurou agradar ao lobby israelita e aos setores belicistas do establishment político norte-americano, muitos instalados no partido republicano, mas, com a concretização do cessar-fogo a pedido de Telavive reconciliou-se com a sua base apoio. O seu discurso aparentemente errático, por vezes mal-entendido, refletiu a sua necessidade de satisfazer certos equilíbrios de poder internos.

Os ataques americanos às três instalações nucleares iranianas não só não impediram que Teerão desistisse do seu programa nuclear, como se poderão tornar num pretexto para Teerão se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear (o que foi já declarado pelo seu ministro dos negócios estrangeiros), rever a fatwa de 2003 e obter capacidade nuclear militar.

A decapitação da estrutura superior das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária provocada pelo insensato ataque israelita levou à ascensão dentro do regime da linha mais dura. Os militares vão ganhar mais poder e os gastos com a defesa aumentarão. Tudo isto poderia ter sido evitado, se tivesse sido levado por diante o que se encontrava na mesa de negociações entre os EUA e o Irão, antes do dia 13 de junho, isto é, a venda do urânio enriquecido a 60% a uma potência nuclear.

Não deixa de ser insólito, no meio disto tudo, que os EUA tenham avançado rapidamente e do nada com o cessar-fogo, sem exigirem a celebração de qualquer acordo no âmbito nuclear. Não terá sido apenas porque os israelitas tinham esgotado a sua defesa aérea, nos últimos dias incapaz de intercetar mais de cerca de 50% dos mísseis iranianos, passando estes a atingir as infraestruturas energéticas israelitas, uma vulnerabilidade bem conhecida de Israel, mas porque os danos passaram a ser incomportáveis. Só assim se explica a urgência de Israel em querer parar com os ataques.

O cessar-fogo não vai conduzir a conversações de paz e, por conseguinte, ao fim da guerra. Como afirmou o chefe do Estado-Maior israelita Eyal Zamir “a guerra não acabou — uma nova fase está para vir”, não sem dizer que Gaza continuará a ser a prioridade imediata. Poderão continuar as negociações entre os EUA e o Irão, mas não com Israel, que procurará manter com o Irão um modelo de relações semelhante ao que mantém com o Líbano. Não existirá um acordo de paz formal, mas um entendimento tácito de contenção e uma resposta militar cirúrgica, quando necessário.

Poderemos, pois, encontrar-nos perante uma alteração do modo como Israel fará a guerra no futuro. Em vez de optar por manter um confronto de atrito prolongado, em múltiplas frentes e com custos humanos e políticos elevados, Israel poderá optar por operações cirúrgicas e limitadas no tempo, mas com impacto estratégico. Falamos de golpes de precisão para enfraquecer a capacidade do inimigo, mas sem entrar num conflito total. Manterá a pressão e deterá os avanços do opositor, sem se envolver em guerras convencionais prolongadas.

Falamos de um arranjo funcional e pragmático que permita gerir o conflito sem resolver as suas causas. A situação de guerra não desaparecerá, mas transformar-se-á. Deixará de ser guerra total para se tornar uma gestão permanente e controlada da atrição, como a que se vive no Líbano. Este é o modelo que Israel procurará reproduzir. Nem vitória, nem paz, mas dissuasão e controlo permanente. Simultaneamente, Israel vai manter o equilíbrio de forças na região, evitando tanto a ascensão hegemónica xiita como a sua substituição por forças sunitas radicais.

14 junho 2025

O planeta inteiro está a ser mantido refém por um culto da morte

(Pepe Escobar, in Resistir, 14/06/2025)



Não é de admirar o envolvimento Washington .
Agora é o mestre do circo...

Vamos directos ao assunto. O ataque devastador ao Irão pelo genocida psicopatológico “escolhido” etno-supremacista montado em Telavive – uma declaração de guerra de facto – foi coordenado ao pormenor com o Presidente dos Estados Unidos, o Mestre de Circo Donald Trump.

