03 agosto 2008

SEMI-PRESIDENTES

Com uma atitude constrangida e irritadiço, o prof. Cavaco Silva realizou às 20h00 do dia 31 de Julho de 2008 um brilhante exercício de não comunicação em que o som de fundo poderia ser O papel Principal, de Adelaide Ferreira. Concordo com as várias tonalidades do que atrás escreveram João Gomes e o Paulo Ferreira, João Maria Condeixa e Tiago Alexandre. A pequena novela açoriana lá foi desfiada com um jargão jurídico de um assessor que terá tido 11 a Direito Constitucional e 5 em Marketing Político...e à segunda tentativa. Que Casa Civil! Poderiam, noutra galáxia ao menos, passar imagens da "Ilha dos Amores" que Carlos César em devido tempo subsidiou com 350.000 euros.
(1 de Agosto de 2008)
por Mendo Castro Henriques

É assim a silly season com the silliest beginning I ever saw.Um Presidente da República que não comunica mas que está atento às putativas bicadas na sua autoridade. 
Um candidato implausível à noite do star tracking no Campo pequeno mas que entra e sai aborrecido, como num filme dos irmãos Marx, e espera pela deixa dos jornalistas. Um Presidente da República que fala com o innuendo "contem comigo durante os vossos sonhos de férias" mas que se esqueceu de comunicar com a pátria e o povo - o João tem razão. Um Presidente da República que se esqueceu de uma crise internacional, complexa, pesada, mutante e mesmo metastática que se vai adensando, fora e dentro de nós. Um Presidente da República com uma concepção ferroviária do discurso político que desfila de modo ignobilmente previsível pelos carris que outros lhe assentaram. Um Presidente da República que se prepara para ser o “árbitro das deselegâncias” quando em 2009 nenhum partido tiver a maioria absoluta. Um Presidente da República que dá sinais de que a República está doente. Ouvi-lo foi mais do que a lei obriga. Desatendê-lo foi um imperativo de bom senso e bom gosto. E metade do país deve ter desligado passados 2 ou 3 minutos, como naquelas partidas de futebol em que o jogo já está perdido mas também não é muito importante. Tudo isto é aberrante e o contrário do que se espera de quem é o rosto de Portugal.Donde os comentários muito certeiros que aqui vi no CC de que queriam um semi presidencialismo com uns poderes assim-assim e pronto: têm-no. Infelizmente eu acho que é pior. É que a degradação das escolhas públicas à nossa volta revela que é pior que um semi-presidencialismo; é um semi-presidente. Tenho o maior respeito pela personalidade do Prof. Cavaco Silva. Sei que foi um governante impoluto, por debatíveis que fossem as suas políticas. Mas fiquei envergonhado com a figura do meu Presidente da República, como quando alguém diz asneiras de que não temos culpa. Fiquei constrangido com alguém que cria um tabu de 12 horas para um anúncio grave ao país e no fim sai-se com esta novela, tipo Pedro e o Lobo. Fiquei embaraçado não porque nele tenha votado mas porque assim o elegeu o povo a que pertenço e ele é o meu Presidente. Mas desde hoje, ele é o meu semi-Presidente e Portugal merece melhor!
Mendo Castro Henriques

Fonte: http://camaradecomuns.blogs.sapo.pt/