20 maio 2008

O povo entre a nobreza



Entrevista a: Jorge Costa Rosa, Presidente da Real Associação do Ribatejo e dirigente da Causa Real




Como é ser monárquico num regime republicano? Ser monárquico num regime republicano não me faz grande diferença. Uma coisa é a convicção das nossas ideias e outra é o respeito pelas instituições. Já disse muitas vezes que não quero uma monarquia passada, quero uma monarquia do século XXI. Entendo que a monarquia é a alternativa para a República.


E acredita que essa alternativa pode ser posta em prática no nosso país daqui a duas ou três gerações? Penso que sim. É possível à medida que a República começa a não conseguir unir a nação portuguesa. Quando se encontra a maior clivagem entre os portugueses é precisamente na Eleição Presidencial. A maior parte do país divide-se entre dois votos. Mais tarde ou mais cedo as pessoas vão começar a olhar para a causa monárquica como uma alternativa à República.Mas o movimento monárquico também não parece muito unido.


Há várias facções e vários pretendentes ao trono. Isso não descredibiliza a causa? Pode tirar alguma credibilidade. Mas a história portuguesa foi feita de muitas divisões e a sucessão foi sempre muito disputada. Basta lembrar a crise de 1383-1385 ou a disputa entre D. Miguel e D. Pedro IV, que veio separar ainda mais os monárquicos. É pois natural que os monárquicos tenham facções.


Entristece-o que os monárquicos estejam divididos? De alguma forma sim. Porque um movimento que se pretende mostrar como alternativa ao regime vigente perde força. Já não basta termos os republicanos com ideias contrárias, como ainda por cima dentro da mesma ideologia ter pessoas que não estão de acordo connosco pelo menos na questão da sucessão. No entanto, tudo isto aconteceu ultimamente. Na altura do casamento de D. Duarte não havia problemas. Até que houve uma figura que se lembrou de os criar.


Está a falar do fadista Nuno da Câmara Pereira? Sim. Quando se começa a não ter meios para conseguir vender mais discos…


Acha que é uma estratégia de auto-promoção? Tenho a certeza que é uma estratégia de auto-promoção.


Custa-lhe ver Nuno da Câmara Pereira na bancada do seu partido na Assembleia da República? Não. Custa-me é ver oportunistas a terem oportunidade de gerir o futuro do povo. E o Nuno da Câmara Pereira é um caso puro de oportunismo.


Tem algum disco dele? Não gosto de fado. Não deixa de ser irónico que a principal facção contestatária da legitimidade de Duarte Pio esteja no Partido Popular Monárquico (PPM).O PPM estava desactivado desde a formação do Partido da Terra. Fez-se até um congresso para liquidar o partido, porque com o aparecimento das Reais Associações as pessoas começaram a juntar-se nelas. Quando Nuno da Câmara Pereira se incompatibiliza com o Sr. D. Duarte essa clivagem vai aumentando de tom e Nuno da Câmara Pereira tem necessidade de aparecer em púbico para se afirmar. E viu na restauração do PPM uma forma de ganhar esse tempo de antena.


Como surgiu a sua simpatia pela causa monárquica? Era uma tradição familiar? Não. O meu avô dizia-se nacionalista e foi combatente na 1ª Guerra Mundial. Nunca o ouvi falar no rei ou no regicídio. O meu pai sempre foi uma pessoa identificada com uma forma de viver e de trabalhar do regime de antes do 25 de Abril. Fez parte de muitas discussões de café, fez parte de um grupo chamado CDE, tinha uma série de amigos dos dois lados da barricada.


Como aparece a questão monárquica na sua vida? Aparece quando começo a estudar os sistemas políticos e de alguma forma identifico-me com a história portuguesa. O regicídio é um acto terrorista. Se hoje um radical monárquico pegasse numa espingarda e premeditasse o assassinato do Presidente da República gostaria de saber como isso seria visto. Não podia ser visto de outra forma que não como um acto terrorista. Não é só pelo facto de ser o rei, o que está em causa é o assassinato do Chefe de Estado. Por isso defendemos o 1 de Fevereiro como dia de luto nacional.


Não deve ser o povo a escolher o representante máximo do país? Em primeiro lugar, acho que o povo devia escolher se quer viver em República ou em Monarquia. Saber se o povo quer continuar numa República que, de alguma forma, lhe foi imposta pela lei da força. Como diz o Paulo Teixeira Pinto, nós temos a convicção de que somos monárquicos e por que é que o somos, mas os republicanos não têm convicção por que é que o são. São porque enfim…


Como é que lida com os símbolos da República, como a bandeira e o hino? Não tenho qualquer problema.Costuma cantar o hino nacional?Sempre. O hino já existia antes de 1910 e foi adaptado. Quanto à bandeira acho que seria mais bonita se continuasse a ser azul e branca. Mas esta é a minha bandeira, ponham lá a coroa em cima e está tudo bem.


João Calhazfonte:

O MIRANTE