Este Narciso afogado na piscina da sua própria imagem, afligido pelo infantilismo, revelou o jogo, ele próprio, num post divagante. Alguns destaques:

“Dei ao Irão oportunidade atrás de oportunidade para fazer um acordo”. Não há “acordo”; na verdade, são as suas exigências unilaterais. Afinal de contas, ele torpedeou o acordo original, o JCPOA, porque não era o seu “acordo”.

“Disse-lhes que seria muito pior do que tudo o que sabiam, previam ou lhes fora dito”. A decisão de atacar já havia sido tomada.

“Certos radicais iranianos falaram corajosamente, mas (…) agora estão todos MORTOS, e as coisas só vão piorar!” A vanglória vem com o território.

“Os próximos ataques já planeados serão ainda mais brutais.” Alinhamento total com a estratégia israelense de “decapitação”.

“O Irão tem de fazer um acordo, antes que não reste nada, e salvar o que já foi conhecido como o Império Iraniano”. Era Império Persa (itálico meu) – mas afinal este é um homem que não lê, nem estuda. Reparem na Arte da Diplomacia: Aceita o meu acordo ou morre.

Esta década – incandescente – foi lançada por um assassinato, do general Soleimani em Bagdade, como salientei no meu livro de 2021, Raging Twenties. Ele estava numa missão diplomática. O sinal verde veio pessoalmente do então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Os Raging Twenties são agora lançados à beira de uma guerra devastadora na Ásia Ocidental, com repercussões globais, pelo assassinato em série da liderança do IRGC, em Teerão, pela entidade sionista psico-genocida. Depois de um elaborado kabuki de enganos, a luz verde para Telavive – vá em frente e faça-o – veio também do Presidente dos Estados Unidos, Trump 2.0 (que afirmou estar “ciente” dos ataques). Uma guerra preventiva contra os BRICS

O plano genocida psicopatológico é forçar Teerão a capitular – sem sequer dar luta. O kabuki do preâmbulo foi executado com mestria. As negociações nucleares indirectas em Omã foram levadas a sério em Teerão, adormecendo os dirigentes iranianos, civis e militares. Caíram na armadilha e foram apanhados, literalmente, durante o sono.

O Ayatollah Khamenei – ele próprio em perigo físico, pois Israel está a aplicar o mesmo modelo de decapitação que desencadeou no Hezbollah – tem uma decisão muito difícil a tomar: capitulação ou guerra total. Será a guerra total – e com os EUA como participantes diretos.

A liderança iraniana – na verdade, mais a presidência Pezeshkian, repleta de proponentes de uma “acomodação” com o Ocidente – foi induzida a uma falsa sensação de segurança, esquecendo-se de que os assassinos em série não fazem diplomacia.

Por isso, o preço a pagar agora, pelo Irão, será ainda mais insuportável. Teerão responderá – assumindo que as capacidades ainda existem. Neste caso, a sua indústria petrolífera corre o risco de ser destruída. É uma questão em aberto saber se dois outros membros de topo dos BRICS, a par do Irão – a Rússia e a China –, por razões diferentes, permitirão que isso aconteça.

E se estivermos prestes a entrar neste território particularmente perigoso, o Irão pode jogar a última cartada: fechar o Estreito de Ormuz e fazer colapsar a economia mundial.

O ataque ao Irão, totalmente apoiado pelo Império do Caos, é acima de tudo um ataque preventivo ao núcleo energético dos BRICS. É parte integrante da guerra imperial contra os BRICS, especialmente a Rússia-China. Moscovo e Pequim devem estar a tirar as devidas conclusões em tempo real.

O Irão, a China e a Rússia estão ligados por parcerias estratégicas interligadas. No mês passado, estive no Irão a acompanhar os progressos do Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul (INSTC), que liga a Rússia, o Irão e a Índia. Este é apenas um entre uma série de projectos de infraestruturas estratégicas fundamentais que irão solidificar ainda mais a conetividade económica euro-asiática. Uma guerra devastadora na Ásia Ocidental e um Irão em colapso representarão um golpe fatal para uma maior integração da Eurásia.

É exatamente isso que convém aos desígnios do Império.

Por isso, não é de admirar que Washington esteja a apostar tudo. Esta é agora a Guerra do Circo do Picadeiro.
Uma resposta devastadora; uma arma nuclear; ou a capitulação

A mensagem de Teerão é: “Não começámos a guerra, mas o Irão determinará o seu fim”. 
A grande questão é saber se o Irão ainda mantém uma capacidade dissuasora – e ofensiva – significativa.

Os genocidas estão a atingir à vontade os sistemas de armazenamento de mísseis balísticos no noroeste do Irão e até o aeroporto civil de Mehrabad, em Teerão. As defesas aéreas não estão em lado nenhum. É extremamente doloroso assistir a isto.

As informações das IDF – nada verificado até agora – afirmam que alguns silos de mísseis e complexos móveis foram destruídos mesmo antes de serem colocados em alerta de combate. No entanto, o facto é que a esmagadora maioria do vasto arsenal de mísseis balísticos do Irão está armazenada em silos e túneis subterrâneos profundos, capazes de resistir a ataques aéreos maciços e a defesas aéreas sobrecarregadas.

De momento, Teerão está assustadoramente silencioso. Isso faz sentido, porque eles precisam, em tempo recorde, de restabelecer uma cadeia de comando unificada que foi esmagada pelos ataques; certificar-se de que os lançadores de mísseis podem ser colocados no terreno e não ser neutralizados pela supremacia aérea israelense; reorganizar a operação True Promise 3, que estava pronta para ser lançada, como alguns de nós aprendemos em Teerão no mês passado, mas agora adaptada à nova situação (incluindo as perdas); e planear como desferir golpes dolorosos na infraestrutura económica de Israel.

Não há provas de que os ataques tenham destruído as infraestruturas nucleares do Irão – que estão enterradas no subsolo. A liderança em Teerão está a aprender da maneira mais difícil que a diplomacia – comités, cartas à ONU, declarações à AIEA, reuniões ministeriais – tudo isso é eviscerado quando se trata da lei da selva.

Os iranianos foram suficientemente ingénuos para deixar a AIEA visitar os seus locais estratégicos, quando os proverbiais espiões recolheram toda a informação necessária para facilitar os ataques israelenses. A RPDC nunca teria caído numa tal armadilha.

A eliminação de uma figura de topo como Ali Shamkhani, o principal conselheiro de Khamenei, o principal negociador nuclear do Irão, com décadas de influência no IRGC e no aparelho de informações, é um golpe sério.

A eliminação sistemática da liderança militar e diplomática do Irão numa questão de horas enquadra-se na lógica de esmagar o círculo próximo de Khamenei. Isso começou há muito tempo com a morte de Soleimani, ordenada por Trump, e inclui certamente a morte misteriosa do antigo Presidente Raisi e do Primeiro-Ministro Abdollahian naquele “acidente” de helicóptero duvidoso. É tudo uma questão de criar as condições para a mudança de regime.

Numa rara nota auspiciosa, o IRGC deu a conhecer, antes dos ataques, que tem estado a desenvolver uma tecnologia secreta para intensificar o impacto dos seus mísseis sobre Israel.

Agora somos todos cavaleiros da tempestade. Mais uma vez, não há saída: ou um golpe devastador para os psicopatas genocidas, ou o Irão monta uma arma nuclear num instante. A terceira opção é a capitulação, a emasculação e a mudança de regime.

Entretanto, todo o planeta está refém de uma ameaça letal. Andrea Zhok é professor de Filosofia Moral na Universidade de Milão e, para além das suas brilhantes análises, escreveu o prefácio da edição italiana do meu livro Raging Twenties, publicado no ano passado.

Zhok salientou sucintamente como nenhuma construção política na história moderna acumulou uma combinação tóxica de supremacismo étnico messiânico; desprezo supremo pela vida humana (todos os outros, não “escolhidos”, são “amalequitas” de qualquer forma); desprezo supremo pelo direito internacional; e acesso ilimitado ao poder de fogo letal.

O que fazer então com um culto da morte tão voraz e fora de controlo?



PUBLICADO POR: Blogue Estátua de Sal
Junho 14, 2025 estatuadesal Geopolítica, Guerra, irão, Israel, Ocidente, Política Internacional

20 março 2025

Defesa da Europa, por: D. Quixote de La Mancha e Sancho Pança

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 20/03/2025)

“Precisamos de uma mentalidade de defesa europeia a todos os níveis na Europa”, disse Costa durante a 164.ª sessão plenária do Comité das Regiões Europeu. repetiu o “mantra” da Europa ameaçada pela Rússia para justificar as colossais despesas em material de guerra previstas para os próximos anos e que, na verdade, servem para compensar a perda de lucros dos grandes grupos resultantes da perda de competitividade dos produtos europeus no mercado mundial, resultante em boa parte da política de substituição da energia barata importada da Rússia pela energia cara importada dos EUA, e da perda de mercados do antigo Terceiro Mundo para a China. “A guerra da Rússia contra a Ucrânia tem sido um ato de agressão, causando sofrimento humanitário. Mas também ameaçador para a segurança europeia”, alertou, ao defender que “nada sobre a guerra contra a Ucrânia pode ser decidido sem a Ucrânia” e que é necessário “intensificar os esforços para construir uma Europa da Defesa”, acrescentou.

O sr. Costa considerou que é necessária a “confiança dos cidadãos*” na capacidade de a Europa os defender. (*pagantes)

Mas defender de quem?

Este mantra assenta num conjunto de sofismas — isto é, de deturpações grosseiras. O primeiro é o da ameaça russa. A Rússia nunca atacou a Europa, e Europa é um conceito muito plástico e utilizado segundo as conveniências do pregador. A Rússia faz parte da Europa e da sua história e esteve envolvida nos conflitos europeus como todas as outras potências, da Suécia aos império austro-húngaro, e franco-prussiano, da França à Espanha e à Polónia.

A nova Europa é uma entidade criada pelos dirigentes europeus perdidos entre o final da administração Biden e o início da administração Trump e que ficaram na situação das moscas que caíram numa mancha de óleo se agitam muito sem sair do mesmo sitio. Esta Europa sem formas definidas é Bruxelas e é um produto dos funcionários de Bruxelasque andam em palpos de aranha para justificarem a existência e, mais difícil ainda, a sua utilidade.

Em desespero de perdas, a oligarquia europeia recorreu à velha solução da guerra e dos armamentos e colocou os seus agentes nos mais altos cargos da União Europeia a vender a ideia da invasão russa, da reconversão das fábricas de automóveis em tanks e das de latas de conserva em cartuchos dos operários em soldados.

A ideia seria boa, se não obrigasse os europeus a comprar um pacote de burlas tão valiosas como garrafas de ar de Fátima e a assumirem serem mentecaptos ou peregrinos chegados a um santuário de realidade virtual. 

Em Dom Quixote de La Mancha, Cervantes antecipou este delírio de ver castelos em moinhos, legiões em procissões, mas não chegou à desfaçatez de impor o pagamento do Rocinante, nem da lança de combate!

Na realidade, a Rússia, após três anos de invasão da Ucrânia, avançou 200 quilómetros e segundo informações ocidentais está próxima de atingir o máximo de potencial militar sustentável pela sua economia. A distância de Kiev a Paris é de 2400 quilómetros. O que significa que a este ritmo a Rússia necessitaria de 36 anos para atingir o centro da Europa. É evidente que esta contabilidade apenas serve para realçar o absurdo do tipo de argumentos dos armamentistas.

A desonestidade dos dirigentes europeus revela-se no que omitem e manipulam: a Ucrânia deixou de ter interesse enquanto objetivo militar e económico. Para a Rússia não serve de corredor de ataque à “Europa”, como revelam as dificuldades em avançar, mas também não serve para a “Europa”, mesmo rearmada, invadir a Rússia e conseguir o que nem Napoleão nem Hitler conseguiram, como o falhado contra ataque ucraniano apesar do maciço apoio ocidental demonstrou. Economicamente, as matérias-primas, os terrenos valiosos e infraestruturas já foram negociados pelo Reino Unido e principalmente pelos EUA. A Rússia, pelo seu lado, possui em quantidade todas as matérias-primas existentes na Ucrânia e basta-lhe o controlo dos portos do Mar Negro. O saque da Ucrânia está negociado entre os EUA e a Rússia. Assistimos apenas a cenas de disfarce que permitam à Ucrânia e à nova Europa saírem de cena sem humilhação. O anúncio do rearmamento da Europa faz parte da comédia de enganos com que os dirigentes europeus estão a iludir os europeus. Acontece que é um caríssimo número de ilusionismo.

Também não se vislumbra o interesse da Rússia em “invadir” a nova Europa que não dispõe de matérias-primas, que é um anão nuclear, que não domina tecnologias exclusivas, caso da Inteligência Artificial*, que não tem presença significa no espaço nem nas redes de informação e comunicação, que é vista pelo resto do mundo como uma antiga potência colonial, um anexo dos EUA ou um resto abandonado por estes, o que ainda é mais humilhante, o que ainda torna mais absurda a despesa em armamento para se defender de quem não vê vantagens na sua conquista, a Rússia, que compraria um saco de gatos historicamente causadores de perturbações locais e mundiais.

O rearmamento da Europa faz tanto sentido como comprar uma armadura e um arreio de prata para um burro velho e convencer os pagantes de que têm ali um cavalo de batalha que os defenderá de um inimigo imaginário. O Dom Quixote de La Mancha antecipou este cenário

* que não é inteligência mas um mecanismo informático em modelos de linguagem de grande escala.(Large Language Model ou LLM) 

RÚSSIA PARA AUMENTAR TERRITÓRIO PODE INVADIR AS BERLENGAS ! 

"... e as aldrabices da Ursula" 

16 março 2025

UCRÂNIA: Cessar-fogo?

Sim, mas com as condições da Rússia

(Miguel Castelo Branco, in Facebook, 13/03 de 2025, Revisão da Estátua)



Sentado à mesa da sala a trabalhar desde as 8 horas, vou seguindo a frenética ciranda de propagandistas, cada um mais macambúzio que os outros, uns de asa caída, outros ainda agarrados à tábua de salvação que anima os fantasistas. Particular nota para o desespero de Ferro Gouveia que vê o seu mundo de Alice desfazer-se e já nem disfarça.

Esta gente estava à espera que o dia terminaria com a submissão de Putin aos caprichos da delegação norte-americana enviada ao Kremlin, consubstanciada numa insólita cessação das hostilidades que era, obviamente, uma armadilha para a Rússia triunfante.

Elegantemente, disseram-lhes que nem pensar e que não haverá qualquer interrupção das hostilidades até que todos se sentem à volta da mesa onde será firmado o tratado reconhecido internacionalmente, pelo qual a Ucrânia será um Estado neutral, cederá pelo menos quatro oblasts e reconhecerá a soberania russa sobre a Crimeia. Além do mais, a Rússia retirará as suas armas nucleares da Bielorrússia e em contrapartida não haverá na Polónia, nos países bálticos, na Finlândia, na Noruega na Suécia quaisquer vetores nucleares.

Talvez, a firmeza russa resida no conhecimento que a administração americana possuirá do iminente colapso militar ucraniano, da incapacidade de os europeus ocidentais poderem dar seguimento à transferência de armas e de os EUA estarem à beira de uma grave crise de reservas em munições.

Os russos sabem-no, esperaram pacientemente e há dias ofereceram um singelo vislumbre do seu potencial ao derrotarem num movimento imparável e vertiginoso a frente norte ucraniana.

 Com o passar das horas, as fotos a que vamos acedendo mostram a extensão do desastre. Cerca de 700 peças – de artilharia, morteiros pesados, carros blindados, viaturas de transporte de infantaria, carros de combate e veículos de engenharia militar – caíram intactas em mãos russas.

Foi uma debandada tão manifesta que tudo se inclina para a possibilidade de dezenas de milhares terem simplesmente abandonado os seus postos, armas, munições e até reservas de combustível e fugido. Entre essas centenas de troféus passeiam-se despreocupados os jornalistas russos.